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GUERRA DOS MENINOS
Falta de fichas dificulta identificação de corpos carbonizados e localização de internos transferidos
Febem não consegue saber quem morreu, quem fugiu na rebelião
JOÃO CARLOS SILVA
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local
Um dia depois de terminada a
maior rebelião da Febem, mães de
internos continuam desesperadas
sem conseguir saber se seus filhos
estão vivos ou mortos.
A Febem afirma que quatro internos morreram na rebelião.
Dois foram identificados e um,
enterrado ontem. Outros dois,
cujos corpos foram carbonizados,
continuam sem identificação.
O problema é que a Febem não
consegue ter uma relação dos sobreviventes, de quem continua na
Febem Imigrantes (zona sudeste
de São Paulo, onde ocorreu a rebelião de 18 horas), de quem foi
transferido para outra unidade e
de quem fugiu.
Pelas listas divulgadas ontem, a
Febem ainda não havia determinado o paradeiro de 236 dos 1.216
menores que estavam na unidade
no último sábado. Acredita-se
que 119 fugiram.
"Meu filho não está em nenhuma lista. Já perguntei para funcionários da portaria 1 milhão de vezes. A resposta é sempre a mesma,
tenho que esperar", disse Maria
Lúcia Emiliano, 32, que buscava
informação sobre o filho S., 17,
desde às 9h de anteontem.
"Moço, pelo amor de Deus,
quero informação sobre meu filho", dizia Damiana Pereira Lima
Silva, 44, a um funcionário que
afixava listas com nomes de menores do lado de fora da unidade.
"Se ele não está nas listas, tem de
esperar", ele respondeu.
"Eu estou desesperada. Eles dizem que menores morreram, mas
não falam seus nomes. Dizem que
meu filho pode ter fugido, mas
em casa ele não chegou", reclamava a mãe do menor E., 16, Antônia Ambrósio Leite, 44.
Mesmo para aqueles que conseguiam encontrar nome de parentes nas listas, a informação não
era suficiente.
"Meu irmão não estava nas listas ontem (anteontem). Depois
que passei o nome para funcionários, o nome dele apareceu nas listas hoje (ontem). Como vou saber
se ele está mesmo aí", disse Eliana
Mendes, 24.
Identificação
O Instituto Médico Legal ainda
não sabe como fará a identificação dos corpos de dois internos
mortos que estão carbonizados.
Técnicos do instituto recolheram ontem à tarde fragmentos de
tecidos de ambos, que serão congelados para exame de DNA.
O exame, que custa US$ 1.500,
só será feito se a família da vítima
tiver dúvidas no reconhecimento,
mas apontar indícios de que o
corpo pode ser realmente de um
parente.
Ontem, o IML enviou à Febem a
impressão digital retirada do polegar, preservado do fogo, de uma
das vítimas carbonizadas.
Mas a Folha apurou que a identificação é também difícil porque
os internos, durante a rebelião,
destruíram a administração da
Febem Imigrantes. Ou seja, os
prontuários dos adolescentes,
que inclui ficha papiloscópica
(impressões digitais), foram queimados.
Além do DNA e das impressões
digitais, o IML poderá fazer a
comparação das arcadas dentárias dos corpos com as fichas
odontológicas das vítimas, caso
existam.
Também poderá ajudar na
identificação radiografias que as
famílias possam ter das vítimas.
Se alguma vítima tinha um raio
X de crânio, a imagem poderá ser
sobreposta a uma radiografia do
cadáver para comparação dos
"seios da face", leves depressões
do crânio, que são diferentes de
pessoa a pessoa.
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