São Paulo, quarta-feira, 28 de fevereiro de 2001

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IGREJA CATÓLICA

Tema é um dos mais polêmicos já tratados pela CNBB, que também lança a Pastoral da Sobriedade

Campanha da Fraternidade combate droga

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A partir de hoje, em todas as igrejas católicas do país, os padres vão incluir em seus sermões a questão das drogas. "Vida sim, drogas não" é o tema deste ano da Campanha da Fraternidade. Será, certamente, o mais amplo debate sobre o assunto já realizado no país. Será também um dos temas mais polêmicos já tratados pela CNBB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
"A juventude está sendo destruída pelas drogas, sobretudo pelo álcool", diz o padre Haroldo Rahm, presidente nacional da Federação das Comunidades Terapêuticas no Brasil, que reúne mais de 500 instituições que trabalham com dependentes. Há dois anos, ele encabeçou um documento com 200 mil assinaturas pedindo à CNBB que dedicasse a Campanha da Fraternidade ao tema.
"Mais de 60% dos crimes e prisões têm a ver com drogas e álcool", diz Rahm. No texto-base da campanha (www.cnbb.org.br), a CNBB aponta como objetivo maior sensibilidade ao problema das drogas, "às suas vítimas e às suas consequências danosas".
A maior preocupação da campanha é a prevenção, que deve ser feita "nas igrejas, nas escolas, nas fábricas e nas famílias", diz o padre Rahm. Segundo ele, "a falta de heróis e de um sentido na vida" está por trás da corrida para as drogas lícitas e ilícitas. Com a campanha, a Igreja cria também a Pastoral da Sobriedade que, a exemplo de outras pastorais, deve incentivar ações em todo o país.
Para a CNBB, o dependente de drogas é uma pessoa doente que necessita de cuidados e que merece solidariedade. Uma das recomendações é a criação, em cada diocese, de centros para atenção e recuperação de dependentes.
A campanha tem o mérito de abrir a discussão para um problema que aflige milhões de famílias. Abordar o álcool e as drogas sob um olhar cristão é, no mínimo, reduzir o preconceito e o estigma que pesam sobre os dependentes.
Alguns especialistas, no entanto, temem que prevaleça o tom moralista que caracteriza muitas posições da Igreja. "A maioria das pessoas que usam drogas não são dependentes que precisam de ajuda médica", diz o psiquiatra Arthur Guerra de Andrade, coordenador do Grea, um grupo de estudos e prevenção de drogas do Hospital das Clínicas.
A campanha não faz uma ligação entre os usuários e a Aids, nem fala em "redução de danos", política pregada pelo governo federal. Por essa política, o dependente tem direito aos serviços de saúde, mesmo que não queira ou não consiga deixar a droga.



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