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ARQUITETURA DA VIOLÊNCIA
Escolas integram ou marginalizam seus alunos
GILBERTO DIMENSTEIN
do Conselho Editorial
PRISCILA LAMBERT
da Reportagem Local
A escola -e a forma com que
ela se relaciona com os estudantes
e com a comunidade- patrocina
paz ou fomenta marginalização.
Os adolescentes que agora protagonizam cenas de barbárie na
Febem são vítimas da exclusão escolar. Seu processo de marginalidade começou na família e prosseguiu na escola, até explodir na
rua. A escola poderia servir como
barreira para conter a ida à rua e,
no limite, à delinquência.
Há escolas de dois tipos: as que
marginalizam e as que integram.
Na Escola Estadual Antonio Nascimento, em São Bernardo do
Campo, por exemplo, alunos provocam curtos-circuitos na rede
elétrica do prédio -e até do bairro todo- para serem dispensados mais cedo. Nos blecautes,
professores têm de se refugiar
embaixo da mesa para se proteger
das cadeiras jogadas ao ar.
"É uma bagunça. Metade da
classe está sem caderno porque o
pessoal rasga mesmo. Tive que
comprar um pequeno para continuar minhas anotações da aula",
diz D.S.G., 14, que cursa a 8ª série.
Na outra ponta, a Escola Estadual Professor Renato Arruda
Penteado, na Vila Brasilândia (zona norte de SP), é hoje exemplo de
integração com a comunidade.
A escola superou os males causados pelo vandalismo convocando pais, alunos e membros da comunidade para investigar as causas desses comportamentos.
Antes de 98, dois alunos foram
baleados dentro do pátio, e outros
14 foram assassinados em brigas
de gangue e balas perdidas fora
do estabelecimento. Os móveis
estavam destruídos, muros e paredes, pichados, e a frequência de
alunos em sala era muito baixa.
No ano passado, os pais passaram a participar de discussões sobre as regras a serem impostas, fizeram mutirões para recuperar o
mobiliário e ajudaram a desenvolver atividades durante os finais
de semana, quando a escola é
aberta à comunidade.
"Desde então, o prédio se manteve intacto, e não houve violência. Todos administram a escola
junto com a direção", diz a diretora Eliana de Mello.
Segundo Túlio Kahn, sociólogo
e coordenador de pesquisa do Ilanud (Instituto Latino-Americano
das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do
Delinquente), o caminho é a democracia escolar. "Se a escola não
é apresentada como um bem do
próprio aluno e da comunidade,
eles destroem tudo", diz Kahn.
E destroem mesmo. Números
divulgados pela Secretaria da Segurança Pública apontam o aumento da violência entre estudantes. Durante todo o ano passado,
15 bombas explodiram em escolas de São Paulo. Neste ano, apenas até agosto, já eram 31 casos.
As brigas, dentro ou na porta
das escolas, passaram de 298, em
98, para 314 até agosto deste ano.
Cem pesquisadores do Instituto
de Psicologia da Universidade de
Brasília, após visita a 1.440 escolas
de primeiro e segundo graus de
todo o país, também captaram o
alastramento dessa epidemia da
violência escolar.
Numa encomenda da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE), os pesquisadores concluíram que mais
da metade das escolas tinha sofrido algum tipo de violência no mês
anterior ao levantamento -principalmente roubo e vandalismo.
Realizada entre 96 e 97, a pesquisa mostrou que os professores
e diretores se sentiam acuados,
incapazes de reagir.
Um estudo feito por professores
do Departamento de Medicina
Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, com 1.675 alunos das
redes pública e privada da capital,
aponta que os problemas não estão restritos às escolas públicas.
Segundo o levantamento, feito
em 98, 12% dos alunos de escolas
particulares admitiram ter portado arma nos 12 meses anteriores à
pesquisa -contra 8% na rede pública. Em relação a brigas, 20,3%
dos estudantes de escolas particulares confirmaram ter participado
de dois ou mais episódios, contra
15,2% dos de escolas públicas.
"A escola não está isolada dos
problemas que ocorrem ao seu
redor. Mas arbitrariedade, condutas violentas e ausência de regras geram violência dentro da escola", diz a socióloga Marília Sposito, professora da Faculdade de
Educação da USP. "A omissão
por parte da escola é um bom elemento para favorecer a exclusão."
Marília acompanha a violência
nas escolas desde a década de 80.
Ela percebeu que aquelas que desenvolveram trabalho de aproximação com os pais e a comunidade e se abriram para atividades
culturais tiveram melhora disciplinar por parte de alunos, pais e
membros da comunidade. "Não
adianta apenas abrir a quadra no
fim-de-semana. É preciso desenvolver um trabalho educacional
no dia-a-dia, que permita a participação de todos no estabelecimento de regras", diz Marília.
Mas, para a educadora, a escola
não está só nesse processo. "A eficácia depende da integração entre
ações das instituições com políticas governamentais que garantam o primeiro emprego, o policiamento comunitário e o atendimento a dependentes de drogas."
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