São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Leite brasileiro é ruim, diz pesquisadora

Andrea Rossi Scalco, professora da Unesp, afirma que os laticínios brasileiros só se preocupam com o volume de produção

Para a docente, o problema se estende a toda a cadeia leiteira, desde a produção até a distribuição, porque demanda supera oferta

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL

Laticínios raramente rejeitam leite de baixa qualidade enviado para processamento, afirma Andrea Rossi Scalco, professora do Cepeagro (Centro de Pesquisa em Administração e Agronegócios) da Unesp, com mestrado em qualidade na agroindústria do leite.
Segundo ela, isso ocorre porque, como em parte do ano a demanda supera a oferta e os preços sobem, os laticínios precisam garantir fornecedores, principalmente na entressafra. A preocupação do laticínio é com volume, não com qualidade, diz a professora.

 

FOLHA - Que tipo de leite é consumido no Brasil?
ANDREA ROSSI SCALCO
- A baixa qualidade é notória. Não está vinculada somente aos laticínios, mas a toda cadeia, desde a produção até a distribuição final. É preciso haver um mecanismo de coordenação. Os produtores não têm noção nenhuma do que é e como está a qualidade do leite, nem sabem que os parâmetros existem.

FOLHA - Os laticínios atuam para contornar essa deficiência?
SCALCO
- Não vejo esforço dos laticínios com relação a isso. Por enquanto, o Brasil não supre a necessidade de leite, tem que importar. Está faltando, então ninguém vai exigir qualidade. O laticínio compra o que está na frente dele, não está preocupado se o consumidor vai ter algum problema ou não. A preocupação do laticínio é com volume, não com qualidade. Só se preocupa quando afeta a produtividade dele, se, por exemplo, a quantidade de microorganismos prejudica o rendimento na produção de queijo.

FOLHA - Mas o consumidor não reage contra essa deficiência?
SCALCO
- Não temos no Brasil uma cultura formada para o consumo de produtos de qualidade, e o preço ainda é importante. E tudo que a indústria vê na frente ela pega.

FOLHA - E as cooperativas, que têm um papel importante na cadeia de produção?
SCALCO
- Fazem algum programa de melhoria, mas há desmotivação do produtor, e ele não participa. Fala-se mais em produtividade e qualidade, mas a indústria exige volume, a qualidade não é levada em consideração.

FOLHA - Então, é um problema que começa no campo e vai se alastrando?
SCALCO
- Na produção, é preciso melhorar procedimentos de higiene e limpeza, e isso você não encontra na maioria das propriedades. Muitas vezes é porque o produtor não tem conhecimento, a ponto de limpar o peito da vaca com o rabo do animal e achar que está limpo.

FOLHA - Os laticínios estão estruturados para oferecer bons produtos?
SCALCO
- Estão, com equipamentos básicos, mas têm. A única área travada é a de queijo, que é feito em tanques abertos.

FOLHA - Há um problema de refrigeração já nas propriedades. Os laticínios descartam leite que deveria ser descartado?
SCALCO
- É muito difícil que laticínios recusem, apesar de falarem que recusam. Os que operam com capacidade baixa, se observam que tem antibiótico no tanque, não vão jogar fora, vão processar aquele produto.

FOLHA - Como contornar tantos problemas?
SCALCO
- É necessário começar com a capacitação dos produtores. Projeto tem, há uma gama de projetos, mas... É complicado falar para o produtor: "Você tem que fazer tudo isso aqui". Ele pergunta: "Quanto eu vou receber a mais por isso?".


Texto Anterior: Ministério da Agricultura tem 1 fiscal para 8 laticínios
Próximo Texto: Presidente da Copervale é o único que continua preso após operação da PF
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.