São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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Peças resgatadas são "lixão", diz especialista

DA SUCURSAL DO RIO

O mau estado do material encontrado pela Polícia Federal indica que ele era uma espécie de "lixão". A expressão foi usada pela diretora do Arquivo Geral da Cidade do Rio, Beatriz Kushnir, não para diminuir a importância do achado, mas para ressaltar que já não está mais com a quadrilha de Laéssio Rodrigues de Oliveira o que de melhor foi furtado.
Kushnir foi chamada pelo delegado Alexandre Saraiva às 20h30 de quinta-feira para conferir o material. "Muitas coisas já deviam estar havia bastante tempo com o Laéssio, porque estão em decomposição e com marcas de fungos", contou a historiadora.
As gravuras de Debret e Rugendas, aparentemente as peças mais valiosas do lote, têm fungos e cortes, o que pode explicar não terem sido repassadas. Esses furtos são encomendados por colecionadores e não ficam por muito tempo com os ladrões. Podem parar também nas mãos de leiloeiros, como no caso de dez livros e três gravuras da Biblioteca Mário de Andrade, de São Paulo, que haviam sido leiloados pela Babel Livros, no Rio, e foram recuperados no ano passado.
"O importante é que o delegado Saraiva intensificou a campanha, como tinha prometido, e o Laéssio foi preso. Acho que será possível mapear agora para onde foram as obras e quem são os colecionadores que fazem as encomendas", disse Kushnir.
Ela começará na segunda-feira a identificar o que pertence ao arquivo que dirige. Em junho de 2006, no feriado de Corpus Christi, ladrões retiraram do prédio cerca de 2.000 fotografias, além de cartões-postais, gravuras, revistas, livros raros e mapas. Não foi arrombada uma porta sequer. E nada foi recuperado até hoje.
Na Biblioteca Nacional, também sem arrombamentos, sumiram 949 peças, incluindo 751 fotos, perda avaliada em R$ 7,5 milhões. Uma pequena parte foi recuperada. O Museu Nacional recuperou mais de 200 gravuras arrancadas de seus livros. As perdas foram descobertas em 2004 e a PF chegou a Laéssio como um dos ladrões.
A pedido da PF e sem valor de perícia, Kushnir avaliou que os jornais antigos de São Paulo encontrados podem ser do acervo da Biblioteca Mário de Andrade e revistas de teatro, do Museu do Teatro, do Rio. E há exemplares da "Revista da Semana" com o carimbo da Biblioteca Nacional. Procurados pela Folha, a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional e o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia disseram aguardar um contato da PF para se manifestar. Um representante da Mário de Andrade virá ao Rio na segunda ver o material.


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