São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2001

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URBANIDADE

Gente no lugar de carro

GILBERTO DIMENSTEIN
DO CONSELHO EDITORIAL

Uma das grifes da arquitetura brasileira, Paulo Mendes da Rocha foi convidado a arrancar grades, expulsar automóveis e construir uma praça pública no meio de uma área totalmente ocupada por prédios.
Autor da reforma da Pinacoteca do Estado, Paulo Mendes desenhou a praça numa área de 54 mil m2 (cerca de oito campos de futebol), na Chácara Santo Antônio, bairro onde habitam marcas famosas -é um dos principais pólos de desenvolvimento econômico da cidade, que abriga Bayer, Globocabo, Chase, Caterpillar, Dresdner Bank, Rhodia e Unisys. A poucos metros dali, está a Câmara Americana do Comércio.
Os executivos saem dos modernos edifícios e, no caminho dos restaurantes, vêem-se obrigados a andar por calçadas minúsculas, esburacadas, disputando espaço com os carros. Se os prédios lembram Nova York, as calçadas lembram Nova Déli.
Desse incômodo, nasceram uma associação de bairro (Verbo) e a vontade de pôr em prática uma idéia tão inovadora quanto as que se desenvolvem nos negócios privados. Da prancheta, surgiu uma passarela arborizada, rodeada por espelhos d'água, levando a uma concha acústica, destinada a atividades culturais durante as refeições.
O plano interessa aos executivos por melhorar a qualidade de vida dos funcionários, o que significa mais produtividade. E também a donos de prédios, que alugam as salas, pois valoriza seus imóveis.
A associação já pediu ajuda ao poder público para a aprovação do projeto na prefeitura. "Adoramos", respondeu o presidente da Emurb (Empresa Municipal de Urbanismo), Maurício Faria, dizendo-se disposto a montar uma comissão de empresas com os governos estadual e municipal para ajudar na viabilização da praça.
Muito além da passarela vão os sonhos de Paulo Mendes. Atraído pela idéia de uma intervenção pioneira, ele quer construir, nas cercanias, um estacionamento para mil veículos, absorvendo os carros das empresas.
Devidamente remodeladas e arejadas, as vagas sumiriam das garagens subterrâneas de prédios e seriam incorporadas à praça, cedendo espaço a escolas, creches, teatros e centros de convivência para funcionários e seus filhos.
Dariam espaço, especialmente, para uma idéia transgressora em São Paulo: a de que gente merece ocupar o lugar do automóvel.
E-mail - gdimen@uol.com.br


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