São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Próximo Texto | Índice

MORTE INEXPLICADA

Peritas dizem que médicos não deveriam ter dado Plasil à cantora, por causa de suposta ingestão de álcool e drogas

Laudo indica erro médico no caso Cássia Eller

DA SUCURSAL DO RIO

Um novo laudo pericial elaborado pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro por determinação judicial indica que a cantora Cássia Eller, morta em 29 de dezembro de 2001, pode ter sido vítima de um erro médico.
Segundo o laudo, assinado pelas peritas Eliani Spinelli e Tânia Donatti, médicas legistas do Ministério Público, e divulgado ontem pelo jornal "O Dia", a equipe da Clínica Santa Maria, no bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio, onde Cássia morreu, teria agido equivocadamente ao ministrar o medicamento Plasil à cantora.
De acordo com elas, o remédio é contra-indicado a pessoas que fazem uso de álcool e drogas e pode ter provocado a primeira das quatro paradas cardiorrespiratórias que levaram Cássia à morte.
As peritas consideram que os sintomas apresentados pela cantora e as informações dadas pelas amigas no momento da internação indicavam que a cantora poderia ter ingerido álcool e drogas.
O advogado da clínica diz que elas "nunca deram certeza" de que a cantora teria ingerido substâncias entorpecentes.
A assessoria criminal do Ministério Público recomendou a promotores da 6ª Promotoria de Investigação Penal que denunciem os médicos por homicídio culposo -crime em que não há intenção de matar.
Caberá agora ao promotor Alexandre Temístocles decidir pela reabertura ou não do inquérito. Até a conclusão desta edição, ele não havia se manifestado.
O caso havia sido arquivado pelo próprio Ministério Público em 2002. Na época, o órgão considerou conclusivo o laudo final do IML que afirmara que a artista havia morrido em conseqüência de quatro paradas cardiorrespiratórias, mas não mencionava o que havia provocado a primeira das quatro paradas cardíacas sofridas pela artista. Por esse motivo, a Justiça negou o arquivamento.
A Justiça considerou também que foram inadequados os exames toxicológicos feitos pelo Instituto Médico Legal na época, que não encontraram vestígios de álcool e drogas no sangue, urina e vísceras de Cássia.
De acordo com este laudo do Ministério Público, o IML não dispunha, na ocasião do exame, de técnica disponível para detectar a presença de álcool ou cocaína no organismo da cantora.
Elas alegaram que, após ingerida, a cocaína desaparece rapidamente no sangue (em torno de 30 a 75 minutos, segundo o laudo). O álcool, a mesma coisa. Com isso, segundo as peritas, o resultado negativo dos exames toxicológicos não exclui a possibilidade da ingestão de substâncias entorpecentes.
Apesar de não terem sido encontrados vestígios de álcool ou cocaína no corpo da cantora, as peritas afirmaram, no laudo, que o uso pode ser comprovado pelos sintomas apresentados por Cássia quando foi internada e por informações prestadas por parentes e amigos.
Quando foi hospitalizada, a cantora estava acompanhada por duas amigas, as percussionistas Elaine Silva Moreira, a Lan Lan, e Thamyna Souza Carvalho. Na época, Lan Lan disse aos médicos que, antes de ser internada, Cássia havia ingerido bebidas alcóolicas e declarou que achava que a amiga tinha inalado cocaína.
Já Thamyna afirmou que Cássia estava com hálito de quem havia ingerido bebida alcoólica e apresentava uma secreção branca escorrendo pelo nariz que ela desconfiava ser cocaína.
As peritas informaram que, como havia fortes suspeitas de intoxicação por cocaína, a equipe médica deveria ter aplicado medicamentos como o Diazepam e Nitrendipina e não o Plasil.

Ação da família
O advogado da família de Cássia, Marcos Campuzano, informou que os parentes da cantora poderão entrar com uma ação de perdas e danos morais e materiais contra a Clínica Santa Maria. Ele disse que os familiares da artista se reunirão no início de novembro para decidir o que fazer.
Campuzano disse que a família não tinha dúvidas de que a cantora morreu por erro médico. Segundo ele, um laudo particular elaborado por um legista amigo dos parentes confirmava a informação. O advogado declarou que a companheira de Cássia, Maria Eugênia Martins, não fará declarações sobre o caso antes de se reunir com toda a família. Maria Eugênia tem hoje a guarda do filho de Cássia Eller.


Próximo Texto: Morte ocorreu no auge do sucesso da cantora
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.