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INFÂNCIA
Motim foi motivado, segundo a fundação, pela anunciada transferência dos internos para uma unidade mais segura
Rebelião na Febem Ribeirão deixa 3 feridos
ADRIANA MATIUZO
KATIUCIA MAGALHÃES
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO
Dois funcionários e um interno
da Febem ficaram feridos e parte
da UI (Unidade de Internação) de
Ribeirão Preto (314 km de SP) foi
destruída durante uma rebelião
que durou cerca de seis horas ontem e envolveu internos de todos
os pavilhões da unidade, que abriga atualmente 89 adolescentes.
Segundo a Febem, a rebelião foi
motivada pela preocupação dos
internos com a transferência, a
partir da semana que vem, para a
nova unidade na cidade, que seria
inaugurada hoje pelo governador
Geraldo Alckmin (PSDB).
Ontem, a assessoria do governador informou que a cerimônia
foi cancelada por causa da rebelião. As transferências, no entanto, estão mantidas.
De acordo com a fundação, a
nova unidade, que tem capacidade para 132 adolescentes, seria um
empecilho para fugas e motins
por ser mais segura.
O prédio da unidade, construído em 1975 e um dos mais antigos
da fundação, será reformado e
transformado em centro de ressocialização. "Eles estavam ansiosos
porque sabiam que seriam transferidos para a nova unidade, onde
a segurança é maior", disse o diretor regional da Febem, Marcos
Donizete Ivo. Segundo ele, a fundação havia controlado anteontem à noite uma tentativa de fuga
em massa na unidade.
Já funcionários e mães de internos disseram que os menores se
rebelaram para pedir o restabelecimento de benefícios suspensos
ou limitados, como o recebimento de visitas íntimas de namoradas, a permissão para as mães levarem comida e roupas e mais atividades de lazer. "Eles querem ter
pelo menos roupa limpa para vestir", disse a cozinheira L.F.A., 45,
mãe de um interno.
Reféns
O protesto começou por volta
das 10h, logo após o café da manhã, e atingiu os quatro pavilhões
em funcionamento -há outros
três desativados.
Com facas improvisadas, os infratores fizeram sete reféns -entre eles cinco mulheres-, puseram fogo nos colchões e subiram
para o telhado.
Em seguida, carros da Polícia
Militar, com pelo menos 50 homens, cercaram a unidade. A corporação deslocou para a fundação o canil, a cavalaria e a tropa de
choque, mas os soldados não chegaram a entrar na unidade. "Só
entramos com autorização do governador ou do secretário da Segurança Pública", disse o capitão
Luís Henrique Usai.
Às 11h15, o monitor Adriano
Evangelista de Moraes, 26, tentou
fugir dos rebelados e caiu de um
muro de cerca de quatro metros
de altura. Ferido, foi retirado pela
unidade de resgate.
Logo depois, o interno B., 18,
também foi socorrido pelos bombeiros após, segundo a Febem, ter
sido espancado pelos rebelados,
supostamente por não ter concordado em participar do motim.
O terceiro ferido foi o funcionário Luiz Fernando Mendes, 33,
também refém, que teve contusão
na região lombar e várias escoriações, causadas, segundo a Febem,
por golpes de facas improvisadas.
Os amotinados exigiram a presença do promotor da Infância e
Juventude Marcelo Pedroso Goulart. Os adolescentes se recusaram
a conversar com funcionários ou
membros da direção da Febem.
Goulart chegou às 14h10, acompanhado por outros dois promotores e membros da Comissão de
Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e
do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente.
Às 15h40, os rebelados libertaram os reféns, mas continuaram
negociando com a comissão liderada por Goulart a forma como
será feita a transferência para a
nova unidade. Até as 18h30, a reunião não havia acabado.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB também negociava
com algumas mães a entrada delas na unidade para dar segurança
aos monitores, que se recusavam
a fazer a revista por temerem novas ações dos internos.
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