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Escolas de Heliópolis vão à luta contra a violência
da Reportagem Local
No meio do temor provocado
pelas ameaças do toque de recolher nas imediações da favela Heliópolis (zona sudeste de SP), onde a maioria das escolas tem dispensado seus alunos mais cedo,
duas se sobressaem desenvolvendo um trabalho na contramão
dessa onda de violência.
Uma procura conhecer e respeitar a história de vida dos alunos,
estimulando iniciativas próprias.
Outra busca uma aproximação
com a comunidade, envolvendo
alunos, pais e moradores em atividades promovidas pela escola.
Conhecendo a história de seus
alunos, a Escola Municipal Péricles Eugênio da Silva Ramos está
conseguindo vencer um desafio: a
indisciplina dos estudantes.
São atendidos diariamente pela
escola cerca de 800 crianças e adolescentes da 1ª à 8ª série do ensino
fundamental. A maior parte é habitante da favela Heliópolis.
Na escola, que funciona até as 17
horas, o clima de tensão não chegou. Segundo Cristina Drumont,
coordenadora pedagógica, apesar
do toque de recolher, a rotina da
escola não foi alterada.
O trabalho dessa escola não é recente. A pesquisa teve início há
cerca de um ano, quando pós-graduandos da Universidade Cidade de São Paulo (Unicid) começaram a realizar um estudo para
encontrar alternativas de formação de professores.
Em entrevista com os professores, os pesquisadores descobriram que a principal queixa era
com relação ao comportamento
dos alunos. Ao verificarem o outro lado da questão, encontraram
crianças com uma história de vida
bastante complicada, marcada
por sofrimento e perdas.
"Em nenhum momento percebemos uma indisciplina intencional. Mas esses eram os códigos de
sobrevivência que eles conheciam", afirma Ana Gracinda Queluz, que, com Ecleide Cunico Furlanetto, coordena a pesquisa.
Na tentativa de modificar a situação, os professores indicaram
alunos que passaram a ser "investigados" pelos pesquisadores. Todas as semanas, cerca de 15 crianças consideradas indisciplinadas
são entrevistadas.
Nesse período, elas contam sua
história por meio de desenhos e
frases. Como a escola se interessou pelo resultado, os professores
têm transposto as conclusões da
pesquisa para a sala de aula.
Os resultados já começam a ser
detectados. Segundo Cristina
Drumont, os professores estão
convivendo com novos alunos.
"O comportamento melhorou."
A Escola Municipal de Primeiro
Grau Campos Sales é uma das
poucas nos arredores de Heliópolis que não permitiram que seus
alunos fossem dispensados mais
cedo. "Não tenho medo porque
nosso segredo é a integração com
a comunidade", diz o diretor,
Braz Rodrigues Nogueira.
A escola está organizando comissões de pais e professores com
diferentes temas, como limpeza e
conservação, reivindicações, integração escola-comunidade e lazer, esporte e cultura.
O projeto nasceu de encontros
em que se discutiu educação e cidadania com os pais. Segundo
Nogueira, desde que os projetos
começaram a funcionar, há dois
anos, os casos de brigas dentro da
escola caíram de seis por dia para
dois por mês.
(CLEIDE FLORESTA)
(PRISCILA LAMBERT)
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