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SISTEMA PENITENCIÁRIO
Maioria dos Centros de Detenção Provisória tem população carcerária acima de sua capacidade
CDP assume superlotação de cadeias de SP
FÁBIO AMATO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM S.JOSÉ DOS CAMPOS
O programa de desativação de
cadeias públicas e cárceres dos
distritos policiais de São Paulo
promovido pelo governador do
Estado, Geraldo Alckmin (PSDB),
está "transferindo" a superlotação dessas unidades prisionais
para os CDPs (Centros de Detenção Provisória).
Levantamento realizado pela
Folha mostra que, dos 33 CDPs
paulistas, 31 estão superlotados
(veja quadro nesta página). Um
deles, em Diadema (Grande São
Paulo), foi inaugurado no último
dia 17 e só começou a receber presos na semana passada.
O único caso em que há menos
presos do que vagas é o do CDP de
Americana (128 km a noroeste de
São Paulo). Lá, existem 576 vagas
para 408 detentos.
Essa prisão, no entanto, abriga
apenas presos transferidos de outros CDPs em razão de faltas graves, como tentativas de fuga e rebeliões. Na maior parte das outras
unidades (25), a lotação supera
em 50% o número de vagas.
A situação é mais complicada
nos CDPs de Ribeirão Preto, Santo André, São José dos Campos e
Pinheiros 1 e 2, na capital.
Nesses presídios, a população
carcerária é mais do que o dobro
das vagas disponíveis. Ribeirão
Preto (a 319 quilômetros da capital) tem a pior situação. A unidade conta com 412 vagas e abriga
997 detentos (141% a mais do que
sua capacidade).
Avanços
O secretário da Administração
Penitenciária, Nagashi Furukawa,
reconhece o problema, mas diz
que, apesar da superlotação, houve avanços na questão carcerária e
que os CDPs abrigam de maneira
mais adequada e com mais segurança os presos provisórios no interior
Os CDPs surgiram no ano de
2000, ainda no governo Mario
Covas (morto em 2001), e foram
construídos com o objetivo de receber a população das carceragens de delegacias e cadeias públicas -que estão sendo desativadas-, além de presos provisórios
-com prisão temporária decretada pela Justiça- e aqueles que
aguardam sentença.
De acordo com a Secretaria da
Administração Penitenciária, responsável pelos CDPs, existe "uma
minoria" de presos já com pena
determinada pela Justiça que continua nos Centros de Detenção
Provisória. Isso acontece, segundo a secretaria, porque os detentos aguardam julgamento em outros processos.
Rebeliões
A superlotação dos CDPs trouxe para essas unidades prisionais
um problema comum às antigas
carceragens e cadeias públicas
paulistas: a ocorrência de rebeliões, motins e fugas, que vêm se
tornando mais freqüentes nos últimos meses.
Isso apesar de os centros contarem com novos métodos e equipamentos para evitar tumultos e
fugas, como blindagem de celas
(chapas de aço no assoalho para
impedir a abertura de túneis),
além de câmeras de vigilância e
detectores de metais, para impedir que visitantes introduzam armas, telefones e drogas.
A Secretaria da Administração
Penitenciária classifica como rebelião a revolta que se espalha por
toda a unidade prisional, tem reféns, provoca prejuízos ao patrimônio e seja justificada por exigências feitas pelos presos. O motim é quando o problema é provocado por apenas parte dos presos, de maneira isolada dentro de
uma unidade.
Aumento
Em 2004, apenas uma rebelião
foi registrada em um CDP. Neste
ano, até o final de outubro, foram
pelo menos nove casos de rebeliões, motins e tentativas de fuga
seguidas pela insurgência dos
presos nessas unidades.
A rebelião mais grave aconteceu
em março, no CDP Pinheiros 1, na
capital, justamente um dos mais
lotados. A revolta dos detentos,
que começou depois de uma tentativa frustrada de fuga, durou 14
horas e acabou com dois agentes
penitenciários mortos.
Uma vistoria realizada na unidade após o fim da rebelião encontrou drogas, facas, celulares e
carregadores, além de duas armas
e até uma granada. Isso apesar do
sistema de segurança contra a introdução de objetos nas celas.
No CDP de Campinas, a blindagem não impediu que um túnel
de 4,5 metros fosse escavado a
partir de uma das celas e permitisse a fuga de 25 detentos, no dia 31
de outubro. A unidade tem 1.422
presos para 768 vagas.
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