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MISÉRIA COLETIVA
Crianças e adultos vão a lixão em Ribeirão Preto, no interior de SP, para buscar alimentos jogados por empresa
Em aterro, menina come melão pela 1ª vez
JOEL SILVA
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
O barulho do motor do caminhão no aterro de entulho de
construção civil de Ribeirão Preto
(314 km de SP) é o sinal para que
alguns adultos e crianças "garimpem" as verduras, legumes e frutas que serão jogadas fora. A cena
acontece duas vezes por semana.
O caminhão é da rede de varejão
Cenourão, que lá despeja as sobras de suas cinco lojas.
Ontem, três adultos e cinco
crianças iniciaram o "garimpo"
assim que os funcionários começaram a jogar as sobras no aterro.
Os adultos recolhiam as verduras
e legumes e as crianças separavam
as frutas. No transporte, usavam
as caixas jogadas pelo varejão.
"Mesmo um pouco maduras,
dá para comer", diz uma garota
de seis anos. Ela diz que só experimentou "um tal de melão", retirado dali, na semana do Natal. "Já
estava jogando fora, achando que
fosse melancia verde, quando minha mãe disse que era melão. Eu
comi e gostei."
"Algumas coisas que não estão
boas levamos para porcos e galinhas. O que está bom a gente leva
para casa e come", disse um homem de cerca de 25 anos que se
disse desempregado.
Uma "colheita" feita dois dias
antes do Natal rendeu uma salada
de frutas para os filhos de Regina
Ferreira dos Santos, 55. Foi a única comida diferente no Natal.
"Retirei frutas boas e fiz uma salada muito gostosa. Se não fosse isso, meus filhos teriam comido
apenas arroz e feijão."
A secretária da Cidadania de Ribeirão Preto, Adair Pessini, não
sabia do caso. "Mandarei verificar
amanhã [hoje]." A Secretaria da
Saúde também será acionada. "Se
o varejão está jogando fora esses
alimentos é porque o prazo de validade deve ter vencido."
A Folha tentou ouvir o Cenourão três vezes ontem à tarde. Funcionários disseram que o dono
não estava e que a rede doa alimento a quatro creches.
Pessini acredita que as pessoas
que recolhem alimentos no aterro
devem participar de programas
municipais. "Duvido que as famílias não estejam inscritas em um
ou outro programa social. Temos
6.600 famílias inscritas no Bolsa-Família, além do Renda Mínima,
Bolsa-Escola, Cartão Alimentação e Auxílio Gás, entre outros
programas", afirmou.
Na última semana, segundo
Pessini, foram feitos 1.900 cadastros de participantes de famílias
que recebiam por outros programas e agora serão transferidos para o Bolsa-Família.
Segundo o Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), 3,32%
(ou 6.640) dos domicílios de Ribeirão Preto têm renda per capita
de até 1/4 do salário mínimo.
Colaborou MARCELO TOLEDO, da Folha Ribeirão
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