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Parentes temem novo motim já anunciado pelos internos
CHICO DE GOIS
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local
Parentes de internos do Complexo Imigrantes da Febem, onde
uma rebelião iniciada na noite de
domingo deixou quatro mortos e
mais de 50 feridos, temem um novo conflito -anunciado pelos
próprios internos para os primeiros dias do mês que vem.
A irmã de Américo Nonato de
Oliveira, um dos mortos, Graziela
Maria de Oliveira, 18, diz que a rebelião vai ser no dia 2 de novembro -feriado de Finados. "Ele me
contou no domingo, antes de
morrer", disse.
Pais e irmãos de adolescentes
que visitaram os internos ontem
saíram com a mesma informação
de Graziela -o caldeirão está para explodir. Os motivos seriam os
mesmos da rebelião passada: superlotação e maus-tratos.
Graziela diz que outro motivo
vai levar a novas rebeliões -a virada do milênio. "Está chegando
o fim do ano e ninguém quer ficar. Não pensem que só porque
morreram quatro que acalmou
tudo. Agora foi só o começo."
Fernanda, 19 anos, irmã gêmea
de M., detido há quase dois meses
por ter roubado um relógio, teve a
mesma informação quando esteve com o irmão ontem por cinco
minutos de visita. M. deve deixar
o complexo até sexta-feira da semana que vem. "Falei para ele não
se envolver porque senão irá ser
prejudicado e terá de passar mais
tempo lá dentro", disse Fernanda.
Alguns parentes defendem as
rebeliões. "Eles apanham muito e,
chega uma hora, não dá para
aguentar. O jeito é fugir", disse
Maria, que tem um filho há mais
de um mês internado no complexo. Dizendo-se evangélica, ela não
poupou palavrões quando o policiamento de Choque apareceu escoltando adolescentes machucados. "Seu filho da puta, você vai
para o inferno. Vem aqui fora para ver o que te espera, seu corno."
A greve de ontem, anunciada
pela direção do Sintraemfa (Sindicato dos Trabalhadores da Febem) foi adiada. O presidente da
entidade, Antonio Gilberto da Silva, afirmou que a categoria "não
quer ser o bode expiatório" dos
acontecimentos. Gilberto informou, no entanto, que os servidores da Febem "permanecerão em
estado de greve".
Anteontem, o juiz Edilson Rodrigues, Tribunal Regional do
Trabalho, concedeu uma liminar
que proíbe o Estado de realizar
novas demissões até o julgamento
de ação movida pelo sindicato.
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