São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002

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RETRATO DO BRASIL

Segundo pesquisa, em 2000, 47,1% do volume de resíduos ia para aterros sanitários; em 89, eram só 10,7%

Melhora o destino final de lixo doméstico

Alexandre Belém/Titular
Criança recolhe objetos no lixão de Olinda (PE), onde intermediários pagam até R$ 0,20 pelo quilo de alguns produtos recolhidos


DA REPORTAGEM LOCAL

DA SUCURSAL DO RIO

A destinação final do lixo doméstico no Brasil teve uma grande melhora, segundo a Pesquisa Nacional de Saneamento Básico (PNSB) do IBGE. Em 2000, 47,1% do volume de resíduos gerados no país ia para aterros sanitários, enquanto que, em 1989 a porcentagem era só de 10,7% -o resto era jogado em lixões a céu aberto.
Somando-se o percentual do volume que vai para aterros sanitários àquele que vai para aterros controlados (22,3%), dois terços do lixo deixa de ficar exposto e tem, na avaliação do IBGE, uma destinação "adequada".
"É uma grande surpresa essa melhora. Quase boa demais para ser verdade", afirma Elizabeth Grimberg, pesquisadora da área de resíduos do Instituto Polis e coordenadora-geral do Fórum Lixo e Cidadania da cidade de São Paulo. Para ela, os dados devem ser comemorados, mas também vistos com certa desconfiança.
"As informações são dadas por prefeituras e empresas, que têm, naturalmente, interesse em pintar um quadro melhor do que é na realidade; além disso, não informam sobre lixões clandestinos." Elizabeth questiona também a classificação de aterros controlados como adequados.
A própria Cetesb (agência ambiental do governo paulista), única a realizar um inventário anual de resíduos domiciliares no Brasil, não considera o aterro controlado como uma boa opção.
A diferença entre o aterro controlado e o sanitário é que o último deve ter coleta e tratamento para o chorume (líquido produzido na decomposição do lixo orgânico) e para o gás metano (CH4), gerado pelos resíduos. Já o primeiro pode ser simplesmente um lixão que é coberto periodicamente com terra ou entulho.
Se os produtos da decomposição do lixo não são tratados, podem trazer grandes prejuízos ao ambiente e à saúde humana, contaminando o solo e lençóis de água subterrâneos, aumentando as consequências do efeito estufa e servindo como atrativos para animais que transmitem doenças.
O IBGE atribui a melhora na destinação final do lixo à maior consciência da população; à atuação do Ministério Público na assinatura de Termos de Ajustamento de Conduta com as prefeituras; ao programa Criança no Lixo, Nunca Mais, do Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância); a verbas do governo federal; e ao apoio de governos estaduais.

Crianças
A destinação final correta e a erradicação dos lixões são fundamentais para acabar com o trabalho infantil nesses locais.
Em 1.500 do 5.507 municípios brasileiros, a PNSB verificou a presença de 24.340 catadores em lixões, sendo 22% deles (5.355) menores de 14 anos. Em 2000, as regiões metropolitanas de Recife e São Paulo eram as líderes no percentual de crianças trabalhando em lixões, segundo a pesquisa.
Em dois anos, porém, o quadro pode ter mudado muito, admite o próprio IBGE. "O lixo é uma variável muito mais volúvel que a água ou o esgoto, por isso o quadro mostrado deve ser visto como a fotografia", afirma Lilibeth Cardozo Ferreira, gerente de estudos e pesquisas sociais do instituto.
Apesar de questionar os números absolutos de crianças nos lixões -que estariam subestimados, uma vez que o Unicef estimava no ano passado a existência de cerca de 30 mil crianças nessas condições em todo o Brasil-, a secretária-executiva do Fórum Nacional Lixo e Cidadania, Teia Magalhães, afirma acreditar que as porcentagens divulgadas pelo IBGE, na verdade, já diminuíram.
Isso graças, em grande parte, ao programa Criança no Lixo, Nunca Mais, que apoiou projetos em todo o país e conseguiu, de 99 até meados de 2001, retirar pouco mais de 13 mil crianças dos lixões.
Só na Grande São Paulo, por exemplo, o fechamento do lixão de Carapicuíba (abril de 2001) representou a saída de 105 crianças do trabalho. O fim do lixão do Alvarenga (divisa de São Bernardo do Campo com Diadema), em julho de 2001, acabou com o trabalho no lixo para pelo menos 172 crianças, que hoje estudam e têm atividades extra-classe.
Os dados da PNSB mostrava quem, em 2000, dos 1.132 catadores da região metropolitana, 247 eram menores de 14 anos. (MARIANA VIVEIROS E ANTÔNIO GOIS)

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