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Leite brasileiro é ruim, diz pesquisadora
Andrea Rossi Scalco, professora da Unesp, afirma que os laticínios brasileiros só se preocupam com o volume de produção
Para a docente, o problema se estende a toda a cadeia leiteira, desde a produção até a distribuição, porque demanda supera oferta
JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
DA REPORTAGEM LOCAL
Laticínios raramente rejeitam leite de baixa qualidade enviado para processamento,
afirma Andrea Rossi Scalco,
professora do Cepeagro (Centro de Pesquisa em Administração e Agronegócios) da Unesp,
com mestrado em qualidade na
agroindústria do leite.
Segundo ela, isso ocorre porque, como em parte do ano a
demanda supera a oferta e os
preços sobem, os laticínios precisam garantir fornecedores,
principalmente na entressafra.
A preocupação do laticínio é
com volume, não com qualidade, diz a professora.
FOLHA - Que tipo de leite é consumido no Brasil?
ANDREA ROSSI SCALCO - A baixa
qualidade é notória. Não está
vinculada somente aos laticínios, mas a toda cadeia, desde a
produção até a distribuição final. É preciso haver um mecanismo de coordenação. Os produtores não têm noção nenhuma do que é e como está a qualidade do leite, nem sabem que
os parâmetros existem.
FOLHA - Os laticínios atuam para
contornar essa deficiência?
SCALCO - Não vejo esforço dos
laticínios com relação a isso.
Por enquanto, o Brasil não supre a necessidade de leite, tem
que importar. Está faltando,
então ninguém vai exigir qualidade. O laticínio compra o que
está na frente dele, não está
preocupado se o consumidor
vai ter algum problema ou não.
A preocupação do laticínio é
com volume, não com qualidade. Só se preocupa quando afeta a produtividade dele, se, por
exemplo, a quantidade de microorganismos prejudica o rendimento na produção de queijo.
FOLHA - Mas o consumidor não
reage contra essa deficiência?
SCALCO - Não temos no Brasil
uma cultura formada para o
consumo de produtos de qualidade, e o preço ainda é importante. E tudo que a indústria vê
na frente ela pega.
FOLHA - E as cooperativas, que têm
um papel importante na cadeia de
produção?
SCALCO - Fazem algum programa de melhoria, mas há desmotivação do produtor, e ele não
participa. Fala-se mais em produtividade e qualidade, mas a
indústria exige volume, a qualidade não é levada em consideração.
FOLHA - Então, é um problema que
começa no campo e vai se alastrando?
SCALCO - Na produção, é preciso melhorar procedimentos de
higiene e limpeza, e isso você
não encontra na maioria das
propriedades. Muitas vezes é
porque o produtor não tem conhecimento, a ponto de limpar
o peito da vaca com o rabo do
animal e achar que está limpo.
FOLHA - Os laticínios estão estruturados para oferecer bons produtos?
SCALCO - Estão, com equipamentos básicos, mas têm. A
única área travada é a de queijo,
que é feito em tanques abertos.
FOLHA - Há um problema de refrigeração já nas propriedades. Os laticínios descartam leite que deveria
ser descartado?
SCALCO - É muito difícil que laticínios recusem, apesar de falarem que recusam. Os que
operam com capacidade baixa,
se observam que tem antibiótico no tanque, não vão jogar fora, vão processar aquele produto.
FOLHA - Como contornar tantos
problemas?
SCALCO - É necessário começar
com a capacitação dos produtores. Projeto tem, há uma gama
de projetos, mas... É complicado falar para o produtor: "Você
tem que fazer tudo isso aqui".
Ele pergunta: "Quanto eu vou
receber a mais por isso?".
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