São Paulo, quarta-feira, 27 de dezembro de 2000

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VIOLÊNCIA

Às 23h de ontem, motim de presas da Penitenciária Feminina do Tatuapé completava dez horas e sem acordo

Rebeladas fazem 8 funcionárias reféns

Rubens Cavallari/Folha Imagem /font>
Presas que participaram do motim no Tatuapé são recapturadas e levadas para delegacia



ESTANISLAU MARIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Oito funcionárias da Penitenciária Feminina do Tatuapé foram feitas reféns durante rebelião de presas. Após as 23h de ontem, uma delas foi libertada.
As rebeladas mantinham as agentes carcerárias, cujos nomes não foram divulgados, sob ameaças de paus, barras de ferro e estiletes improvisados.
A rebelião começou às 13h, com uma tentativa frustrada de fuga. Pelos menos duas reféns foram feridas -uma espancada, outra com cortes superficiais no rosto e no braço.
Às 20h, o secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, chegou ao presídio para tentar negociar.
As presas exigem agilidade no acompanhamento de seus processos, a troca da direção da penitenciária e a melhoria da comida, que estaria chegando "suja" e "estragada". Segundo parentes, algumas presas já teriam cumprido a pena ou teriam direito a progressão para o regime semi-aberto.
Até as 23h, o clima era tenso, com PMs dentro do presídio (não foi divulgado o número) -pelo menos 60 policiais da tropa de choque, de prontidão no pátio interno, aguardando ordens para invadir os pavilhões, mais 15 carros da PM de outros batalhões do lado de fora, também aguardando, e bombeiros, com três caminhões dentro do presídio, tentando controlar os focos de incêndio provocados pelas rebeladas.
Um pequeno grupo de parentes de presas passou o dia na porta protestando contra a polícia.
A rebelião começou quando um pequeno grupo de presas (seriam 35, mas a polícia não confirmou o número) tentou fugir sem sucesso. Segundo o delegado do 81º DP (vizinho à penitenciária), Eider da Nóbrega Filho, 13 presas pularam o muro do presídio, mas caíram nos fundos do DP, onde foram presas. As que desistiram de pular o muro voltaram e começaram o motim, que tomou os seis pavilhões, onde estão presas 469 mulheres. A capacidade do presídio é de 370 presas.
As amotinadas armaram-se com paus e estiletes improvisados e incendiaram colchões.
Uma comissão com a diretora-geral do presídio, Haydeé Natalina Ribeiro, e dois diretores do Carandiru entrou para negociar.
As presas exigiram a presença do juiz-corregedor. Por volta das 15h30, chegou o juiz substituto, José Ernesto de Souza Bittencourt Rodrigues. Mas as negociações não avançaram porque as rebeladas queriam o juiz titular, Otávio de Barros Filho. Ele, no entanto, está em férias na Europa.
Por meio de sua assessoria de imprensa, a Secretaria da Administração Penitenciária dizia que Furukawa estava em reunião com o governador Mário Covas e que o coordenador da Coespe (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado de São Paulo), Sérgio Ricardo Valadares, estava a caminho do Tatuapé. Às 20h, chegou o secretário.
Após três horas, uma funcionária foi libertada. Logo depois, o secretário saiu e anunciou que as presas prometeram libertar uma refém a cada três horas em troca do estudo das reivindicações.
Ele disse que vai conversar hoje com as presas e prometeu analisar os pedidos. "O que for justo, vou atender, mas o que for capricho, não."

Colaborou o "Agora São Paulo"

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