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Laudo aponta danos ambientais no Rodoanel
Vistoria nas obras do trecho sul detecta alagamentos em locais com árvores e assoreamento em ponto da represa Billings
Falhas constam do último relatório do grupo que monitora a obra, baseado em blitz feita no dia 3 de agosto passado no ABC
Moacyr Lopes Junior/Folha Imagem
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Alagamento no entorno de obras de trecho do Rodoanel, que ligará Régis Bittencourt ao sistema Anchieta-Imigrantes, zona sul de SP
JAMES CIMINO
DA REDAÇÃO
ALENCAR IZIDORO
DA REPORTAGEM LOCAL
Deficiências no projeto de
drenagem que provocam alagamentos ao redor da obra e afogamento de árvores. Falta de
dispositivos de retenção da terra, deixando a água escura e levando ao assoreamento em
parte da represa Billings -uma
das principais fontes de abastecimento em São Paulo.
Problemas desse tipo por
conta da construção do trecho
sul do Rodoanel, vitrine da gestão José Serra (PSDB), já foram
constatados em vistorias sob
comando da Cetesb (companhia ambiental de São Paulo).
As falhas citadas constam do
último relatório do grupo que
monitora a obra, baseado em
blitz feita no dia 3 de agosto
passado no lote 1, de Mauá a
São Bernardo do Campo (ABC
paulista), a cargo do consórcio
Andrade Gutierrez/Galvão.
Elas corroboram outros relatos obtidos pela Folha nos últimos dias a partir de entrevistas
com moradores no entorno do
Rodoanel e especialistas.
Um supervisor ambiental do
empreendimento, que não quis
se identificar, avalia que os impactos superam as previsões e
relata diversos prejuízos causados pelas obras, alguns difíceis
de serem comprovados no
atual estágio das obras, como
uma região com 15 córregos,
fora da área de concessão do
Rodoanel, que desapareceram
por conta do assoreamento.
A relevância das falhas ambientais detectadas por vistorias oficiais é controversa.
A geóloga Ana Cristina Pasini da Costa, diretora de tecnologia, qualidade e avaliação ambiental da Cetesb, admite: "são
problemas que não poderiam
ocorrer". Mas ressalva: "não
considero grave", por avaliar
que não são generalizados.
A Dersa (empresa estadual
de transporte) culpa a alta intensidade das chuvas -e afirma se tratar de deficiências "de
pequena abrangência".
Carlos Bocuhy, presidente
do Proam (Instituto Brasileiro
de Proteção Ambiental), avalia
que a situação preocupa.
Diz que os danos ambientais
citados "são sobejamente previsíveis" e que eles evidenciam
"falta de zelo".
A sujeira pode reduzir a vida
útil do reservatório e encarecer
os custos de tratamento da
água distribuída à população.
"A somatória de vários danos
caracterizados e registrados
pontualmente pode ter efeitos
importantes na bacia. Assoreamentos, soterramentos e alagamentos locais, com evidente
prejuízo para a flora, fauna e
ecossistemas locais, em conjunto, podem significar um
problema muito maior para a
manutenção desses bens ambientais", avalia Bocuhy.
Uma das deficiências citada à
Folha pelo mesmo supervisor
ambiental é a formação, ao longo do trecho sul do Rodoanel,
de montes de terra expostos à
chuva -cujo material deveria
ser imediatamente encaminhado aos depósitos de material excedente, pontos escolhidos para recebê-lo.
Um desses montes -apelidados de "bota-espera"- foi flagrado pela própria vistoria oficial no lote 1 no mês passado.
"Não pode ficar assim. Essa
terra pode ser arrastada para as
águas", reconhece a geóloga da
Cetesb. "Vamos voltar lá na
terça-feira. Esperamos que já
tenha sido retirado."
O ambientalista Bocuhy, que
também é membro do Consema (Conselho Estadual do
Meio Ambiente), questiona a
ausência de um sistema de fiscalização das obras sem vínculo governamental.
"Não há uma auditoria independente. Existem pressões
políticas e conflito de interesses. Quem contrata a obra é ligado a quem licencia e a quem
fiscaliza", diz.
O trecho sul do Rodoanel,
com custo de R$ 4,5 bilhões, vai
ligar a Régis Bittencourt ao sistema Anchieta-Imigrantes. Em
obras desde 2007, será concluído no começo do ano que vem.
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