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URBANISMO
Área arborizada tem calçadas largas e vias sinuosas
Trecho de Interlagos é tombado para preservar o clima bucólico
AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL
Calçadas largas -verdadeiros
tapetes de grama- separando os
casarões solenes das ruas sinuosas e tranqüilas, ponteadas por
floreiras. Todas essas características, que compõem parte do bairro
de Interlagos, na zona sul de São
Paulo, agora correm menos risco
de sucumbir ao avanço da autofagia paulistana: a região foi tombada pelo Conpresp (conselho municipal de preservação do patrimônio histórico).
A medida, aprovada por unanimidade na última terça-feira, entrou em vigor ao ser publicada
ontem, no "Diário Oficial" do
município. O tombamento se baseia no valor ambiental, paisagístico, histórico e turístico do bairro
-criado no início do século 20
pelo engenheiro Louis Romero
Sanson, que queria fazer do local
uma cidade-satélite de São Paulo.
A área tombada equivale, no
projeto de Sanson, à parte da "futura cidade" voltada aos imóveis
de alto padrão, segundo a socióloga Fátima Antunes, responsável
pelo estudo que norteou o processo de tombamento.
O projeto do engenheiro incluía
um loteamento popular (que se
transformou no bairro Cidade
Dutra), um centro comercial, um
hotel de luxo e uma "praia", à beira da represa Guarapiranga, para
a qual Sanson encomendou areia
das praias de Santos.
Nessa área nobre, projetada por
Sanson e pelo urbanista francês
Alfred Agache, foram criadas várias áreas verdes e vias sinuosas,
que desestimulam o trânsito de
passagem. A resolução protege
exatamente essas duas características. Entre as novidades, a proibição de alterar a largura das calçadas sem o consentimento do Conpresp e a exigência de que todos
os terrenos com mais de sete metros de fachada tenham pelo menos uma árvore na calçada que fica em frente ao imóvel.
O bairro já era considerado patrimônio ambiental desde 1989,
por meio de um decreto estadual.
As reformas internas e os serviços de manutenção de cada imóvel não precisam ser submetidas à
análise do conselho. Mas a resolução também define que as edificações não podem ter mais de dez
metros de altura (veja quadro
nesta página).
Instrumento jurídico
"Com o tombamento, ganhamos efetivamente um instrumento jurídico para recorrer em qualquer caso de ataque ao bairro",
afirma Luiz César Manguino, responsável pelo Conselho de Meio
Ambiente da Associação Benfeitores de Interlagos. Foi a entidade,
em parceria com o Centro Comunitário São Pancrácio e o grupo
Fiscais da Natureza, que encaminhou o pedido de tombamento
do bairro ao Conpresp, em 2002.
Os moradores tinham medo de
mudanças no zoneamento (a região é exclusivamente residencial) e que o próprio adensamento
da avenida Robert Kennedy pudessem comprometer o local.
"Aqui minha filha ainda pode
brincar na rua, andar de bicicleta.
Coisas que não são muito comuns
em um grande centro urbano",
diz Manguino.
"O tombamento é muito interessante. Vai manter o bairro como é agora, bem sossegado", afirma a dona de casa Vania Scarpelli,
56, que mora em Interlagos há
aproximadamente 30 anos.
O tombamento inclui a área entre o autódromo de Interlagos e a
represa Guarapiranga -o nome
Interlagos, aliás, vem do fato de a
região estar entre as represas Guarapiranga e Billings.
O autódromo não faz parte da
área protegida pelo Conpresp,
mas também está relacionado aos
planos do engenheiro Sanson. Ele
construiu o espaço e organizou
um rali como forma de atrair investidores para a região.
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