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Facção recruta jovens na região para transportar drogas para o tráfico carioca
DA AGÊNCIA FOLHA, EM GUAÍRA E SALTO
DEL GUAIRÁ
Para o governo do Paraná, a
chacina de segunda-feira em
Guaíra -com 15 mortos e oito
feridos- foi um fato isolado. O
episódio, contudo, revela um
retrato da criminalidade crescente na região, marcada pela
união comercial entre as facções criminosas PCC (Primeiro
Comando da Capital), de São
Paulo, e CV (Comando Vermelho), do Rio.
Entre os mortos havia dois
"soldados" ligados ao CV na favela carioca da Rocinha, Robert
Ramom Rios e Reinaldo Martins Melo. "Ligaram do Rio ao
IML [Instituto Médico Legal]
identificando o Melo e avisando que iriam buscar os corpos.
Se identificaram como familiares, mas afirmaram que eles
eram do CV", disse o delegado-chefe de Guaíra, Pedro Lucena.
A companheira de Rios, uma
adolescente que sobreviveu à
chacina, disse à Folha que o
acompanhara até Guaíra porque ele precisava resolver "problemas na entrega de mercadorias". Segundo ela, antes de viver por um ano na Rocinha,
Rios operava para o PCC em
Ribeirão Preto (SP).
A superlotação nas carceragens da região é campo fértil
para o recrutamento de pequenos traficantes pelo PCC, diz o
delegado federal Érico Saconatto. "Eles agem como uma
espécie de maçonaria. "Batizam" os presos e esses começam a contribuir e a trabalhar
para a organização ao deixarem
a cadeia."
O alvo preferencial do PCC
são jovens presos com pequenas porções de drogas. A conexão com a facção é interessante
para esses jovens, diz Saconatto, pela aquisição de status em
relação aos outros presos.
A promotora Nadir de Melo,
de Guaíra, disse que recentemente teve que pedir a transferência de dois presos do PCC,
por conta do perigo que ofereciam. "Mas eles não assumem
pertencer ao grupo nos interrogatórios, é uma coisa mais
informal, nos cárceres."
Beira-Mar
Com mão-de-obra disponível, o PCC se alia ao CV do traficante Luiz Fernando da Costa,
o Fernandinho Beira-Mar, para
transportar drogas até grandes
centros consumidores, especialmente Rio de Janeiro e São
Paulo. Pela origem dos presos
na região, a droga chega também em grande escala a Minas
Gerais e ao Espírito Santo.
Se o PCC tem a mão-de-obra,
o CV de Beira-Mar controla a
produção e a distribuição de
maconha em dois Departamentos -o equivalente a Estados- paraguaios, Canindeyú e
Amambay.
Agentes da Senad (Secretaria
Nacional Antidrogas) da Polícia Nacional paraguaia disseram à Folha que Beira-Mar
mantém plantações de maconha nos municípios de Salto
del Guairá (Canindeyú), Capitán Bado e Pedro Juan Caballero (Amambay).
Para o superintendente da
Polícia Federal no Paraná, Delci Teixeira, o domínio do grupo
de Beira-Mar sobre a maconha
no Paraguai começou em 2001,
a partir da morte de três integrantes da família Morel.
Apontado pela CPI do Narcotráfico como o "rei da maconha", João Morel foi morto em
21 de janeiro de 2001, quando
estava preso em Campo Grande. Ele estava detido desde
março de 2000, em ação comandada por Teixeira, então
na PF de Mato Grosso do Sul
Dois filhos de Morel -Ramão Cristobal e Mauro Ezequiel Morelem- foram mortos
oito dias antes do pai, em um
sítio da família em Capitán Bado, município paraguaio que
faz fronteira seca com Coronel
Sapucaia (MS).
A organização de Beira-Mar,
segundo a Senad paraguaia,
opera ainda com cocaína e pasta-base da droga, em associação com grupos colombianos, a
partir do norte do Departamento de Amambay. No lado
brasileiro, a principal base de
operações com cocaína do grupo é Amambai (MS).
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