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Ministério da Agricultura tem 1 fiscal para 8 laticínios
Para associação, cada funcionário do governo deveria cuidar de até 4 fabricantes
Dos 212 funcionários do serviço de inspeção federal, dois foram presos sob acusação de facilitar a fraude do leite em MG
ANGELA PINHO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Ministério da Agricultura
tem 212 fiscais para inspecionar 1.700 produtores de leite e
derivados em todo o país, segundo dados da pasta -a proporção é de 1 para cada 8 fabricantes. Eles são ligados ao SIF
(Serviço de Inspeção Federal).
A Associação Nacional dos
Fiscais Federais Agropecuários
estima em 400 o total de fiscais
necessários -1 para cada 4. O
ministério não comentou.
Após a operação desencadeada pela Polícia Federal na segunda em Minas Gerais e que
resultou em 27 prisões, o quadro do ministério já sofreu duas
baixas. Isso porque entre os
presos estão dois fiscais, acusados de participação na adulteração de leite em Minas -e que
pode ter se repetido em Goiás,
diz o Procon local.
A operação ocorreu após três
meses de investigação da PF e
do Ministério Público de Uberaba, que detectou adulteração
no leite da Copervale (Cooperativa dos Produtores de Leite
do Vale do Rio Grande), de
Uberaba, e da Casmil (Cooperativa Agropecuária do Sudoeste Mineiro), de Passos. A investigação apontou que substâncias como soda cáustica, água
oxigenada e citrato de sódio
eram adicionadas ao leite. Entre os clientes das cooperativas
estão Parmalat, Nestlé e Calu,
além de marcas próprias, como
a Centenário (da Copervale).
Luiz Antonio da Silveira, preso segunda, era fiscal da regional de Passos e, segundo o Ministério Público mineiro, atuava "direta e permanentemente
na fiscalização da Casmil". O
outro preso é Afonso Antonio
da Silva, responsável pela fiscalização da Copervale e suspeito
de facilitar a fraude. A Folha
não conseguiu contatá-los.
Os 212 ficais do ministério
atuam desde a produção até a
embalagem do produto, monitorando também o processo de
pasteurização do leite.
Depois que o leite é embalado e está pronto para ser comercializado, a fiscalização
passa a ser tarefa da Anvisa e
dos órgãos estaduais e municipais de vigilância sanitária.
Maria Cecília Martins Brito,
diretora da Anvisa, afirmou
que os fiscais não inspecionavam "de maneira sistemática"
soda cáustica e água oxigenada
no leite, pois não havia denúncia nesse sentido. Agora, essas
substâncias serão avaliadas.
Brito ressaltou que, após receberem autorização da Anvisa, a responsabilidade pela
qualidade do produto é das empresas, mesmo que tenham
comprado o leite cru de outro
estabelecimento.
Segundo a ONG Contas
Abertas, o ministério gastou
neste ano cerca de R$ 3,1 milhões no programa de inspeção
industrial e sanitária dos produtos, subprodutos e derivados
de origem animal. O valor é
maior do que o gasto no ano
passado -R$ 1,3 milhão-, mas
menor do que o de 2004, quando foram direcionados ao programa R$ 4,2 milhões.
Conivência
Boletins de análise do leite
com suspeita de adulteração
pela Casmil foram preenchidos
pelo SIF indicando ausência de
água oxigenada, segundo documento do Ministério Público
de MG. "A análise dos referidos
produtos feito pelo Lanagro
[Laboratório Nacional Agropecuário] veio a confirmar que
efetivamente estava sendo
fraudado o leite fornecido pela
Casmil, e, o que é pior, ideologicamente falsos se revelaram os
documentos emitidos pelo
SIF", diz.
Para os promotores, esse fato
"confirma a conivência dos fiscais com a fraude".
Colaboraram PAULO PEIXOTO , da Agência Folha, em Belo Horizonte, e JOSÉ ERNESTO CREDENDIO , da Reportagem Local
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