São Paulo, segunda-feira, 27 de outubro de 2008

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Creche usa "mala da diversidade" para discutir diferenças

Eduardo Anizelli/Folha Imagem
Crianças da creche Heitor Villa Lobos (Santo André), que usa uma 'mala da diversidade', com bonecos de cores branca, preta e marrom, para debater a igualdade racial

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTO ANDRÉ DA AGÊNCIA FOLHA

Quando uma das professoras da creche Heitor Villa-Lobos, em Santo André, retira uma maleta do armário, as crianças correm em sua direção. Querem os bonecos de pano semelhantes a cada uma delas. "Tem branco, preto e marrom. E os cabelos são todos diferentes", dizem os alunos, de três a cinco anos, todos ao mesmo tempo.
Conhecida como a "Mala da Diversidade", o projeto da creche municipal foi premiado no 4º Prêmio Educar para a Igualdade Racial, do Ceert (Centro de Estudos das Relações do Trabalho e Desigualdades), que reconhece escolas e professores que cumprem a lei 10.639.
Em 2007, após atividade em que os alunos fizeram auto-retratos no papel em tamanho real, os educadores, que passaram por curso de formação do MEC, decidiram elaborar bonecos que as crianças pudessem levar para casa.
Os professores costuraram bonequinhos de pano em branco, marrom claro e marrom escuro. Chamaram os pais dos 197 alunos da creche para escolher os que representavam seus filhos e acrescentar rosto, cabelo e roupa. Alguns pais de filhos negros, conta a diretora da creche, Rosane Arioza, escolheram a cor branca ou a marrom claro para seus filhos.
"Neste ano, depois de toda a discussão sobre as diferenças entre os colegas, notamos crianças que começaram a se queixar e dizer: "minha mãe me fez branca, mas eu sou marrom". A criança não estava se identificando. Chamamos os pais, que concordaram em refazer os bonecos."
A diretora estima que 20% dos alunos sejam negros.
Todas as segundas, um sorteio nas salas decide quem vai levar a mala para casa por três dias. Em um livro de depoimentos guardado dentro da mala, os pais escrevem sobre as experiências dos filhos com os bonecos. "O objetivo é que reconheçam as diferenças e melhore a auto-estima desde cedo", diz Arioza. A creche promove ainda atividades com comida típica, música e dança africanas. (CA e TR)


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