Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
EXPECTATIVA
Rosângela passa 20 h em frente à Febem
Interno avisou a mãe pelo telefone
da Reportagem Local
Rosângela de Souza, mãe do
menor A., 15, foi avisada pelo
filho, por telefone, da rebelião.
Foi o início de um calvário
que durou 20 horas em frente à
Febem Imigrantes, entre anteontem e ontem, sem obter informações sobre o adolescente,
que está preso há uma semana
por porte ilegal de arma.
Folha - A sra. está aqui desde quando?
Rosângela - Desde as 9h30
da manhã (de anteontem).
Meu filho ligou para a minha
casa às 8h30. Ele falou assim,
chorando no telefone: "Mãe,
pelo amor de Deus, vem para
cá que o choque (PM) está aqui
e a gente vai morrer."
Folha - Era para vocês pressionarem?
Rosângela - Não, era para
salvar eles. Era para ver se fazia
alguma coisa. Só que a gente
aqui não consegue nada.
Folha - Ele sabe disso?
Rosângela - Eles têm essa noção, mas também têm uma esperança. Com a gente aqui, de
repente não piora tanto.
Folha - A sra. sabe para onde foi levado seu filho?
Rosângela - Eu não tive nenhuma informação até as 14h
de hoje. Faz meia hora que me
disseram que ele está lá no Carandiru. Uma lista diz que ele
está no Tatuapé e a outra, no
Carandiru. A assistente social
me falou que ele está lá no COC
(Centro de Observação Criminológica). Eu falei: "Por que ele
está lá? Meu filho tem 15 anos.
Não tinha nada que ter mandado o meu filho para lá.
Folha - A sra. só vai ficar
tranquila quando ver o seu filho?
Rosângela - Exatamente. E a
assistente falou para eu voltar
aqui na quinta-feira que ela vai
dar alguma informação. Mas
ele vai ficar lá até arrumar essa
porcaria? No Tatuapé tem vaga, tem várias outras entidades
que têm vaga. Agora, vão levar
o meu filho para lá por quê? Ou
vão deixar o meu filho lá para
eu não ter que ver até ele sarar?
Folha - Seu filho já apanhou
aqui?
Rosângela - Já. Cheguei a ver
o meu filho quebrado. Ele já me
disse: "Mãe não fala nada, senão eu vou apanhar mais". Por
que eles não matam logo tudo
de uma vez? Quem aprontou
esse negócio de rebelião foram
os monitores. No sábado,
quando eu vim visitar o meu filho, os monitores falaram: "Na
terça-feira, vocês têm de cuidar
dos seus filhos porque nós vamos parar. Vamos entrar em
greve e eles vão ficar na mão do
choque (tropa da PM)." Por isso os meninos estão revoltados, com medo do choque. Os
monitores estão querendo tumultuar.
Texto Anterior: Guerra dos meninos: Febem não consegue saber quem morreu, quem fugiu na rebelião Próximo Texto: Parentes temem novo motim já anunciado pelos internos Índice
|