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SAÚDE
Grupo interministerial irá propor que, das 6h às 22h, cervejas e vinho possam ser anunciados por meio de "chamadas"
Governo admite manter publicidade de álcool
FABIANE LEITE
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo federal recuou na
proposta de proibir toda a propaganda de bebida alcoólica das 6h
às 22h no rádio e na TV e irá propor que produtores de cerveja e
vinho possam fazer "chamadas
de patrocínio" no período.
"Estamos entendendo como
uma concessão. Na posição pura
da saúde pública, não haveria a
propaganda", diz Pedro Gabriel
Delgado, coordenador do grupo
interministerial que discute novas
regras para o álcool. "Mas é uma
negociação que acho legítima."
A restrição das 6h às 22h fazia
parte da proposta original do grupo, criado em junho. Um mês antes, após intensa pressão da indústria, o governo já havia decidido retirar de votação na Câmara
uma emenda com o mesmo teor.
Apontava que a medida era
apressada e poderia ser barrada
na Justiça por falta de discussão
suficiente. Além disso, temia prejuízo à área de publicidade, já que
o setor movimenta cerca de R$
600 milhões ao ano em anúncios.
Segundo Delgado, o Ministério
da Saúde enviará ao presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, criador
do grupo, proposta para adiar por
mais 60 dias a apresentação de
um projeto de lei para a área, prevista inicialmente para setembro.
A criação de uma política pública
para o álcool é a principal bandeira da saúde no governo Lula.
O grupo quer negociar mais
com indústria, setor de propaganda, emissoras de TV e rádios para
apresentar a nova proposta.
"A posição do Ministério da
Saúde é conseguir o avanço legislativo que for possível. Não queremos um projeto que não tenha
uma tramitação bem sucedida no
Parlamento", diz Delgado. Segundo ele, a chamada de patrocínio é
um ponto que "interessa", pois o
dano maior é o da peça publicitária, que tem mais tempo de duração e "dramatiza o consumo".
Ele diz que a proposta agora é
permitir a cervejarias e produtores de vinho fazer chamadas curtas, informando só o patrocínio a
um evento cultural e esportivo,
por exemplo. Isso poderia ocorrer
antes e durante o evento.
Produtores de destilados (vodca, cachaça), de maior teor alcoólico, não teriam direito às chamadas. A idéia é manter a regra atual,
que já distingue os tipos de bebida
quando o tema é propaganda:
proíbe anúncios das de alta graduação alcoólica antes das 21h.
Estima-se que de 50% a 80% das
vítimas de trânsito estavam alcoolizadas ou se feriram em acidentes
nos quais o condutor estava embriagado. Pesquisa no Estado de
São Paulo mostrou que o agressor
estava bêbado em 52% dos casos
de violência doméstica. E a OMS
(Organização Mundial da Saúde)
considera o álcool o principal fator de risco à saúde no país.
Taxação
Ainda não há consenso no grupo sobre o aumento da taxação
sobre as bebidas e a criação de um
fundo para investir em prevenção. A proposta, defendida pela
pasta da Saúde, tem resistência no
Ministério da Fazenda e causa arrepios na indústria, que diz temer
o aumento da sonegação e do
consumo de bebidas clandestinas.
"Há problemas técnicos, não só
políticos", diz Delgado. Segundo
ele, a área econômica (que não se
manifestou) não vê meios para
operacionalizar a medida.
As mais de cem propostas relacionadas ao tema que tramitam
na Câmara também contribuíram
para o pedido de adiamento.
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