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MORTE INEXPLICADA
Peritas dizem que médicos não deveriam ter dado Plasil à cantora, por causa de suposta ingestão de álcool e drogas
Laudo indica erro médico no caso Cássia Eller
DA SUCURSAL DO RIO
Um novo laudo pericial elaborado pelo Ministério Público Estadual do Rio de Janeiro por determinação judicial indica que a
cantora Cássia Eller, morta em 29
de dezembro de 2001, pode ter sido vítima de um erro médico.
Segundo o laudo, assinado pelas
peritas Eliani Spinelli e Tânia Donatti, médicas legistas do Ministério Público, e divulgado ontem
pelo jornal "O Dia", a equipe da
Clínica Santa Maria, no bairro de
Laranjeiras, na zona sul do Rio,
onde Cássia morreu, teria agido
equivocadamente ao ministrar o
medicamento Plasil à cantora.
De acordo com elas, o remédio é
contra-indicado a pessoas que fazem uso de álcool e drogas e pode
ter provocado a primeira das quatro paradas cardiorrespiratórias
que levaram Cássia à morte.
As peritas consideram que os
sintomas apresentados pela cantora e as informações dadas pelas
amigas no momento da internação indicavam que a cantora poderia ter ingerido álcool e drogas.
O advogado da clínica diz que
elas "nunca deram certeza" de
que a cantora teria ingerido substâncias entorpecentes.
A assessoria criminal do Ministério Público recomendou a promotores da 6ª Promotoria de Investigação Penal que denunciem
os médicos por homicídio culposo -crime em que não há intenção de matar.
Caberá agora ao promotor Alexandre Temístocles decidir pela
reabertura ou não do inquérito.
Até a conclusão desta edição, ele
não havia se manifestado.
O caso havia sido arquivado pelo próprio Ministério Público em
2002. Na época, o órgão considerou conclusivo o laudo final do
IML que afirmara que a artista havia morrido em conseqüência de
quatro paradas cardiorrespiratórias, mas não mencionava o que
havia provocado a primeira das
quatro paradas cardíacas sofridas
pela artista. Por esse motivo, a
Justiça negou o arquivamento.
A Justiça considerou também
que foram inadequados os exames toxicológicos feitos pelo Instituto Médico Legal na época, que
não encontraram vestígios de álcool e drogas no sangue, urina e
vísceras de Cássia.
De acordo com este laudo do
Ministério Público, o IML não
dispunha, na ocasião do exame,
de técnica disponível para detectar a presença de álcool ou cocaína no organismo da cantora.
Elas alegaram que, após ingerida, a cocaína desaparece rapidamente no sangue (em torno de 30
a 75 minutos, segundo o laudo). O
álcool, a mesma coisa. Com isso,
segundo as peritas, o resultado
negativo dos exames toxicológicos não exclui a possibilidade da
ingestão de substâncias entorpecentes.
Apesar de não terem sido encontrados vestígios de álcool ou
cocaína no corpo da cantora, as
peritas afirmaram, no laudo, que
o uso pode ser comprovado pelos
sintomas apresentados por Cássia
quando foi internada e por informações prestadas por parentes e
amigos.
Quando foi hospitalizada, a
cantora estava acompanhada por
duas amigas, as percussionistas
Elaine Silva Moreira, a Lan Lan, e
Thamyna Souza Carvalho. Na
época, Lan Lan disse aos médicos
que, antes de ser internada, Cássia
havia ingerido bebidas alcóolicas
e declarou que achava que a amiga tinha inalado cocaína.
Já Thamyna afirmou que Cássia
estava com hálito de quem havia
ingerido bebida alcoólica e apresentava uma secreção branca escorrendo pelo nariz que ela desconfiava ser cocaína.
As peritas informaram que, como havia fortes suspeitas de intoxicação por cocaína, a equipe médica deveria ter aplicado medicamentos como o Diazepam e Nitrendipina e não o Plasil.
Ação da família
O advogado da família de Cássia, Marcos Campuzano, informou que os parentes da cantora
poderão entrar com uma ação de
perdas e danos morais e materiais
contra a Clínica Santa Maria. Ele
disse que os familiares da artista
se reunirão no início de novembro para decidir o que fazer.
Campuzano disse que a família
não tinha dúvidas de que a cantora morreu por erro médico. Segundo ele, um laudo particular
elaborado por um legista amigo
dos parentes confirmava a informação. O advogado declarou que
a companheira de Cássia, Maria
Eugênia Martins, não fará declarações sobre o caso antes de se
reunir com toda a família. Maria
Eugênia tem hoje a guarda do filho de Cássia Eller.
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