|
Próximo Texto | Índice
O que fazer agora que já é tarde demais?
BARBARA GANCIA
Colunista da Folha
Vamos ser honestos? Então, tá.
Eu abro o meu coração e você
abre o seu. Eu começo: não tinha
a menor idéia de que a situação
das crianças da Febem fosse tão
dramática. Não sabia que elas
passam o dia sentadas no chão, de
cabeça baixa, como prisioneiros
de campo de concentração. Não
tinha noção de que elas tomam
banho, quando tomam, com água
suja. Não sabia que elas dormem
amontoadas, como os presos das
delegacias superlotadas, e tampouco tinha conhecimento de que
a maioria delas tem pai e mãe.
Foi preciso que a televisão e os
jornais mostrassem as rebeliões
dos últimos dias e que a gente ficasse sabendo do degolamento de
uma criança para que a Febem
virasse tema de conversa do pessoalzinho com quem convivo.
Pouco antes de começar a escrever este texto, falei sobre a Febem
com um amigo e disse que estava
a fim de fazer alguma coisa. Contei a ele que li em algum lugar que
o Natal na Febem é a coisa mais
triste do mundo e que quero fazer
alguma coisa para ajudar. Meu
amigo disse que, nos últimos dias,
tinha pensado a mesma coisa. Ele
é artista plástico e também não
conhecia a situação daquelas
crianças. Contou-me que estava
pensando seriamente em se candidatar para dar aulas de desenho aos internos da Febem.
Concordo. São atitudes ingênuas e motivadas pela constatação do tamanho do pouco caso
que temos por essas crianças.
Mas cada um paga seu dízimo
como pode. Quantas vezes você
acreditou naquele representante
da LBV que ligou para a sua casa?
Nas poucas ocasiões em que concordei em contribuir não tive
mais paz. Eles enfiam o seu nome
em uma listagem de mala direta e
você nunca mais consegue se livrar dos telefonemas.
Como milhares de outros cidadãos, faço minha parte ajudando
organizações e pessoas que conheço de perto. Ocorre que, até as rebeliões começarem, eu sabia muito pouco sobre a Febem. Aliás, pelo que a gente tem visto e lido,
poucos sabiam o que se passava lá
dentro. Caso contrário, no mínimo, já teriam tratado de mudar o
nome da entidade, de Fundação
Estadual do Bem-Estar do Menor
para Fundação do Mal-Estar do
Menor ou Fundação Para a Formação de Assassinos Sanguinários.
Ajudar os menos favorecidos é
obrigação fundamental de quem
vive em sociedade. E já que o governo não usou o dinheiro dos
nossos impostos para encaminhar
essa molecada, só nos resta agora
ir pessoalmente ver o que pode ser
feito.
QUALQUER NOTA
Balela
Ron Dennis, chefão da McLaren, declarou que a decisão da FIA
de absolver a Ferrari desacredita a
entidade. Pois, para quem não sabe, Joe Bauer, o comissário que
desclassificou a equipe em Sepang, foi funcionário da Mercedes.
Ar quente
Alguém precisa avisar a embaixada americana que Itamar Franco é a encarnação da expressão
"fogo de palha".
Flashback
Recebo um fax da PM avisando
sobre uma nova droga. Trata-se
da "tattoo", tatuagens com temas
como o Mickey e o Bart Simpson,
que, segundo a PM, contêm LSD.
Posso estar enganada, mas essas
tatuagens não são mais velhas do
que o Timothy Leary?
E-mail: barbara@uol.com.br
www.uol.com.br/barbaragancia/
Próximo Texto: Guerra dos meninos: Febem não consegue saber quem morreu, quem fugiu na rebelião Índice
|