São Paulo, segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

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MOACYR SCLIAR

Gangorra


A testa desse cara é decisiva, cara, a testa dele é mais importante que aqueles telões com a cotação das ações

 Gangorra global: volatibilidade das Bolsas. Editorial, 27 de janeiro de 2008.

 Bovespa sobe 5,57% e dólar fecha a R$ 1,78, com "alívio" nos mercados após plano americano. Folha Online, 24 de janeiro de 2008.

 Bovespa fecha em baixa de 3,32%, com risco de recessão nos EUA. Folha Online, 23 de janeiro de 2008.

 Bovespa fecha em alta de 0,82%; Vale e Petrobras puxam recuperação. Folha Online 18 de janeiro de 2008.

 Os mercados acompanham de perto os descaminhos da economia americana, atentos a quaisquer indicadores econômicos e declarações de autoridades locais, principalmente do Federal Reserve (banco central dos EUA). Ontem, Ben Bernanke, titular do Fed, azedou o humor dos investidores ao sugerir, durante testemunho no congresso, que a situação é de recessão iminente. Folha Online, 18 de janeiro de 2008

"TEM DE ESTAR ATENTO. Tem de estar muito atento. Bolsa é assim, a Bolsa é nervosa, a Bolsa se assusta com qualquer coisa, com qualquer sinal de instabilidade. Portanto, você, que é meu corretor, e que é uma das pessoas mais importantes da minha vida -talvez a pessoa mais importante de minha vida- você tem de me manter informado sobre tudo, sobre os menores detalhes, porque, como você mesmo diz, tudo pode mexer com a Bolsa, tudo.
O quê? O que é que você está me dizendo? O Ben Bernanke está falando sobre economia na tevê? E está franzindo a testa enquanto fala? E quem é o Ben Bernanke? É o presidente do Federal Reserve dos Estados Unidos? Então é um cara importante. Eu não sei o que é o Federal Reserve, mas se é coisa federal e é coisa dos Estados Unidos, tem de ser um cara importante.
E você me diz que esse cara franziu a testa? Deus do céu, ele franziu a testa? Ele franziu a testa enquanto falava sobre a economia mundial? Então vende, cara. Vende tudo.
A testa desse cara é decisiva, cara, a testa dele é mais importante que aqueles telões com a cotação das ações. Testa franzida? Ben Bernanke de testa franzida? Vende, cara. Vende tudo, a qualquer preço. Vende logo.
O quê? Ele não está mais franzindo a testa? E você acha que ele pode estar sorrindo? Mas isto é importante, cara. Você acha que ele está sorrindo ou ele está sorrindo mesmo? Ah, está sorrindo mesmo. E por que está sorrindo, cara? Não se sabe? Bem, mas isto pode ser um sinal, cara. Isto pode ser um sinal.
O Ben Bernanke sorrindo, isso pode um ser sinal, um sinal de que as coisas estão melhorando, que os bons velhos tempos voltaram e que daqui por diante vai ser festa e festa. Compra, cara. Compra a qualquer preço.
E agora o Ben Bernanke ficou sério? De repente ele ficou sério? Não diga. Muito sério? Preocupado, quem sabe? Então vende, cara. Vende e vê se consegue um contato com o Ben Bernanke. Que ele mande um e-mail para a gente explicando o que significa ele franzir a testa, ele sorrir, ele ficar sério. Eu compro esse e-mail por qualquer preço, cara. Eu vendo tudo o que eu tenho, mas eu compro esse e-mail, cara."


MOACYR SCLIAR escreve, às segundas-feiras, um texto de ficção baseado em notícias publicadas na Folha


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