São Paulo, sábado, 28 de fevereiro de 1998

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TRAGÉDIA
Médica acha que implosão facilitará buscas
"Acho que a minha filha ainda está lá"

da Sucursal do Rio

A médica Bárbara Alencar, 41, se lembra da alegria da filha Luísa, 12, quando ela se despediu para ir passar o Carnaval com o pai. O ex-marido de Bárbara, Milton Martins, morava no edifício Palace 2.
Luísa, Milton, a segunda mulher dele, Rosângela, e o filho do casal, Miltinho, 5, desapareceram nos escombros quando a primeira parte do prédio desabou. Bárbara vai todos os dias para a frente do Palace 2 em busca de notícias da filha.
Bárbara falou à Folha sobre a esperança de rever a filha:

Folha - Por que a senhora ainda vem aqui todos os dias?
Bárbara Alencar -
Eu tenho esperanças de que a Luísa seja encontrada. Ela, o Milton, a Rosângela e o Miltinho.
Folha - A senhora acha que ela está viva?
Bárbara -
Acho que sim. Alguma coisa no meu coração me diz que ela está viva. Penso nela todos os dias, rezo para que ela esteja viva.
Folha - Como foi a sua última conversa com a Luísa?
Bárbara -
Foi uma conversa normal. Ela se despediu de mim, disse: "Tchau, mãe, vou para a escola". E foi. De lá, eu já sabia que ela viria para a casa do pai passar o Carnaval..
Folha - Como é que está a vida da senhora depois disso?
Bárbara -
Eu não estou trabalhando, não estou fazendo nada. Estou tomando calmantes, não voltei para a minha casa. Estou em casa de amigos. São eles que me obrigam a comer e a dormir. Folha - A senhora é a favor da implosão do prédio?
Bárbara -
Sou. Acho que é preciso implodir para que as buscas possam continuar. No primeiro dia, eu consegui chegar perto do apartamento do meu ex-marido e vi que o prédio está todo destruído, todo rachado. É um risco para todas as pessoas que estão aqui perto.
Folha - Mesmo achando que sua filha está viva lá embaixo dos escombros, a senhora é a favor da implosão?
Bárbara -
A implosão é o único jeito de acabar com essa angústia, não só a minha, mas a angústia de todo mundo. Enquanto esse prédio estiver vivo, o medo vai estar aqui, ninguém vai conseguir viver. Acho que a minha filha ainda está lá, acho que ela está viva. Às vezes acho que ela está viva, às vezes não acho, mas sei que, em algum lugar lá embaixo, ela está lá esperando que eu vá buscá-la.



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