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SEGURANÇA
Secretário da Administração Penitenciária diz que visitas em presídios devem ser liberadas no próximo fim-de-semana
Burocracia ajuda corrupção, diz Furukawa
CÉLIA CHAIM
DA REPORTAGEM LOCAL
Se tivesse seguido a carreira de
médico, como gostaria, Nagashi
Furukawa, secretário da Administração Penitenciária do governo do Estado de São Paulo, certamente não estaria vivendo o momento de maior estresse de sua vida. Ele é responsável pelas 74 penitenciárias do Estado, inclusive
pela Casa de Detenção, o segundo
maior presídio do mundo, depois
do da Turquia.
Nesta entrevista, ele confirma a
volta das visitas, mostra-se amarrado diante da burocracia que envolve a apuração de corrupção
entre funcionários e se dispõe a
dialogar com presos que tenham
reivindicações justas, jamais com
o que vem sendo chamado de
"partido do crime".
Ontem à noite, ele negou que
hoje seriam feitas novas transferências de presos para Taubaté.
Leia abaixo os principais trechos
da entrevista.
Folha - O retorno das visitas aos
presos será no próximo domingo?
Nagashi Furukawa - Provavelmente no final de semana tudo esteja normalizado, só que ainda vamos examinar local por local. Se
houver algum lugar que ainda
ofereça perigo, nós não vamos
reabri-lo. A Casa de Detenção já
está normalizada. O problema
maior é a Penitenciária do Estado,
onde a ligação de energia elétrica
foi totalmente danificada com a
rebelião. As celas ainda estão no
escuro.
Folha - As regras de visitas foram
mudadas?
Furukawa - Só poderão entrar
duas pessoas e a revista será reforçada.
Folha - A corrupção dentro dos
presídios não neutraliza esse tipo
de decisão?
Furukawa - A corrupção indiscutivelmente existe. A maioria
dos funcionários é constituída
por pessoas honestas, mas há
uma minoria que se corrompe até
porque o meio possibilita essa
corrupção. Há um estímulo constante por parte dos presos aos
agentes, que ganham em torno de
R$ 700 por mês. A dificuldade de
coibir a corrupção é que quem
corrompe não conta e o que é corrompido muito menos. É uma investigação difícil de ser feita. De
1995 a 2001, 185 agentes foram demitidos e muitos foram afastados.
Folha - Não é um número muito
pequeno diante da dimensão do
problema?
Furukawa - Meu poder é limitado. Temos leis que regem a apuração e nós temos que segui-las. A
lei exige instalação de uma sindicância. É preciso ouvir as pessoas,
chegar à conclusão de que alguém
cometeu algum ato ilícito e só depois disso é que se instaura um
processo administrativo com direito à defesa; finalmente, se a punição sugerida for demissão do
serviço público, cabe ao governador fazer isso; se for uma suspensão ou advertência, aí a competência é minha. Nós temos uma
corregedoria do sistema penitenciário pequena, composta de 16
corregedores e eles estão permanentemente investigando, mas
obviamente 16 pessoas não vão
conseguir investigar 74 penitenciárias. Então, em cada unidade
há um grupo de funcionários incumbido de fazer a investigação
interna e quando o caso é mais
grave fica com o corregedor.
Folha - Esse processo dura quanto tempo?
Furukawa - Aí é que está. Nós temos na secretaria apenas duas comissões processantes, compostas
por três pessoas, e cada uma dessas comissões tem mais de 300,
400 processos em andamento,
acumulados. É claro que se dá
prioridade para casos graves.
Quando isso ocorre, no prazo de
um mês, um mês e meio, dá para
resolver.
Folha - O que mais se pretende fazer para controlar a corrupção que
leva drogas e celulares aos presídios?
Furukawa - O celular entra por
vias mais inusitadas, e temos dificuldades na revista das mulheres,
que colocam o aparelho dentro de
seus corpos. Não é possível fazer
revista ginecológica. Também entra pela porta da corrupção. Estamos investigando os corruptos e
vamos abrir um processo de licitação para a compra de equipamento tecnológico que detecte
metais, celulares etc., como nos
aeroportos. Além disso, as operadoras de telefonia celular disseram que na zona rural há como tirar o sinal do aparelho. Isso atinge
44 penitenciárias.
