São Paulo, Quarta-feira, 27 de Outubro de 1999
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Parentes temem novo motim já anunciado pelos internos


CHICO DE GOIS
MARCELO OLIVEIRA
da Reportagem Local

Parentes de internos do Complexo Imigrantes da Febem, onde uma rebelião iniciada na noite de domingo deixou quatro mortos e mais de 50 feridos, temem um novo conflito -anunciado pelos próprios internos para os primeiros dias do mês que vem.
A irmã de Américo Nonato de Oliveira, um dos mortos, Graziela Maria de Oliveira, 18, diz que a rebelião vai ser no dia 2 de novembro -feriado de Finados. "Ele me contou no domingo, antes de morrer", disse.
Pais e irmãos de adolescentes que visitaram os internos ontem saíram com a mesma informação de Graziela -o caldeirão está para explodir. Os motivos seriam os mesmos da rebelião passada: superlotação e maus-tratos.
Graziela diz que outro motivo vai levar a novas rebeliões -a virada do milênio. "Está chegando o fim do ano e ninguém quer ficar. Não pensem que só porque morreram quatro que acalmou tudo. Agora foi só o começo."
Fernanda, 19 anos, irmã gêmea de M., detido há quase dois meses por ter roubado um relógio, teve a mesma informação quando esteve com o irmão ontem por cinco minutos de visita. M. deve deixar o complexo até sexta-feira da semana que vem. "Falei para ele não se envolver porque senão irá ser prejudicado e terá de passar mais tempo lá dentro", disse Fernanda.
Alguns parentes defendem as rebeliões. "Eles apanham muito e, chega uma hora, não dá para aguentar. O jeito é fugir", disse Maria, que tem um filho há mais de um mês internado no complexo. Dizendo-se evangélica, ela não poupou palavrões quando o policiamento de Choque apareceu escoltando adolescentes machucados. "Seu filho da puta, você vai para o inferno. Vem aqui fora para ver o que te espera, seu corno."
A greve de ontem, anunciada pela direção do Sintraemfa (Sindicato dos Trabalhadores da Febem) foi adiada. O presidente da entidade, Antonio Gilberto da Silva, afirmou que a categoria "não quer ser o bode expiatório" dos acontecimentos. Gilberto informou, no entanto, que os servidores da Febem "permanecerão em estado de greve".
Anteontem, o juiz Edilson Rodrigues, Tribunal Regional do Trabalho, concedeu uma liminar que proíbe o Estado de realizar novas demissões até o julgamento de ação movida pelo sindicato.


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