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SAÚDE
Estudo indica que mulheres são mais atingidas pela doença no Brasil; instituto prevê 467 mil novos casos em 2005
Regiões mais ricas têm maior taxa de câncer
LAURA CAPRIGLIONE
DA REPORTAGEM LOCAL
Ontem, Dia Nacional de Prevenção do Câncer, o Instituto Nacional de Câncer, Inca, veio com a
má notícia: "Em 2005, são esperados 229.610 casos novos para o sexo masculino e 237.830 para o sexo feminino".
A profecia está entre os números da "Estimativa 2005 para Incidência de Câncer no Brasil", um
calhamaço de 96 páginas que mapeia onde e como a doença deve
atacar no próximo ano.
Fruto do cruzamento de informações obtidas nos Registros de
Câncer de Base Populacional, supervisionados pelo Inca, e do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde, a
"Estimativa-2005" aponta pistas
para a compreensão dos critérios
pelos quais o câncer escolhe suas
vítimas. Abaixo, algumas delas:
1. Ser mulher é ser mais suscetível ao câncer, ao menos no Brasil.
2. Morar no Sul-Sudeste é estar
mais vulnerável à doença do que
morar no Norte-Nordeste.
3. Morar nas Capitais é estar
mais próximo do risco do que
morar no interior.
A explicação para essas tendências quem dá é a pesquisadora
Gulnar Azevedo e Silva Mendonça, coordenadora de Prevenção e
Vigilância do Inca: "Já se sabe que
a vida sedentária, a dieta rica em
gorduras e pobre em fibras, além
do tabagismo, entre outros fatores, predispõem ao aparecimento
de alguns tipos de câncer, como
de próstata, de mama e de pulmão. Já a pobreza está relacionada ao surgimento de outros tipos,
como de estômago e de colo de
útero. O Brasil de hoje já sofre
com os cânceres do desenvolvimento, sem ter resolvido aqueles
típicos do subdesenvolvimento".
Pelo argumento, fica fácil entender por que a mulher brasileira
tornou-se alvo preferencial do
câncer, ao contrário dos que ocorre, por exemplo, nos Estados Unidos, que apresenta taxas de incidência da doença em homens de
600 casos para cada 100 mil habitantes, contra 400 em mulheres.
Se mora em uma área desenvolvida, a mulher expõe-se ao risco
típico da vida moderna, representado pelos cânceres de mama e
pulmão. Se, ao contrário, mora
numa área subdesenvolvida, ainda será vítima do câncer de colo
de útero.
Em 2005, o Brasil ainda vai ter
20.690 mulheres com câncer de
colo de útero -doença típica de
países muito atrasados, já que é
possível evitá-la com um simples
exame de papanicolaou. Não é casual, assim, que, na região Norte,
uma das mais carentes de serviços
de saúde, o câncer de colo de útero seja o mais freqüente, excluídos os tumores de pele não-malignos.
No outro extremo, entre as mulheres que moram em áreas desenvolvidas do Sul e Sudeste, o
câncer prevalente é de outro tipo.
O médico oncologista Sergio Simon explica: "A incidência do
câncer de mama vem crescendo
desde os anos 50. Nos Estados
Unidos, até meados do século
passado, uma em cada doze mulheres desenvolvia esse tipo de
câncer. Hoje, esse índice subiu para uma em cada nove".
Diz-se que esse tipo de câncer é
típico de países desenvolvidos
porque atinge preferencialmente
mulheres que trocaram os trabalhos domésticos e a lida com uma
prole extensa por uma vida profissional e com prole reduzida.
"Com menos filhos, essas mulheres menstruam pelo menos três
vezes mais do que acontecia com
suas avós, há 60 anos", explica Simon (leia texto nesta página).
Alie-se o número muito maior
de menstruações a tabagismo, alcoolismo, obesidade e sedentarismo e tem-se a receita de hábitos
hiperfavoráveis ao surgimento do
câncer de mama.
É situação típica de mulheres
que vivem nos centros urbanos e
é essa a explicação da prevalência
desse tipo de câncer observada
entre habitantes nas capitais versus a média nacional.
São 52,93 casos novos para 100
mil mulheres na média nacional,
contra 82,55 casos novos nas capitais. Morar numa capital significa,
portanto, 56% mais chances de
ter um câncer de mama.
Se o quadro já não é bom para as
mulheres, deve ficar pior. O número de novos casos de câncer de
pulmão estimados para o Brasil
em 2005 é de 17.110 entre homens
e 8.680 entre as mulheres. O risco
estimado é de 19 novos casos para
cada 100 mil homens e de 9 para
cada 100 mil mulheres.
Neste caso, também, os riscos
para quem mora nas capitais é
maior. Serão 25,95 novos casos
para 100 mil homens que moram
nas capitais, contra 18,88 de média nacional. Para as mulheres, serão 9,31/100 mil na média, contra
12,78/100 mil nas capitais.
A menor incidência do câncer
de pulmão entre as mulheres,
quando comparada às taxas em
homens, pode induzir ao erro de
se acreditar que esse tipo de câncer seja um problemão para "eles"
e um probleminha para "elas".
Não é assim. "O problema é que
o hábito do tabagismo demora algo entre 20 e 30 anos para impactar as estatísticas sobre câncer de
pulmão", explica o doutor Simon.
"Como os homens começaram a
fumar em massa ainda nos anos
20, as estatísticas epidemiológicas
já mostram a devastação operada
pelo tabagismo. Nas mulheres,
que começaram a fumar na década de 70, os efeitos ainda estão se
fazendo sentir", diz Simon.
Isso explica, segundo a pesquisadora Gulnar, do Inca, por que
"as taxas em mulheres vêm aumentando, enquanto as taxas de
câncer de pulmão em homens
têm se mantido estáveis, com tendência ao declínio".
O câncer de pulmão preocupa
por sua letalidade. Para 1,4 no-
vos casos, o resultado é um óbito
em conseqüência do tumor. No
câncer de próstata, para efeito
de comparação, acontece um óbito a cada cinco novos casos diagnosticados.
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