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São Paulo, terça-feira, 28 de janeiro de 2003

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VIOLÊNCIA

Moradores da pequena Taiúva, no interior de SP, não sabem explicar o que motivou o ato de Edmar Freitas, 18

Jovem invade escola, atira, fere 8 e se mata

ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO

Armado com um revólver calibre 38 e munido com 105 balas, Edmar Aparecido Freitas, 18, ex-aluno da escola estadual Coronel Benedito Ortiz, de Taiúva, invadiu o pátio da instituição, atirou em alunos, professores e funcionários e depois se matou.
Entre as vítimas estão seis alunos -dois em estado grave-, uma professora ferida de raspão e o caseiro da escola. No total, Freitas fez 15 disparos.
O crime abalou a cidade de pouco mais de 5.000 habitantes, a 363 km de São Paulo.
"É uma coisa em que ainda não conseguimos acreditar", afirmou o sargento Elisio Camerro, 37, comandante da Polícia Militar local.
A polícia, a escola e familiares do ex-aluno dizem não saber o que motivou o crime, já que Freitas era calmo, aparentemente não usava drogas e não se envolvia em brigas.
"Nunca esperávamos uma coisa dessas, muito menos vindo dele", disse Sandra Regina Claro de Souza, prima do rapaz.
No final da tarde, a polícia de Bebedouro foi até a casa de Freitas, em Taiúva, e achou outra arma -um revólver calibre 22.
Lá foram encontradas também algumas revistas que, segundo a polícia, fazem a apologia do nazismo e de Adolf Hitler (1889-1945). Uma dessas revistas se chama, segundo a polícia, "O Apocalipse Já Começou".
O fato ocorreu às 14h40 de ontem, quando Freitas saltou o muro lateral do colégio -com cerca de 2,7 metros de altura.
Nesse horário, intervalo das aulas de recuperação, cerca de 50 alunos do ensino médio estavam no pátio.
Edmar Freitas estudou na escola desde o primeiro ano do ensino fundamental e completou o terceiro ano do ensino médio no ano passado.
"Ele [Freitas" nunca deu problemas, era educado, sempre andou bem vestido. Era muito meu amigo", disse a diretora da escola, Maria Luiza Gonçalves Oliveira.
Dentro do pátio, de acordo com a versão da diretoria e da polícia, o ex-aluno, sem dizer nada, começou a atirar para todos os lados.
Nesse local feriu as primeiras cinco vítimas, uma delas gravemente, o aluno Pedro Russo Júnior, 17.
Dentro do prédio da escola, o atirador recarregou a arma e recomeçou os disparos.
Mais duas pessoas foram atingidas: a professora Maria de Lourdes Jacon Fernandes e o aluno Eliel Câmara. Câmara, segundo a polícia, é a vítima em estado mais grave.
De volta à parte externa do prédio, Freitas seguiu em direção à zeladoria, onde atirou no caseiro Antônio Agostinho de Souza. Ainda segundo a diretoria, o ex-aluno apontou a arma contra o peito de Maria do Carmo, mulher do zelador, mas desistiu de atirar ao ser convencido por ela. Depois se matou.
"Ela [Maria do Carmo" disse: "Eu não, pelo amor de Deus". Aí, ele encostou a arma no [próprio" ouvido e atirou", disse a prima de Freitas.

Pânico
A direção da escola calcula que toda a ação durou pouco mais de um minuto.
Alunos e professores chegaram a saltar os muros da escola para tentar fugir.
"Esse é um fato que colhe de surpresa qualquer sistema de segurança que possa existir", afirmou a diretora regional de ensino Elizabeth Vianna dos Santos.
Segundo o delegado de Taiúva, Marcelo Rodrigues Salvador, 34, ainda não se sabe de quem era a arma que Freitas utilizou.
Segundo o professor de psicologia da violência da USP (Universidade de São Paulo) Sérgio Kodato, o comportamento de Freitas pode ser considerado um surto, e não um caso de loucura.
"Geralmente são pessoas que têm uma história de humilhação ou inferiorização. Uma hora a pessoa explode", declarou o professor Kodato.


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