São Paulo, sábado, 27 de outubro de 2007

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ENTREVISTA / NILSON FALCÃO

Lei da guarda compartilhada de filhos muda muito pouco

Na opinião do líder do movimento Pais por Justiça, que reúne cerca de 30 homens em protestos no Rio de Janeiro, guarda dividida deveria ser imposta

O projeto de lei que cria a guarda compartilhada -no qual o juiz, em uma separação, tenta priorizar que o pai e a mãe fiquem responsáveis pelo filho, independentemente de com quem ele more- não muda "quase nada", opina Nilson Falcão, 41, líder do movimento Pais por Justiça, que agrega cerca de 30 pais em protestos no Rio. "Nós queríamos que a lei fosse imposta." Para ele, o simples poder do juiz de decidir pela guarda compartilhada pode ser frustrado por "mulheres que fazem acusações infundadas sobre o pais".

DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL

 

FOLHA - O projeto de lei, se aprovado pelo presidente Lula, será uma vitória para pais que se separarem?
NILSON FALCÃO
- Não, não acho que o projeto seja significativo. O juiz já pode, hoje, conceder a guarda compartilhada, se os pais concordarem. O que muda, então? Quase nada. Só vai valer se o casal se der bem. Se a mãe não concordar, pintar o ex-marido como monstro, o juiz continuará deixando o filho com ela e o pai vai continuar servindo só para pagar pensão e ser uma visita na vida do filho.

FOLHA - O que seria mais justo?
FALCÃO
- Nós queríamos que a lei fosse imposta. Separou? Então a criança tem o direito de continuar tendo o pai e a mãe. Existe uma visão cultural de que é a mãe quem vai dar as melhores condições de educação para o filho. Tudo bem, a criança pode até ficar com ela, mas ter a guarda compartilhada significa que os pais devem decidir juntos qual a escola do filho, receberem juntos o boletim, independentemente de com quem a criança mora.

FOLHA - Morar junto não é, então, fundamental?
FALCÃO
- Seria ótimo, mas não dá para querer que o filho tenha com o pai a mesma convivência que tinha antes da separação. Mas também não dá para ser o "pai-lhaço", que só encontra o filho uma vez a cada duas semanas para fazer brincadeirinha e levar no McDonald's. Quero buscar na escola, ver o treino de natação.

FOLHA - Muitas vezes são os pais que preferem o distanciamento.
FALCÃO
- É claro que tem muito pai que se contenta em só ver o filho de vez em quando. É a maioria? Não sei. Mas tem muitos que querem conviver, sim. O problema é que, quando está casada, a mulher acha o marido maravilhoso. Depois se separa e diz até que é pedófilo, para impedir de ver o filho. A Justiça é conivente e, mesmo sem investigação, afasta o filho do pai.

FOLHA - Como foi o seu caso?
FALCÃO
- Meu filho tem cinco anos e não convivo com ele faz um ano e sete meses. Não nos vemos desde julho. A mãe me acusou [de abuso sexual] sem provas. É um crime que é para lá de hediondo, uma acusação que, por si só, deixa o juiz desconfiado.

FOLHA - Mas como provar que o pai é inocente?
FALCÃO
- A Justiça precisa ser mais rápida para averiguar. Abuso é algo muito facilmente detectável por psicólogos, por exemplo, só que o judiciário é devagar. Até eu provar que eu não fiz nada, lá se foram quatro, cinco anos perdidos. Então você paga pela mentira de alguém.

FOLHA - Os colegas do movimento receberam esse tipo de acusação?
FALCÃO
- Muitos receberam. Existe uma avalanche de denúncias sexuais contra pais separados. É uma estratégia fácil: a mulher, orientada pelo advogado, acusa o homem de pedofilia, que é algo muito grave, e o juiz se assusta. Ninguém investiga direito, e aí o filho fica sem ver o pai. Temos um caso em que o juiz não suspendeu as visitas porque viu que não existia provas contra o pai. Mas o judiciário é, em geral, acomodado.

FOLHA - Como é receber essa acusação?
FALCÃO
- Tem que ter muito equilíbrio. Na época, eu estava até iniciando um relacionamento e isso me atrapalhou. Hoje, estou namorando de novo, ela também é separada, me entende bem, acha importante que eu lute pelo meu filho.

FOLHA - Haverá outro protesto?
FALCÃO
- Estamos planejando algo para o Natal, que é uma época difícil para o pai que está longe do filho.

FOLHA - Qual a adesão do movimento?
FALCÃO
- No Rio temos cerca de 30 pais que participam dos encontros, mas há contatos de fora da cidade que se interessaram pela luta. Na comunidade do Orkut ["Pais por Justiça"], são mais de 400 membros. E temos o blog para quem quiser entrar em contato [www.paisporjustica.blogspot.com].


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