|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRAGÉDIA
Médica acha que implosão facilitará buscas
"Acho que a minha filha ainda está lá"
da Sucursal do Rio
A médica Bárbara Alencar, 41,
se lembra da alegria da filha Luísa, 12, quando ela se despediu
para ir passar o Carnaval com o
pai. O ex-marido de Bárbara,
Milton Martins, morava no edifício Palace 2.
Luísa, Milton, a segunda mulher dele, Rosângela, e o filho do
casal, Miltinho, 5, desapareceram nos escombros quando a
primeira parte do prédio desabou. Bárbara vai todos os dias
para a frente do Palace 2 em busca de notícias da filha.
Bárbara falou à Folha sobre a
esperança de rever a filha:
Folha - Por que a senhora ainda
vem aqui todos os dias?
Bárbara Alencar - Eu tenho
esperanças de que a Luísa seja
encontrada. Ela, o Milton, a Rosângela e o Miltinho.
Folha - A senhora acha que ela
está viva?
Bárbara - Acho que sim. Alguma coisa no meu coração me
diz que ela está viva. Penso nela
todos os dias, rezo para que ela
esteja viva.
Folha - Como foi a sua última
conversa com a Luísa?
Bárbara - Foi uma conversa
normal. Ela se despediu de mim,
disse: "Tchau, mãe, vou para a
escola". E foi. De lá, eu já sabia
que ela viria para a casa do pai
passar o Carnaval..
Folha - Como é que está a vida
da senhora depois disso?
Bárbara - Eu não estou trabalhando, não estou fazendo nada.
Estou tomando calmantes, não
voltei para a minha casa. Estou
em casa de amigos. São eles que
me obrigam a comer e a dormir.
Folha - A senhora é a favor da implosão do prédio?
Bárbara - Sou. Acho que é
preciso implodir para que as
buscas possam continuar. No
primeiro dia, eu consegui chegar
perto do apartamento do meu
ex-marido e vi que o prédio está
todo destruído, todo rachado. É
um risco para todas as pessoas
que estão aqui perto.
Folha - Mesmo achando que
sua filha está viva lá embaixo
dos escombros, a senhora é a favor da implosão?
Bárbara - A implosão é o único jeito de acabar com essa angústia, não só a minha, mas a angústia de todo mundo. Enquanto
esse prédio estiver vivo, o medo
vai estar aqui, ninguém vai conseguir viver. Acho que a minha
filha ainda está lá, acho que ela
está viva. Às vezes acho que ela
está viva, às vezes não acho, mas
sei que, em algum lugar lá embaixo, ela está lá esperando que
eu vá buscá-la.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|