São Paulo, domingo, 28 de fevereiro de 2010

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Nova geração de músicos canta São Paulo com sarcasmo e melancolia

GUSTAVO FIORATTI
DA REVISTA DA FOLHA

Se os jovens compositores que povoam São Paulo não admirassem tanto Adoniran Barbosa, Itamar Assumpção e Caetano Veloso, a cidade talvez encontraria alguma redenção. Mas não.
Em suas canções, eles continuam reproduzindo o mesmo sentimento de desajuste que permeia clássicos como "Trem das Onze" e "Sampa".
Um exemplo de alusão recente à metrópole está nos versos de "As Papelarias do Itaim", do baixista e pianista Manu Maltez, 32: "Foi lá que eu cresci/ contra minha vontade". Ok, vai falar assim de Copacabana...
Mais uma vez, a distância é um obstáculo que tece seus caminhos tortuosos. O sambista Rodrigo Campos, 32 -que, há seis anos, trocou São Mateus (zona leste) por Pinheiros (zona oeste)- conhece bem a dificuldade de morar "depois de onde o vendo faz a curva".
Sua canção "Rua Três" traz a atmosfera de um lugar duplamente distante: São Mateus não só pende num extremo da zona leste mas também fica cada vez mais apagada na memória de um personagem que passou a infância ali e está voltando para um funeral.
A letra é fictícia até certo ponto. Rodrigo nunca precisou voltar a São Mateus para chorar seus mortos. Mas, num rolê pela região, aponta um bairro transformado, em que algo se perdeu: "Esses prédios não existiam, tudo isso era um terreno baldio, essa rua era de terra".
Da nova geração, a pernambucana Lulina é quem arrisca algum sarcasmo. Sua "Balada do Paulista" é uma crônica debochada, que embarca no uso desmedido de gírias. A compositora conta que o refrão grude "Puta, meu, tipo, nossa, cara, então" foi inspirado em um amigo paulistano que proferiu uma série de interjeições deste tipo. "Eu falei: "Peraí, cara, repete o que você falou'".
E mais uma vez, uma São Paulo poética (para não dizer patética) virou canção.


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