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Justiça não ouviu ninguém sobre colisão com avião da Gol
Três anos após acidente, processo aguarda decisão do Tribunal Regional Federal sobre recurso
Advogado que defende famílias das vítimas diz que defesa dos pilotos do Legacy cria obstáculos para tentar obter a prescrição do crime
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SÃO JOSÉ DOS
CAMPOS
Após quase três anos do acidente com o avião da Gol, que
deixou 154 mortos, o processo
penal que apura responsabilidades no caso pouco avançou.
O processo hoje está parado,
aguardando decisão do TRF
(Tribunal Regional Federal)
sobre um recurso. Depois da
decisão, volta à Justiça Federal
em Sinop (MT). Nenhuma testemunha foi ouvida até agora.
O advogado das famílias e assistente da acusação no processo, Dante D'Aquino, disse temer que a demora no andamento do processo resulte na
prescrição do crime, o que impediria a punição aos réus.
D'Aquino afirmou que a defesa dos pilotos norte-americanos Joe Lepore e Jan Paladino,
do jatinho Legacy que se chocou no ar com o avião da Gol,
"usou de má-fé processual" ao
apresentar testemunhas que
vivem no exterior. De nove testemunhas arroladas pela defesa, sete vivem nos EUA.
"Qual é a importância do depoimento de uma testemunha
que não presenciou os fatos?",
questionou. Para D'Aquino, o
objetivo da defesa é ganhar
tempo para levar o processo à
prescrição. Também são réus
no processo controladores de
voo que trabalhavam no dia.
Prescrição
O acidente foi em 29 de setembro de 2006. Lepore e Paladino são acusados de terem
desligado o equipamento anticolisão do jato durante o voo, o
que teria causado o choque
com o avião da Gol, que vinha
em sentido contrário, sobre
Mato Grosso.
Os réus são acusados de atentado à segurança do tráfego aéreo, crime que prevê de um a três
anos de prisão. Em processos
com condenações de até dois
anos, a prescrição ocorre quatro
anos após o início da causa.
A denúncia do caso foi aceita
pela Justiça Federal em junho de
2007. Se forem condenados a até
dois anos e a sentença for dada
depois de junho de 2011, os crimes estarão prescritos.
O juiz federal de Sinop Murilo
Mendes, responsável pelo caso,
minimizou a possibilidade de
prescrição. Disse que um juiz pode levar outros fatores em consideração para determinar a pena,
como a gravidade das consequências do crime.
Se houver condenação superior a dois anos, a prescrição sobe
para oito anos após o recebimento da denúncia.
"O juiz pode considerar outras
circunstâncias no aumento da
pena base. Uma delas é a consequência do crime, que nesse caso
foi danosa, já que morreram 154
pessoas. Se houver condenação,
não é garantido que a pena seja
inferior a dois anos", afirmou
Murilo Mendes.
O advogado Theo Dias, dos pilotos do Legacy, negou que esteja
agindo para provocar a prescrição dos crimes.
"Quem age de má-fé é ele
[D'Aquino], fazendo acusações
indevidas em relação à atuação
profissional da defesa. Em um
caso em que três passageiros
moram nos EUA, em que todas
as pessoas capazes de atestar a
idoneidade profissional dos réus
moram nos EUA, como é que você pode não arrolar testemunhas
no exterior?", disse.
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