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São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2003

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Prefeitura alega que prioridade de atendimento é para os que não têm casa para morar

Albergue pode barrar excluído do transporte

Marlene Bergamo/Folha Imagem
Fátima Coutinho Rego (de vermelho) e Edna dos Reis Coimbra dormiram na rua por não poder pagar a passagem de volta para casa


DA REPORTAGEM LOCAL

Os "excluídos do transporte" que têm teto e salário -mas que não têm condução para voltar para casa- podem ser barrados caso queiram dormir diariamente num dos albergues ou abrigos ligados à Prefeitura de São Paulo.
A orientação da Secretaria de Assistência Social é que a prioridade seja dada aos "totalmente excluídos" -ou seja, os que não têm nenhuma casa para ficar.
"Há graus diferenciados de exclusão. Os albergues são para os que estão totalmente desestruturados", diz Adelina Baroni, coordenadora do programa Acolher, da gestão Marta Suplicy (PT).
É por essa restrição que, muitas vezes, quem está nessa situação nem sempre fala a verdade para conseguir uma vaga. A condição deles começa a aparecer pela ausência nos finais de semana. Se houver "fila de espera", podem ser colocados para fora dos albergues por causa dessas faltas.
A cidade tem 4.817 vagas em 28 albergues e 436 em moradias provisórias. A quantidade é insuficiente para abrigar todos os moradores de rua -que, em 2000, somavam 8.706-, mas muitos nem mesmo aceitam frequentá-los em razão das regras -como horário para entrar e sair, obrigação de tomar banho e proibição de se manter alcoolizado.
Para Adelina Baroni, os casos de gente com teto e sem dinheiro para voltar para casa "são pontuais", que devem ser atendidos por "outros programas sociais". "Sabemos que a renda é insuficiente. Mas não podemos atender quem tem casa e deixar outros de lado."
Rubens Adorno, da Faculdade de Saúde Pública da USP, afirma que pesquisas qualitativas feitas nos últimos anos apontam que "os albergues são uma alternativa não apenas para os casos crônicos, mas eventuais, trabalhadores de baixa qualificação em situação de precarização do trabalho".
O pintor Sérgio da Costa, 36, tem ficado em albergues nos últimos três meses. Ele tem teto para dormir e renda -mas convive com a família (irmã e sobrinhos), que mora em Osasco, somente nos finais de semana. "O albergue caiu do céu. Antes, eu cheguei a dormir na rua um mês inteiro por não ter dinheiro pra passagem."
(ALENCAR IZIDORO)


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