São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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DESABAMENTO
Sersan tentava argumentar que a destruição do prédio não era necessária porque não havia riscos
Novo desabamento acontece durante audiência e Justiça autoriza implosão

Patrícia Santos/Folha Imagem
Vista aérea do prédio que desabou na Barra domingo


da Sucursal do Rio

O juiz da 2ª Vara de Fazenda Pública, Jessé Torres, autorizou ontem à noite a implosão do bloco 2 do condomínio Palace, na Barra da Tijuca, "com a urgência técnica que o caso requer".
Torres presidiu uma audiência de justificação para analisar duas medidas cautelares impetradas anteontem, com pedidos de liminar por parte da prefeitura do Rio e da construtora Sersan. A prefeitura pedia a implosão do prédio e a Sersan era contra.
A audiência começou por volta das 12h, com representantes das duas partes, dentre eles a secretária Municipal de Obras, Ângela Fonti. A Sersan levou à audiência o engenheiro Eules Rocha que elaborou um laudo sustentando que a implosão não é necessária, pois a parte que sobrou do prédio poderia ser escorada.
Quando o diretor da Geo-Rio, Moysés Vibranowskyi, sustentava que pilares da "parte sadia" (como havia chamado Rocha) tinham cedido na madrugada de ontem, recebeu a informação, pela secretária Fonti, que outra parte do prédio acabara de ruir.
O perito levado pela prefeitura, Waldir Mello, disse então, emocionado, ser "absolutamente irresponsável pensar em escorar aquele prédio". Ele disse que, após estudadas as estruturas do prédio, já esperava o desmoronamento que acabou ocorrendo ontem.
Antes de começarem os depoimentos da audiência, o juiz disse que queria deixar claro que iria ouvir Mello não como consultor da prefeitura, mas como um perito de confiança do Judiciário. Ele lembrou que Mello, quando houve um problema estrutural no prédio do Tribunal de Justiça, foi contratado para perícia.
Também emocionado, logo após saber que uma segunda parte do prédio havia desmoronado, Vibranowsky afirmou que a primeira coisa que se tentou foi escorar o bloco 2 do condomínio Palace. "É possível (escorar), mas só se for com um robô, porque não podemos arriscar a vida de pessoas."
Segundo ele, a posição favorável ao escoramento estava sendo defendida "por pessoas que não foram ao local, não conhecem o projeto e não conhecem a situação".
O engenheiro Euler Rocha esteve vistoriando o prédio anteontem. Mesmo após saber que outra parte do prédio havia desabado, Rocha afirmou durante a audiência: "A impressão que temos do prédio como um todo é de estabilidade".
Rocha disse ao juiz que a construtora não havia achado as plantas de fundação do condomínio. Segundo ele, após analisar o térreo e os dois sub-solos do prédio constatou que não havia "trinca representativa" nos pilares.
Ele disse também que a empresa Stub estava disposta a aceitar o serviço de escoramento, pois os riscos seriam aceitáveis. Vibranowsky contestou, afirmando que a Stub havia informado que cederia apenas o material para o escoramento, pois não tinha "equipe de risco" para fazer o trabalho. Quatro moradores do condomínio compareceram à audiência. Eles diziam ser contra a implosão.



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