Folha - A igreja, intelectuais e até
o antropólogo Luiz Eduardo Soares, ex-coordenador de Segurança
do Rio de Janeiro, estão defendendo a negociação do Estado com os
detentos. O sr. não considera essa
possibilidade?
Furukawa - O PCC (Primeiro
Comando da Capital) está mudando o nome de partido do crime para sindicato porque, já que
o governo não quer dialogar com
o partido do crime, eles querem se
apresentar como uma representação legítima dos presos. Mas não
é uma mudança do nome que vai
mudar a essência das coisas. Se,
em vez de ser um partido que promove a prática do crime, fosse
uma organização de dentro das
prisões que tivesse por objetivo
fazer reivindicações justas, não
haveria problema nenhum em relação ao diálogo. O que não podemos é promover o diálogo entre o
Estado e pessoas que fazem da
prática do crime sua bandeira. Isso é um absurdo, não tem sentido.
Folha - Os presos reclamam da comida e falam, por meio de cartazes,
que estão submetidos a um regime
de fome depois da rebelião. Até
que ponto isso é verdade?
Furukawa - Todos os dias, antes
da rebelião e após a rebelião, a alimentação é fornecida da mesma
maneira: café da manhã, almoço e
jantar, aquilo que se costuma chamar de quentinha. Os presos
acham que isso não é suficiente e
reclamam. O Estado, na Casa de
Detenção, compra a quentinha
fora, porque a cozinha foi interditada já há algum tempo. Os familiares costumam levar frutas, bolacha, iogurte e realmente o Estado não fornece esse tipo de coisa.
Folha - Eles também reclamam
seu direito, garantido por lei, de
transferência para prisões de regime semi-aberto. Qual o tamanho
da fila de espera e por que isso
acontece?
Furukawa - Hoje a fila no Estado
inteiro deve estar por volta de
1.500, 1800 presos e é um problema grave porque o governo ainda
não tem vagas em número suficiente no regime semi-aberto. Estamos começando a construção
agora de 18 alas de progressão,
alojamentos que serão construídos ao lado das penitenciárias.
Então, se alguém que está no regime fechado conseguir progressão
para o regime semi-aberto, enquanto ele aguarda a vaga já sai do
regime fechado e fica nesse alojamento separado.
Folha - Entre os coordenadores
indicados para avaliar a direção
das 74 penitenciárias do Estado, um
deles, Carlos Alberto Corade, responsável pelo Vale do Paraíba, enfrenta processos por facilitação de
fugas e prevaricação. Não é um mau
começo para a coordenadoria?
Furukawa - Ele não tem processo
nenhum, tem alguns inquéritos
policiais e sindicâncias em tramitação na corregedoria. Se ele tivesse alguma condenação, não seria
cogitado para assumir um cargo
como esse. Mas as coisas estão
ainda em investigação. Se aparecerem provas, ele pode ser trocado a qualquer instante.
Folha - A prefeita Marta Suplicy é
a favor da desativação do Casa de
Detenção. Isso vai acontecer?
Furukawa - No primeiro mandato de Mário Covas houve esse
projeto de desativação e o governador construiu 21 novas penitenciárias. Só que nesse período
houve um aumento tão grande de
presos, muito maior do que qualquer previsão pudesse imaginar, e
esse projeto acabou sendo inviabilizado. Quando o governador
Covas assumiu em 95, eram 55
mil presos; hoje são 94 mil.
Folha - O sr.acha que a construção de presídios é a solução?
Furukawa - - Não resolve. É preciso criar mecanismos para que
estejam nas penitenciárias aqueles que realmente precisam estar.
Também é preciso criar mecanismos para que saiam na mesma
quantidade que estão entrando.
Por mais gente que se prenda, os
crimes continuam crescendo.
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