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VIOLÊNCIA
Moradores da pequena Taiúva, no interior de SP, não sabem explicar o que motivou o ato de Edmar Freitas, 18
Jovem invade escola, atira, fere 8 e se mata
ROGÉRIO PAGNAN
DA FOLHA RIBEIRÃO
Armado com um revólver calibre 38 e munido com 105 balas,
Edmar Aparecido Freitas, 18, ex-aluno da escola estadual Coronel
Benedito Ortiz, de Taiúva, invadiu o pátio da instituição, atirou
em alunos, professores e funcionários e depois se matou.
Entre as vítimas estão seis alunos -dois em estado grave-,
uma professora ferida de raspão e
o caseiro da escola. No total, Freitas fez 15 disparos.
O crime abalou a cidade de pouco mais de 5.000 habitantes, a 363
km de São Paulo.
"É uma coisa em que ainda não
conseguimos acreditar", afirmou
o sargento Elisio Camerro, 37, comandante da Polícia Militar local.
A polícia, a escola e familiares
do ex-aluno dizem não saber o
que motivou o crime, já que Freitas era calmo, aparentemente não
usava drogas e não se envolvia em
brigas.
"Nunca esperávamos uma coisa
dessas, muito menos vindo dele",
disse Sandra Regina Claro de Souza, prima do rapaz.
No final da tarde, a polícia de
Bebedouro foi até a casa de Freitas, em Taiúva, e achou outra arma -um revólver calibre 22.
Lá foram encontradas também
algumas revistas que, segundo a
polícia, fazem a apologia do nazismo e de Adolf Hitler (1889-1945).
Uma dessas revistas se chama, segundo a polícia, "O Apocalipse Já
Começou".
O fato ocorreu às 14h40 de ontem, quando Freitas saltou o muro lateral do colégio -com cerca
de 2,7 metros de altura.
Nesse horário, intervalo das aulas de recuperação, cerca de 50
alunos do ensino médio estavam
no pátio.
Edmar Freitas estudou na escola desde o primeiro ano do ensino
fundamental e completou o terceiro ano do ensino médio no ano
passado.
"Ele [Freitas" nunca deu problemas, era educado, sempre andou
bem vestido. Era muito meu amigo", disse a diretora da escola,
Maria Luiza Gonçalves Oliveira.
Dentro do pátio, de acordo com
a versão da diretoria e da polícia, o
ex-aluno, sem dizer nada, começou a atirar para todos os lados.
Nesse local feriu as primeiras
cinco vítimas, uma delas gravemente, o aluno Pedro Russo Júnior, 17.
Dentro do prédio da escola, o
atirador recarregou a arma e recomeçou os disparos.
Mais duas pessoas foram atingidas: a professora Maria de Lourdes Jacon Fernandes e o aluno
Eliel Câmara. Câmara, segundo a
polícia, é a vítima em estado mais
grave.
De volta à parte externa do prédio, Freitas seguiu em direção à
zeladoria, onde atirou no caseiro
Antônio Agostinho de Souza.
Ainda segundo a diretoria, o ex-aluno apontou a arma contra o
peito de Maria do Carmo, mulher
do zelador, mas desistiu de atirar
ao ser convencido por ela. Depois
se matou.
"Ela [Maria do Carmo" disse:
"Eu não, pelo amor de Deus". Aí,
ele encostou a arma no [próprio"
ouvido e atirou", disse a prima de
Freitas.
Pânico
A direção da escola calcula que
toda a ação durou pouco mais de
um minuto.
Alunos e professores chegaram
a saltar os muros da escola para
tentar fugir.
"Esse é um fato que colhe de
surpresa qualquer sistema de segurança que possa existir", afirmou a diretora regional de ensino
Elizabeth Vianna dos Santos.
Segundo o delegado de Taiúva,
Marcelo Rodrigues Salvador, 34,
ainda não se sabe de quem era a
arma que Freitas utilizou.
Segundo o professor de psicologia da violência da USP (Universidade de São Paulo) Sérgio Kodato, o comportamento de Freitas
pode ser considerado um surto, e
não um caso de loucura.
"Geralmente são pessoas que
têm uma história de humilhação
ou inferiorização. Uma hora a
pessoa explode", declarou o professor Kodato.
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