São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 2004

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INFÂNCIA

Motim foi motivado, segundo a fundação, pela anunciada transferência dos internos para uma unidade mais segura

Rebelião na Febem Ribeirão deixa 3 feridos

ADRIANA MATIUZO
KATIUCIA MAGALHÃES
FREE-LANCE PARA A FOLHA RIBEIRÃO

Dois funcionários e um interno da Febem ficaram feridos e parte da UI (Unidade de Internação) de Ribeirão Preto (314 km de SP) foi destruída durante uma rebelião que durou cerca de seis horas ontem e envolveu internos de todos os pavilhões da unidade, que abriga atualmente 89 adolescentes.
Segundo a Febem, a rebelião foi motivada pela preocupação dos internos com a transferência, a partir da semana que vem, para a nova unidade na cidade, que seria inaugurada hoje pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Ontem, a assessoria do governador informou que a cerimônia foi cancelada por causa da rebelião. As transferências, no entanto, estão mantidas.
De acordo com a fundação, a nova unidade, que tem capacidade para 132 adolescentes, seria um empecilho para fugas e motins por ser mais segura.
O prédio da unidade, construído em 1975 e um dos mais antigos da fundação, será reformado e transformado em centro de ressocialização. "Eles estavam ansiosos porque sabiam que seriam transferidos para a nova unidade, onde a segurança é maior", disse o diretor regional da Febem, Marcos Donizete Ivo. Segundo ele, a fundação havia controlado anteontem à noite uma tentativa de fuga em massa na unidade.
Já funcionários e mães de internos disseram que os menores se rebelaram para pedir o restabelecimento de benefícios suspensos ou limitados, como o recebimento de visitas íntimas de namoradas, a permissão para as mães levarem comida e roupas e mais atividades de lazer. "Eles querem ter pelo menos roupa limpa para vestir", disse a cozinheira L.F.A., 45, mãe de um interno.

Reféns
O protesto começou por volta das 10h, logo após o café da manhã, e atingiu os quatro pavilhões em funcionamento -há outros três desativados.
Com facas improvisadas, os infratores fizeram sete reféns -entre eles cinco mulheres-, puseram fogo nos colchões e subiram para o telhado.
Em seguida, carros da Polícia Militar, com pelo menos 50 homens, cercaram a unidade. A corporação deslocou para a fundação o canil, a cavalaria e a tropa de choque, mas os soldados não chegaram a entrar na unidade. "Só entramos com autorização do governador ou do secretário da Segurança Pública", disse o capitão Luís Henrique Usai.
Às 11h15, o monitor Adriano Evangelista de Moraes, 26, tentou fugir dos rebelados e caiu de um muro de cerca de quatro metros de altura. Ferido, foi retirado pela unidade de resgate.
Logo depois, o interno B., 18, também foi socorrido pelos bombeiros após, segundo a Febem, ter sido espancado pelos rebelados, supostamente por não ter concordado em participar do motim.
O terceiro ferido foi o funcionário Luiz Fernando Mendes, 33, também refém, que teve contusão na região lombar e várias escoriações, causadas, segundo a Febem, por golpes de facas improvisadas.
Os amotinados exigiram a presença do promotor da Infância e Juventude Marcelo Pedroso Goulart. Os adolescentes se recusaram a conversar com funcionários ou membros da direção da Febem.
Goulart chegou às 14h10, acompanhado por outros dois promotores e membros da Comissão de Direitos Humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) e do Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente.
Às 15h40, os rebelados libertaram os reféns, mas continuaram negociando com a comissão liderada por Goulart a forma como será feita a transferência para a nova unidade. Até as 18h30, a reunião não havia acabado.
A Comissão de Direitos Humanos da OAB também negociava com algumas mães a entrada delas na unidade para dar segurança aos monitores, que se recusavam a fazer a revista por temerem novas ações dos internos.


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