São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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Falta de polícia "impulsiona" tráfico no PR

Estrutura das polícias Federal, Civil e Militar e do Ministério Público é precária em cidade na divisa com o Paraguai

Na última segunda-feira, 15 pessoas morreram em chacina no município, uma das principais rotas de entrada de maconha no país


JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA

A falta de estrutura policial na região de Guaíra (662 km de Curitiba), no fim do lago de Itaipu, tem permitido que o município fronteiro ao Paraguai se firme como uma das principais rotas de entrada de maconha no Brasil.
O avanço do tráfico tem como conseqüência o aumento na criminalidade, exposto na última segunda-feira pela maior chacina da história do Paraná, com 15 pessoas mortas em briga entre traficantes brasileiros, segundo o governo do Estado.
Paradoxalmente, uma amostra da precariedade no combate ao crime organizado na região está na inauguração em Guaíra, no próximo dia 22, de uma unidade do Nepom (Núcleo Especializado de Polícia Marítima) da Polícia Federal.
Apesar da inauguração, nenhum novo agente irá para a cidade, que continuará com 31 agentes, cinco delegados e cinco escrivães. "É complicado, porque você terá mais uma unidade, mas o mesmo pessoal", diz o delegado Érico Saconatto, responsável pela PF em Guaíra.
Nos dois últimos anos, o aperto na fiscalização alfandegária em Foz do Iguaçu -com exame de 100% dos produtos que deixam o Paraguai pela ponte da Amizade- fez as quadrilhas de contrabando migrarem para Salto del Guairá (Paraguai), separada de Guaíra pelo lago de Itaipu.
Após se consolidar como nova rota do contrabando, a região se destaca como porta de entrada de drogas, sobretudo maconha. Só a PF em Guaíra apreendeu 18 t da droga em 2007 -neste ano, foram 12 t.
Considerando projeção da PF e da Receita Federal de que as apreensões representam 10% do que entra, 120 t de maconha já teriam ingressado no país por Guaíra neste ano. Os destinos: São Paulo e Rio.
Para coibir o impulso do crime na região, o novo núcleo da PF em Guaíra teria que patrulhar 150 km lineares no lago de Itaipu e no rio Paraná, entradas do contrabando de cigarros e de drogas. São 260 km se considerado o Parque Nacional de Ilha Grande, que precisa ser policiado de leste (PR) a oeste (MS).
O superintendente da PF no Paraná, Delci Teixeira, disse que prepara "medidas" para aumentar o efetivo na região.
A falta de estrutura não afeta somente a PF, mas as polícias Civil e Militar e o Ministério Público do Paraná, esse com apenas dois promotores em Guaíra. "Pela posição estratégica, seriam necessários ao menos uma Vara da Justiça Federal e a Procuradoria da República na cidade", disse o chefe-de-gabinete da Prefeitura de Guaíra, Carlos Alberto Leite.
A Polícia Civil local se resume a dois delegados, dois escrivães e poucos investigadores -o número não foi revelado.
A polícia contabilizava anteontem 211 presos sob sua guarda, em uma carceragem para 52 presos. Desse total, cerca de 40%, diz a polícia, vêm de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Com 28,6 mil habitantes, Guaíra tem quase o dobro dos 110 presos de Toledo, com 109 mil pessoas, ao qual a polícia local é subordinada. Toledo não está na rota da maconha.
Em Umuarama (599 km de Curitiba), cidade de 90 mil moradores e no circuito de escoamento das drogas do Paraguai, a delegacia abrigava 201 presos.
"Mas não é só Umuarama. Os 28 municípios da nossa subdivisão policial estão com superlotação carcerária", diz o delegado operacional de Umuarama, Fernando Martins.
Doze prefeitos da região pedem ao Estado a instalação de uma companhia da PM para patrulhar os municípios do lago de Itaipu. Hoje em Guaíra há 43 PMs -oito deslocados para vigiar propriedades rurais.
O secretário da Segurança Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, disse que estuda remanejar policiais civis e militares para a região de Guaíra. Afirmou que o governo dobrou em um ano o número de PMs na cidade. Sobre criar uma companhia de fronteira da PM na região, disse que aumentar o efetivo pode ser a solução.


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