São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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DESABAMENTO
23 minutos antes do desabamento a empresa havia divulgado laudo dizendo que não existiam riscos de queda
Prédio no Rio sofre novo desabamento, desaloja 6.000 e Justiça autoriza a implosão

Lili Martins/Folha Imagem
Curiosos observam o desabamento da outra parte do edifício Palace 2, ocorrido no início da tarde de ontem


FERNANDA DA ESCÓSSIA
ELVIRA LOBATO
da Sucursal do Rio

Mais uma parte do bloco 2 do condomínio Palace, na Barra da Tijuca (zona sul do Rio), desabou ontem por volta de 12h53. Não há feridos, segundo a Defesa Civil. Sete pessoas estão soterradas nos escombros do primeiro desabamento, ocorrido domingo. Só um corpo foi encontrado.
Veio abaixo, segundo avaliação preliminar dos engenheiros da Prefeitura do Rio e dos próprios moradores, parte da coluna 4, localizada no quadrante sul esquerdo, nos fundos do prédio. Salas e varandas dos 22 andares ruíram.
O novo desabamento alterou o planejamento da implosão do Palace 2, prevista para as 12h de hoje. Pode ser que haja atraso, tudo depende do trabalho de colocação dos explosivos, que foi interrompido após o desabamento. Ontem à noite, a Justiça autorizou a implosão, após ouvir ex-moradores a construtora e a prefeitura.
O primeiro sinal de que novos desabamentos poderiam acontecer veio à 1h30, durante a madrugada. Um pilar no subsolo quebrou e outros dois se deslocaram. Uma laje caiu do alto do Palace 2.
O alarme tocou. Mais quatro prédios, além dos três edifícios interditados desde domingo, tiveram que ser desocupados de madrugada. Pelo menos 100 pessoas passaram o resto da noite ao relento, e cerca de 6.000 pessoas tiveram que abandonar suas casas.
De manhã, a Defesa Civil não permitiu mais que nenhum morador entrasse no Palace 1 para retirar pertences. Os trabalhos de perfuração do subsolo do Palace 2 para a implosão, interrompidos ontem à noite, não foram retomados. Os explosivos não começaram a ser colocados.
Os moradores começaram a se aglomerar na rua. Sem informações e em dúvida sobre a realização da implosão, muita gente tentava forçar a entrada nos prédios. Às 11h30, a sirene de alarme soou novamente. O sinal teria passado despercebido diante da confusão na rua, se a PM não tivesse convocado uma tropa de choque e confirmado o novo alarme.
Às 12h45, começou a cair poeira do alto do prédio. Os vidros das janelas se quebraram. O Palace 2 inclinou, balançou, e parte dos apartamentos da coluna 4, nos fundos do bloco, veio abaixo.
Às 12h30, a construtora Sersan, responsável pela obra, havia divulgado um laudo informando que o bloco 2 do Palace não corria riscos e poderia ser recuperado.
A poeira tomou conta das redondezas. Houve pânico e correria na frente do prédio e dos edifícios vizinhos, e muitos moradores choraram ao ouvir o estrondo do novo desabamento.
A queda foi vertical e não atingiu prédios vizinhos, embora eles possam ser afetados por novos desabamentos. Os escombros caíram ao lado das ruínas do desmoronamento do último domingo.
Segundo Maurício Tostes, coordenador de Conservação da Secretaria Municipal de Obras, o novo desabamento foi causado pela quebra de outro pilar no subsolo e pelo deslocamento de outros dois.
Segundo Tostes, também contribuíram o vento e a elevação de temperatura. O calor provocou dilatação de materiais -já frágeis- e ajudou a inclinar o prédio.
Tostes disse que o Palace 2 se inclinou um minuto -o equivalente a 1/60 avos de um grau, unidade de medida de ângulos. O grau tem 60 minutos. "É uma inclinação muito forte, tanto que o prédio caiu", disse Tostes.
Até o final da tarde, o prédio não tinha voltado a "balançar". Tostes afirmou que, com a chegada da noite, a queda na temperatura poderia causar uma reacomodação.
No final da tarde, seis técnicos da empresa contratada para fazer a implosão estavam se preparando para examinar o prédio. Nem a prefeitura nem a empresa, porém, queriam autorizar sua entrada, para não assumir o risco em caso de mais um desabamento e outras mortes.


colaborou Felipe Werneck, da Sucursal do Rio




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