São Paulo, quarta-feira, 27 de outubro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MORTE INEXPLICADA

Para advogado, caso tem relação com estresse; Anvisa diz que óbitos, raros, são associados a injeções de Plasil

Clínica nega a hipótese de falha médica

DA SUCURSAL DO RIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Encarregado pela Clínica Santa Maria para falar sobre o caso, o advogado Luiz Marcelo Lubanco negou que a morte de Cássia Eller tenha sido provocada por erro médico. Ele disse que o novo laudo do Ministério Público Estadual não apresenta provas concretas de que a cantora teria ingerido álcool e cocaína antes de morrer.
"O laudo só fala em hipóteses que precisam de uma análise criteriosa para serem comprovadas. É preciso de provas técnicas. Tenho certeza de que não houve conduta equivocada da equipe médica", afirmou.
Segundo Lubanco, nem mesmo as declarações da percussionista Lan Lan, que disse que Cássia havia ingerido álcool e achava que usara cocaína, são consistentes para a Justiça acreditar que a cantora utilizou substâncias entorpecentes. "Durante todo tempo, elas disseram "eu acho que usou", mas não dão certeza", disse Lubanco.
Na opinião do advogado, o resultado dos exames toxicológicos, que descartaram o uso de álcool e cocaína, já basta para tornar o novo laudo do Ministério Público sem consistência.
Lubanco afirmou que o laudo da Promotoria não apresenta nenhuma relação concreta da terapêutica adotada (o uso do medicamento Plasil) e a morte da cantora. "O Plasil não interage com o coração." Para o advogado, a parada cardiorespiratória que levou Cássia Eller a morte pode ser sido provocada por estresse.
"A maioria das pessoas jovens que morrem por problemas cardíacos é devido ao estresse", afirmou Lubanco. Quando morreu, a cantora tinha 39 anos.

Mortes raras
Os raros registros de mortes associadas à metoclopramida, substância ativa do medicamento que foi aplicado na cantora, são com a forma injetável do remédio, informou a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
A droga, para vômitos, só pode ser vendida com receita médica.
Segundo o gerente Medicamentos Novos, Pesquisa e Ensaios Clínicos da agência, Sérgio Nishioka, a base de dados consultada pela Anvisa relata seis mortes por parada cardíaca e arritmias associadas à forma injetável droga. Não há, na literatura, explicação para os eventos. "Pode estar relacionado até à velocidade da infusão."
Nishioka afirma que não há relato de evento adverso grave no uso oral da substância. A metoclopramida, diz, é uma das drogas mais usadas contra vômitos.
O toxicologista Anthony Wong, responsável pelo Centro de Toxicologia do Hospital das Clínicas de São Paulo, disse que só há na literatura relato de mortes após a associação de estimulantes com a substância, não de álcool.
A Aventis Pharma, fabricante do remédio, informou que as reações adversas mais comuns registradas com o remédio são: inquietação, sonolência e fadiga, que ocorrem em aproximadamente 10% dos pacientes.
"Como acontece com muitos outros medicamentos, interação medicamentosa pode ocorrer, por exemplo, quando se administra a metoclopramida junto com álcool, sedativos, hipnóticos, narcóticos ou tranqüilizantes. Neste caso, os efeitos sedativos do medicamento podem ser potencializados", segundo o informe da Aventis. (MARIO HUGO MONKEN E FABIANE LEITE)



Texto Anterior: Morte ocorreu no auge do sucesso da cantora
Próximo Texto: Urbanidade - Gilberto Dimenstein: Memória de vinil
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.