São Paulo, sábado, 27 de novembro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

URBANISMO

Área arborizada tem calçadas largas e vias sinuosas

Trecho de Interlagos é tombado para preservar o clima bucólico

AMARÍLIS LAGE
DA REPORTAGEM LOCAL

Calçadas largas -verdadeiros tapetes de grama- separando os casarões solenes das ruas sinuosas e tranqüilas, ponteadas por floreiras. Todas essas características, que compõem parte do bairro de Interlagos, na zona sul de São Paulo, agora correm menos risco de sucumbir ao avanço da autofagia paulistana: a região foi tombada pelo Conpresp (conselho municipal de preservação do patrimônio histórico).
A medida, aprovada por unanimidade na última terça-feira, entrou em vigor ao ser publicada ontem, no "Diário Oficial" do município. O tombamento se baseia no valor ambiental, paisagístico, histórico e turístico do bairro -criado no início do século 20 pelo engenheiro Louis Romero Sanson, que queria fazer do local uma cidade-satélite de São Paulo.
A área tombada equivale, no projeto de Sanson, à parte da "futura cidade" voltada aos imóveis de alto padrão, segundo a socióloga Fátima Antunes, responsável pelo estudo que norteou o processo de tombamento.
O projeto do engenheiro incluía um loteamento popular (que se transformou no bairro Cidade Dutra), um centro comercial, um hotel de luxo e uma "praia", à beira da represa Guarapiranga, para a qual Sanson encomendou areia das praias de Santos.
Nessa área nobre, projetada por Sanson e pelo urbanista francês Alfred Agache, foram criadas várias áreas verdes e vias sinuosas, que desestimulam o trânsito de passagem. A resolução protege exatamente essas duas características. Entre as novidades, a proibição de alterar a largura das calçadas sem o consentimento do Conpresp e a exigência de que todos os terrenos com mais de sete metros de fachada tenham pelo menos uma árvore na calçada que fica em frente ao imóvel.
O bairro já era considerado patrimônio ambiental desde 1989, por meio de um decreto estadual.
As reformas internas e os serviços de manutenção de cada imóvel não precisam ser submetidas à análise do conselho. Mas a resolução também define que as edificações não podem ter mais de dez metros de altura (veja quadro nesta página).

Instrumento jurídico
"Com o tombamento, ganhamos efetivamente um instrumento jurídico para recorrer em qualquer caso de ataque ao bairro", afirma Luiz César Manguino, responsável pelo Conselho de Meio Ambiente da Associação Benfeitores de Interlagos. Foi a entidade, em parceria com o Centro Comunitário São Pancrácio e o grupo Fiscais da Natureza, que encaminhou o pedido de tombamento do bairro ao Conpresp, em 2002.
Os moradores tinham medo de mudanças no zoneamento (a região é exclusivamente residencial) e que o próprio adensamento da avenida Robert Kennedy pudessem comprometer o local.
"Aqui minha filha ainda pode brincar na rua, andar de bicicleta. Coisas que não são muito comuns em um grande centro urbano", diz Manguino.
"O tombamento é muito interessante. Vai manter o bairro como é agora, bem sossegado", afirma a dona de casa Vania Scarpelli, 56, que mora em Interlagos há aproximadamente 30 anos.
O tombamento inclui a área entre o autódromo de Interlagos e a represa Guarapiranga -o nome Interlagos, aliás, vem do fato de a região estar entre as represas Guarapiranga e Billings.
O autódromo não faz parte da área protegida pelo Conpresp, mas também está relacionado aos planos do engenheiro Sanson. Ele construiu o espaço e organizou um rali como forma de atrair investidores para a região.

Texto Anterior: Há 50 anos: Embaixador russo encontra De Gaulle
Próximo Texto: Passa lento: Buraco complica tráfego de ônibus
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.