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Covas culpa sociedade, mas
admite ser maior responsável
OTÁVIO CABRAL
da Reportagem Local
O governador Mário Covas
(PSDB) admitiu ontem ser o
maior responsável pelas constantes rebeliões e fugas na Febem.
Mas também culpou a Justiça, os
funcionários da entidade e toda a
sociedade, que tem preconceitos
em relação ao menor infrator.
"A maior responsabilidade é a
minha, que sou o governador do
Estado. Mas todos nós, toda a sociedade, temos responsabilidades", afirmou o governador em
entrevista no Palácio dos Bandeirantes, na tarde de ontem.
Na entrevista, Covas declarou
que não pretende indenizar as famílias dos quatro menores assassinados durante a rebelião, pois
considera que eles não foram
mortos pelo Estado, mas por internos rivais. Disse que só paga se
a Justiça determinar.
Covas prometeu ainda demitir
todos os funcionários da Febem
que fizerem greve, porque considera que eles estão agindo contra
os interesses do Estado. "Hoje,
não sei se posso confiar nos funcionários da Febem."
O governador não acredita em
solução de curto prazo para a Febem, mas pensa em alguns paliativos para acalmar a situação, como o deslocamento de carcereiros da Secretaria da Administração Penitenciária para cuidar de
jovens infratores. Leia abaixo os
principais trechos da entrevista.
INDENIZAÇÃO - "Não consta
que o Estado tenha matado esses
meninos. Quando matam dois
presos em uma penitenciária, a
responsabilidade é do Estado?
Quando um cidadão atropela outro na rua, a responsabilidade é
do Estado? Afinal, estão andando
na rua e a rua é do Estado. Por isso, não pretendo indenizar. Vamos ver, se a Justiça determinar
que o Estado pague, vamos ter
que pagar. Senão, não."
RESPONSABILIDADES - "Não
é só a Justiça e o Estado que têm
responsabilidades pela situação
da Febem, a sociedade inteira
tem responsabilidade. A maior é
a minha, que sou o governador
do Estado. Mas todos nós temos
responsabilidades. Ou vocês
acham que, com as crianças sofrendo o que sofrem, ninguém
tem responsabilidade?
É um grande problema social.
Colocar em quatro paredes não
vai ser solução para um problema
social tão profundo.
Mas eu quero saber se vocês conhecem alguém que empregou
uma criança da Febem depois
que ela saiu de lá. Ou se vocês conhecem alguém que saiu da penitenciária e arrumou emprego depois que pagou sua dívida com a
sociedade? Imagina, nenhum de
nós pensaria numa coisa dessas.
Como é que eu vou botar uma
criança para trabalhar na minha
casa se ela já roubou alguém?
Mas a sociedade, não estou falando de ninguém em particular,
estou me incluindo, olha isso
com profundo preconceito. A decisão de não levar as unidades da
Febem para o interior não é tomada pelo prefeito, é porque a
população não quer. Todos nós
gostamos de não ver essas coisas
de perto, não assistindo, a gente
não é tocado por isso, por isso todos temos responsabilidade."
FUNCIONÁRIOS - "Os funcionários não fizeram nada mais que
a obrigação em suspender a greve. Com uma encrenca desse tipo,
só falta agora funcionário querer
fazer greve. Funcionários que ganham hora extra pela qual não
trabalham, funcionários que trabalham com um ordenado médio
de R$ 1.600 não têm direito de fazer greve. É dos melhores salários
que há dentro do Estado.
Se eles mudarem de idéia e fizerem greve, vão para a rua. Os que
não compareceram ontem, menos aqueles que foram jogados
do muro, vão para a rua. Quem
não compareceu porque se disse
em greve vai para a rua mesmo,
nem que tenham que ir todos.
Os funcionários também são
responsáveis por essa situação.
Não é admissível, por mais incompetente que seja o governo,
que mais de mil menores fujam
em uma semana."
CURTO PRAZO - "Não tem esquema imediato, não há nada
que você possa fazer do dia para a
noite, de hoje para amanhã.
Tudo aquilo que combate essa
situação já estava sendo feito, só
que a gente precisa de um tempo
para fazer. Você não constrói um
abrigo temporário em menos de
quatro meses. Mesmo assim, correndo o risco de construir sem fazer concorrência, porque a situação exige. Vamos manter a segurança das unidades da mesma
maneira, isso se sobrar monitor
para trabalhar, se todos não forem demitidos. Não dá para mudar, porque não dá para colocar a
polícia dentro das unidades, a PM
só pode ficar do lado de fora. Para
a polícia entrar, só se for desarmada. E se um policial fosse jogado lá de cima como foram os monitores? O que o resto da polícia
faria, ficaria calada assistindo?
Então essas coisas têm de ser tratadas com um certo cuidado.
Estamos estudando N medidas.
Uma delas é arrumar um grupo
de carceragem mais habilitado,
como os da Secretaria da Administração Penitenciária.
Mas não sei dizer quanto tempo
demora para tirar a Febem das
manchetes. Isso não é uma coisa
que você possa fixar data."
LONGO PRAZO - "Para ter a
pretensão de resolver a situação,
a Febem precisa de unidades menores, com relação diferenciada.
A questão pedagógica precisa ser
bem tratada para dar trabalho e
educação para esses jovens. É
preciso descentralizar, fazer unidades que não tenham mais de
60, 80 crianças, dar trabalho para
essas crianças. Mas não é um trabalho a curto prazo."
PREJUÍZO POLÍTICO - "Não há
crise para meu governo do ponto
de vista político, só do ponto de
vista humano. Do ponto de vista
político, não me afeta, não tenho
nenhuma pretensão política. Eu
já cheguei além das minhas expectativas, não sou candidato a
nada. Não vão conseguir desestabilizar o meu governo. Mas essa
crise me atinge do ponto de vista
pessoal, do ponto de vista moral."
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