São Paulo, sexta-feira, 27 de outubro de 2000

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TRÂNSITO
Foram registradas 121 vítimas fatais no primeiro semestre; problema é alvo de programa de segurança criado por entidades
A cada 3 dias, morrem 2 motociclistas em SP

DA REPORTAGEM LOCAL

Dois motociclistas morrem a cada três dias no trânsito da cidade de São Paulo. A CET (Companhia de Engenharia de Tráfego) registrou 121 vítimas fatais entre janeiro e junho deste ano.
A situação é considerada preocupante pelo engenheiro de segurança de trânsito da companhia, Max Ernani de Paulo. "O número de mortes entre motoqueiros é o único que cresce, enquanto as vítimas fatais em acidente com pedestres e veículos vêm caindo."
Em 98, morreram 212 motociclistas em São Paulo. No ano passado, foram 245 mortes. A estimativa da Abram (Associação Brasileira de Motociclistas) é que o total de vítimas fatais neste ano aumente 40% em relação a 99, chegando a um motociclista morto por dia na cidade.
O crescimento das mortes acompanha o boom de motos nos últimos quatro anos em São Paulo. Em 1995, elas representavam 2,8% da frota da cidade (168.169 unidades). No ano passado, já eram 7% do total (341.108 unidades). O registro mais recente do Detran, de fevereiro deste ano, aponta a existência de 350.405 motocicletas em São Paulo.
Mas o aumento do número de motos não explica sozinho a taxa de mortalidade. CET, entidades e sindicatos de motociclistas, motoboys e empresas de entrega concordam num ponto: o crescimento das mortes se deve principalmente à maneira como os motociclistas trafegam pela cidade.
Alta velocidade, direção perigosa, tráfego no espaço entre as faixas -mesmo em corredores movimentados- e falta de uma regulamentação da profissão de motoboy são apontados como fatores que levam ao crescente óbito. Outro ponto mencionado é a formação profissional deficiente dos que trabalham com motos.
Com o intuito de discutir a questão da segurança dos motociclistas e elaborar soluções para o problema, a Abram lançou ontem, em São Paulo, o "Programa de Redução de Acidentes com Motocicletas".
A idéia é, em conjunto com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e com o apoio de órgãos governamentais, entidades de segurança no trânsito, representantes dos motoboys, dos empresários do setor de entregas e da indústria de motocicletas, colocar em prática dez ações para reduzir o número de acidentes envolvendo motos.
Entre elas estão a oferta de cursos por parte do Senai, a criação de motovias e a proposta de uma legislação mais rígida para o tráfego de motociclistas. Os motoboys ressaltam outros pontos: aumento do pagamento por hora (que hoje é em média de R$ 5) e o fim da informalidade nas contratações por parte das empresas.
A cidade de São Paulo não está preparada para o número crescente de motos e precisa se aparelhar para isso o mais rápido possível. O diagnóstico é do diretor do DTP (Departamento de Transporte Público), José Luiz Nakama.
"O motociclista é imprudente, mas o motorista também não está preparado." Segundo ele, o ideal seria fazer uma entrefaixa para motos. "Mas requer muito investimento", disse. Outras alternativas seriam sinalização específica para os motociclistas e a colocação de placas avisando o motorista para ter cuidado com as motos.
Isso poderá melhorar a situação para pessoas como Aldemir Martins, 28, presidente da Umab (União dos Motociclistas e Afins do Brasil) e motoboy há oito anos. Nesse período, ele conta já ter sofrido 15 acidentes, um quase fatal. "Um ônibus passou por cima da minha perna e fiquei um ano e meio sem trabalhar."



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