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Falta de polícia "impulsiona" tráfico no PR
Estrutura das polícias Federal, Civil e Militar e do Ministério Público é precária em cidade na divisa com o Paraguai
Na última segunda-feira, 15
pessoas morreram em
chacina no município, uma
das principais rotas de
entrada de maconha no país
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA
A falta de estrutura policial
na região de Guaíra (662 km de
Curitiba), no fim do lago de
Itaipu, tem permitido que o
município fronteiro ao Paraguai se firme como uma das
principais rotas de entrada de
maconha no Brasil.
O avanço do tráfico tem como conseqüência o aumento na
criminalidade, exposto na última segunda-feira pela maior
chacina da história do Paraná,
com 15 pessoas mortas em briga entre traficantes brasileiros,
segundo o governo do Estado.
Paradoxalmente, uma amostra da precariedade no combate
ao crime organizado na região
está na inauguração em Guaíra,
no próximo dia 22, de uma unidade do Nepom (Núcleo Especializado de Polícia Marítima)
da Polícia Federal.
Apesar da inauguração, nenhum novo agente irá para a cidade, que continuará com 31
agentes, cinco delegados e cinco escrivães. "É complicado,
porque você terá mais uma unidade, mas o mesmo pessoal",
diz o delegado Érico Saconatto,
responsável pela PF em Guaíra.
Nos dois últimos anos, o
aperto na fiscalização alfandegária em Foz do Iguaçu -com
exame de 100% dos produtos
que deixam o Paraguai pela
ponte da Amizade- fez as quadrilhas de contrabando migrarem para Salto del Guairá (Paraguai), separada de Guaíra pelo lago de Itaipu.
Após se consolidar como nova rota do contrabando, a região se destaca como porta de
entrada de drogas, sobretudo
maconha. Só a PF em Guaíra
apreendeu 18 t da droga em
2007 -neste ano, foram 12 t.
Considerando projeção da
PF e da Receita Federal de que
as apreensões representam
10% do que entra, 120 t de maconha já teriam ingressado no
país por Guaíra neste ano. Os
destinos: São Paulo e Rio.
Para coibir o impulso do crime na região, o novo núcleo da
PF em Guaíra teria que patrulhar 150 km lineares no lago de
Itaipu e no rio Paraná, entradas
do contrabando de cigarros e de
drogas. São 260 km se considerado o Parque Nacional de Ilha
Grande, que precisa ser policiado de leste (PR) a oeste (MS).
O superintendente da PF no
Paraná, Delci Teixeira, disse
que prepara "medidas" para
aumentar o efetivo na região.
A falta de estrutura não afeta
somente a PF, mas as polícias
Civil e Militar e o Ministério
Público do Paraná, esse com
apenas dois promotores em
Guaíra. "Pela posição estratégica, seriam necessários ao menos uma Vara da Justiça Federal e a Procuradoria da República na cidade", disse o chefe-de-gabinete da Prefeitura de
Guaíra, Carlos Alberto Leite.
A Polícia Civil local se resume a dois delegados, dois escrivães e poucos investigadores
-o número não foi revelado.
A polícia contabilizava anteontem 211 presos sob sua
guarda, em uma carceragem
para 52 presos. Desse total, cerca de 40%, diz a polícia, vêm de
São Paulo e do Rio de Janeiro.
Com 28,6 mil habitantes,
Guaíra tem quase o dobro dos
110 presos de Toledo, com 109
mil pessoas, ao qual a polícia local é subordinada. Toledo não
está na rota da maconha.
Em Umuarama (599 km de
Curitiba), cidade de 90 mil moradores e no circuito de escoamento das drogas do Paraguai,
a delegacia abrigava 201 presos.
"Mas não é só Umuarama. Os
28 municípios da nossa subdivisão policial estão com superlotação carcerária", diz o delegado operacional de Umuarama, Fernando Martins.
Doze prefeitos da região pedem ao Estado a instalação de
uma companhia da PM para
patrulhar os municípios do lago
de Itaipu. Hoje em Guaíra há 43
PMs -oito deslocados para vigiar propriedades rurais.
O secretário da Segurança
Pública do Paraná, Luiz Fernando Delazari, disse que estuda remanejar policiais civis e
militares para a região de Guaíra. Afirmou que o governo dobrou em um ano o número de
PMs na cidade. Sobre criar uma
companhia de fronteira da PM
na região, disse que aumentar o
efetivo pode ser a solução.
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