|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Médico quer lobby contra a indústria
DA REPORTAGEM LOCAL
Coordenador da Uniad (Unidade de Álcool e Drogas) da Unifesp, o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, 47, defende a criação de uma
"aliança cidadã", um movimento
político que faça lobby contra a
indústria do álcool. "A indústria,
no meu modo de ver, não é um interlocutor legítimo nesse debate."
Laranjeira representou o Brasil,
no fim de setembro, em encontro
da OMS ocorrido em Cambridge
(Inglaterra) para debater uma política global contra o álcool.
Folha - Qual era o objetivo do encontro?
Ronaldo Laranjeira - A OMS levou muitos anos para fazer algo
de grande impacto na área de cigarro, nas houve avanço grande.
Queremos agora que o mesmo
ocorra com o álcool. A América
do Sul é um dos lugares em que o
custo social do álcool é mais alto.
Quando falei qual era o preço da
bebida alcoólica no Brasil, as pessoas não acreditaram. Também
estão impressionados com o descontrole da propaganda, esse negócio do "experimenta" [propaganda de uma nova cerveja]. A influência é infinitamente superior
a qualquer tipo de prevenção.
Folha - O governo cedeu no controle da propaganda. E a Fazenda
não vê como aumentar impostos.
Laranjeira - Não vê como prioridade política. Se o álcool ficar na
mão de economistas, estamos fritos. O custo do álcool supera em
muito o que ele traz em impostos.
É uma indústria parasitária, mas
os economistas não vêem assim.
Folha - A auto-regulamentação
contribuiu para isso?
Laranjeira - A própria OMS fala
que em nenhum lugar em que a
auto-regulamentação foi tentada
deu certo. E você não pode deixar
uma questão de saúde pública,
como o álcool, na mão da indústria. É como deixar o galinheiro
na mão do lobo. A indústria, no
meu modo de ver, não é um interlocutor legítimo nesse debate.
Porque tudo que a indústria tem
feito, nesse negócio de beber responsável, visa só melhorar a imagem. O governo ensaiou algumas
medidas, mas refluiu rapidamente frente às pressões.
Folha - Como agirá o movimento?
Laranjeira - A indústria está determinando a política do álcool. O
setor profissional, no qual me incluo, não consegue influenciar.
Eles foram muito profissionais até
agora, e nós, amadores. A idéia é
criar uma aliança supra-institucional. É proteção da sociedade
em relação à indústria.
(FL)
Texto Anterior: AmBev diz estar "do mesmo lado" Próximo Texto: Conscientização ajuda a diminuir o consumo Índice
|