São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2000

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URBANIDADE


Os fantasmas da prefeitura

GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL

V igias juram ter ouvido, de madrugada, estranhos barulhos acompanhados de soturnas vozes no Palácio das Indústrias, sede da prefeitura -alguns deles relatam que viram contornos de almas vagando pelos salões.
Guardas já se recusaram a ficar sozinhos de noite no primeiro andar, o que obrigou a administração a escalá-los em dupla.
Daqui a cinco dias, Marta Suplicy vai rapidamente saber que os problemas daquele prédio, que lembra vagamente o estilo de um castelo medieval, são os defeitos visivelmente assombrosos, e não as lendárias assombrações fantasmagóricas.
Paulo Maluf detestava o Palácio das Indústrias; se dependesse dele, a sede da administração municipal teria voltado ao aprazível parque Ibirapuera. Celso Pitta diz que aquele imóvel pode ser útil para quase tudo. Menos para a prefeitura.
Marta Suplicy visitou as instalações e saiu horrorizada tanto com o mau gosto dos móveis como com a falta de funcionalidade e de privacidade.
Acoplado ao parque Dom Pedro e construído para abrigar convenções, o Palácio das Indústrias tornou-se Assembléia Legislativa e, depois, delegacia de polícia, até virar prefeitura. Abrigou, assim, empresários, políticos, policiais e presos. A cada reforma adaptava-se à nova clientela.
O ar-condicionado funciona mal e, frequentemente, quebra. No frio, as salas ficam um gelo; no calor, uma sauna. Como o prédio é tombado, ainda não se viabilizou uma reforma para melhorar a refrigeração do ar.
Falta de luz também é constante; não raro ocorrem colapsos no sistema telefônico.
A acústica permite que os bisbilhoteiros, apesar das paredes, ouçam as conversas alheias. O prefeito não tem privacidade: a porta de entrada do prédio serve para qualquer um.
Chuvas mais intensas causam enchentes nas redondezas e deixam a prefeitura ilhada. Os secretários já enfrentam, sem enchentes, dificuldade de acesso ao prédio, localizado no epicentro de vários focos de congestionamento. Para completar, ocorreu ali uma invasão de pombos, deixando marcas visíveis e desagradáveis em todo o edifício.
O prédio da prefeitura, enfim, é a cara de São Paulo: enchentes, congestionamentos, sujeira e temperatura imprevisível.
E-mail - gdimen@uol.com.br


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