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LETRAS JURÍDICAS
Honorários das profissões universitárias
WALTER CENEVIVA
COLUNISTA DA FOLHA
A idéia para esta coluna
veio das duas últimas edições do jornal do Cremesp - Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo, nas quais Clóvis
Francisco Constantino, presidente
daquele órgão, assinava comentários em que tratava dos honorários
médicos. A anotação jurídica tem
maior amplitude porque a baixa
remuneração atinge grande parte
dos profissionais cuja atuação depende do grau universitário e que
estão submetidos a critérios remuneratórios muito diversos.
As profissões clássicas (advocacia, engenharia, arquitetura e medicina) foram extraordinariamente acrescidas de novos ramos, em
cujo rol se destaca a odontologia.
Caracterizam-se por quatro traços
marcantes: menos profissionais liberais, mais empregados, acréscimo quantitativo de profissionais
(muitos dos quais despreparados,
levando a formas proletarizadas
da relação de trabalho) e aumento
das responsabilidades sociais
envolvidas.
Dizia o jornal do Cremesp, em
dezembro, "que a imagem do médico tem sido depreciada perigosamente já há algum tempo e que os
baixos valores da remuneração
têm contribuído nesse sentido". A
situação dos advogados, dos engenheiros e de outras profissões universitárias é semelhante. Muitos
formandos mal formados, sem
acesso adequado ao mercado de
trabalho, submetem-se ao poder
de comando das empresas ou de
outros colegas quando empregadores e, portanto, às normas celetistas, gerando conflito com as regras da deontologia profissional,
até pela fixação coletiva dos salários. De outro modo, as despesas
com o aprimoramento são cada
vez mais onerosas, desde as necessárias para chegar à carreira escolhida, até as necessárias para se
manterem atualizados nela, com
conhecimentos e equipamentos
exigidos.
Ao mesmo empo, o direito vem
aumentando a esfera das responsabilidades. São encargos correspondentes, em particular, ao consumidor, ao dano moral e seus
efeitos -no que os médicos aparecem mais. Os encargos eventuais
são insuficientemente cobertos pelos planos de seguro em virtude do
elevado custo para o trabalhador,
individualmente considerado,
mesmo quando tenha vários empregos ou "bicos".
Nos segmentos médicos e odontológicos, há ainda a baixa remuneração paga pelos serviços públicos e pelos convênios. O mal, contudo, é geral e fácil de explicar no
seu pior defeito. Cria um círculo
vicioso: salário baixo impede o
profissional de adquirir livros ou
equipamentos necessários para se
aperfeiçoar. Não se aperfeiçoando,
faltam-lhe meios para ampliar a
clientela. Fecha-se o círculo. O prejuízo final para o direito de todos
incide sobre a sociedade, dependente necessária desses
profissionais.
Embora se trate de fenômeno registrado em muitos países do mundo, a questão talvez seja mais grave entre nós, como se viu no mês
passado, quando milhares de candidatos da área da saúde compareceram a filas, em Manaus, em
busca de um lugar em programa
desenvolvido pelo governo daquele Estado. As carreiras de grau universitário vivem problemas diferentes, mas parece desenvolver-se
um entendimento entre elas para
defender direitos comuns. A consolidação da mudança do estado
atual depende do empenho dos
que a queiram realizar.
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