São Paulo, sábado, 27 de setembro de 2008

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Facção recruta jovens na região para transportar drogas para o tráfico carioca

DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA E SALTO
DEL GUAIRÁ

Para o governo do Paraná, a chacina de segunda-feira em Guaíra -com 15 mortos e oito feridos- foi um fato isolado. O episódio, contudo, revela um retrato da criminalidade crescente na região, marcada pela união comercial entre as facções criminosas PCC (Primeiro Comando da Capital), de São Paulo, e CV (Comando Vermelho), do Rio.
Entre os mortos havia dois "soldados" ligados ao CV na favela carioca da Rocinha, Robert Ramom Rios e Reinaldo Martins Melo. "Ligaram do Rio ao IML [Instituto Médico Legal] identificando o Melo e avisando que iriam buscar os corpos. Se identificaram como familiares, mas afirmaram que eles eram do CV", disse o delegado-chefe de Guaíra, Pedro Lucena.
A companheira de Rios, uma adolescente que sobreviveu à chacina, disse à Folha que o acompanhara até Guaíra porque ele precisava resolver "problemas na entrega de mercadorias". Segundo ela, antes de viver por um ano na Rocinha, Rios operava para o PCC em Ribeirão Preto (SP).
A superlotação nas carceragens da região é campo fértil para o recrutamento de pequenos traficantes pelo PCC, diz o delegado federal Érico Saconatto. "Eles agem como uma espécie de maçonaria. "Batizam" os presos e esses começam a contribuir e a trabalhar para a organização ao deixarem a cadeia."
O alvo preferencial do PCC são jovens presos com pequenas porções de drogas. A conexão com a facção é interessante para esses jovens, diz Saconatto, pela aquisição de status em relação aos outros presos.
A promotora Nadir de Melo, de Guaíra, disse que recentemente teve que pedir a transferência de dois presos do PCC, por conta do perigo que ofereciam. "Mas eles não assumem pertencer ao grupo nos interrogatórios, é uma coisa mais informal, nos cárceres."

Beira-Mar
Com mão-de-obra disponível, o PCC se alia ao CV do traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, para transportar drogas até grandes centros consumidores, especialmente Rio de Janeiro e São Paulo. Pela origem dos presos na região, a droga chega também em grande escala a Minas Gerais e ao Espírito Santo.
Se o PCC tem a mão-de-obra, o CV de Beira-Mar controla a produção e a distribuição de maconha em dois Departamentos -o equivalente a Estados- paraguaios, Canindeyú e Amambay.
Agentes da Senad (Secretaria Nacional Antidrogas) da Polícia Nacional paraguaia disseram à Folha que Beira-Mar mantém plantações de maconha nos municípios de Salto del Guairá (Canindeyú), Capitán Bado e Pedro Juan Caballero (Amambay).
Para o superintendente da Polícia Federal no Paraná, Delci Teixeira, o domínio do grupo de Beira-Mar sobre a maconha no Paraguai começou em 2001, a partir da morte de três integrantes da família Morel.
Apontado pela CPI do Narcotráfico como o "rei da maconha", João Morel foi morto em 21 de janeiro de 2001, quando estava preso em Campo Grande. Ele estava detido desde março de 2000, em ação comandada por Teixeira, então na PF de Mato Grosso do Sul
Dois filhos de Morel -Ramão Cristobal e Mauro Ezequiel Morelem- foram mortos oito dias antes do pai, em um sítio da família em Capitán Bado, município paraguaio que faz fronteira seca com Coronel Sapucaia (MS).
A organização de Beira-Mar, segundo a Senad paraguaia, opera ainda com cocaína e pasta-base da droga, em associação com grupos colombianos, a partir do norte do Departamento de Amambay. No lado brasileiro, a principal base de operações com cocaína do grupo é Amambai (MS).


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