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ENTREVISTA / NILSON FALCÃO
Lei da guarda compartilhada de filhos muda muito pouco
Na opinião do líder do movimento Pais por Justiça, que reúne cerca de 30 homens em protestos no Rio de Janeiro, guarda dividida deveria ser imposta
O projeto de lei que cria a guarda compartilhada -no
qual o juiz, em uma separação, tenta priorizar que o
pai e a mãe fiquem responsáveis pelo filho, independentemente de com quem ele more- não muda "quase nada", opina Nilson Falcão, 41, líder do movimento
Pais por Justiça, que agrega cerca de 30 pais em protestos no Rio. "Nós queríamos que a lei fosse imposta." Para ele, o simples poder do juiz de decidir pela
guarda compartilhada pode ser frustrado por "mulheres que fazem acusações infundadas sobre o pais".
DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL
FOLHA - O projeto de lei, se aprovado pelo presidente Lula, será uma vitória para pais que se separarem?
NILSON FALCÃO - Não, não acho
que o projeto seja significativo.
O juiz já pode, hoje, conceder a
guarda compartilhada, se os
pais concordarem. O que muda,
então? Quase nada. Só vai valer
se o casal se der bem. Se a mãe
não concordar, pintar o ex-marido como monstro, o juiz continuará deixando o filho com
ela e o pai vai continuar servindo só para pagar pensão e ser
uma visita na vida do filho.
FOLHA - O que seria mais justo?
FALCÃO - Nós queríamos que a
lei fosse imposta. Separou? Então a criança tem o direito de
continuar tendo o pai e a mãe.
Existe uma visão cultural de
que é a mãe quem vai dar as melhores condições de educação
para o filho. Tudo bem, a criança pode até ficar com ela, mas
ter a guarda compartilhada significa que os pais devem decidir
juntos qual a escola do filho, receberem juntos o boletim, independentemente de com
quem a criança mora.
FOLHA - Morar junto não é, então,
fundamental?
FALCÃO - Seria ótimo, mas não
dá para querer que o filho tenha
com o pai a mesma convivência
que tinha antes da separação.
Mas também não dá para ser o
"pai-lhaço", que só encontra o
filho uma vez a cada duas semanas para fazer brincadeirinha e
levar no McDonald's. Quero
buscar na escola, ver o treino de
natação.
FOLHA - Muitas vezes são os pais
que preferem o distanciamento.
FALCÃO - É claro que tem muito
pai que se contenta em só ver o
filho de vez em quando. É a
maioria? Não sei. Mas tem muitos que querem conviver, sim.
O problema é que, quando está
casada, a mulher acha o marido
maravilhoso. Depois se separa
e diz até que é pedófilo, para
impedir de ver o filho. A Justiça
é conivente e, mesmo sem investigação, afasta o filho do pai.
FOLHA - Como foi o seu caso?
FALCÃO - Meu filho tem cinco
anos e não convivo com ele faz
um ano e sete meses. Não nos
vemos desde julho. A mãe me
acusou [de abuso sexual] sem
provas. É um crime que é para
lá de hediondo, uma acusação
que, por si só, deixa o juiz desconfiado.
FOLHA - Mas como provar que o
pai é inocente?
FALCÃO - A Justiça precisa ser
mais rápida para averiguar.
Abuso é algo muito facilmente
detectável por psicólogos, por
exemplo, só que o judiciário é
devagar. Até eu provar que eu
não fiz nada, lá se foram quatro,
cinco anos perdidos. Então você paga pela mentira de alguém.
FOLHA - Os colegas do movimento
receberam esse tipo de acusação?
FALCÃO - Muitos receberam.
Existe uma avalanche de denúncias sexuais contra pais separados. É uma estratégia fácil:
a mulher, orientada pelo advogado, acusa o homem de pedofilia, que é algo muito grave, e o
juiz se assusta. Ninguém investiga direito, e aí o filho fica sem
ver o pai. Temos um caso em
que o juiz não suspendeu as visitas porque viu que não existia
provas contra o pai. Mas o judiciário é, em geral, acomodado.
FOLHA - Como é receber essa
acusação?
FALCÃO - Tem que ter muito
equilíbrio. Na época, eu estava
até iniciando um relacionamento e isso me atrapalhou.
Hoje, estou namorando de novo, ela também é separada, me
entende bem, acha importante
que eu lute pelo meu filho.
FOLHA - Haverá outro protesto?
FALCÃO - Estamos planejando
algo para o Natal, que é uma
época difícil para o pai que está
longe do filho.
FOLHA - Qual a adesão do movimento?
FALCÃO - No Rio temos cerca de
30 pais que participam dos encontros, mas há contatos de fora da cidade que se interessaram pela luta. Na comunidade
do Orkut ["Pais por Justiça"],
são mais de 400 membros. E temos o blog para quem quiser
entrar em contato [www.paisporjustica.blogspot.com].
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