São Paulo, quinta-feira, 28 de março de 2002

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ATUALIDADES

George W. Bush e o combate aos países do "eixo do mal"

ROBERTO CANDELORI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Ao se dirigir aos americanos em fevereiro, George W. Bush declarou ser preciso combater os países que compõem o "eixo do mal": Coréia do Norte, Irã e Iraque. A escolha da expressão nos remete à aliança entre Alemanha, Itália e Japão na Segunda Guerra e sinaliza um retrocesso no diálogo entre as nações.
Acusados de investir em armas de grande impacto, esses "países renegados" representam, segundo a Casa Branca, uma ameaça real à estabilidade global. Além da enorme repercussão, as declarações do presidente reafirmam sua disposição em prosseguir na "guerra contra o terror".
Mais do que ajudar, essa política interrompe o processo de aproximação com o regime de Pyongyang, iniciado por Bill Clinton em 2000, quando apoiou o encontro do líder norte-coreano Kim Jong-il com seu vizinho do sul. Compromete o esforço iraniano de aproximação com o Ocidente ao provocar a ira da população.
Bush dificulta a luta dos reformistas alinhados a Mohamed Khatami e fortalece a posição dos conservadores sob a liderança do aiatolá Ali Khamenei, que disse que os EUA representam o verdadeiro "mal". Mesmo os aliados árabes, que concordam que Saddam Hussein representa um perigo, jamais aceitariam a hipótese de os EUA invadirem o Iraque.
Estratégico, Bush pretende vincular o combate ao terrorismo ao projeto de construção de um sistema de defesa antimísseis. A idéia é associar os "países bandidos" aos grupos terroristas organizados. Washington defende que os países fora da lei, além de produzir armas nucleares, biológicas ou químicas, colocariam essas armas à disposição de organizações terroristas. Trata-se de um ardil para captar recursos em nome da segurança.
O fato é que, após 11 de setembro, os EUA se engajaram numa cruzada contra o terror, mobilizando forças no plano interno e definindo uma estratégia de ação internacional. Do Afeganistão à Colômbia, a ordem é combater o terrorismo. Hussein passou a ser o próximo da lista e que se cuidem Muammar Gaddafi, da Líbia, Fidel Castro, de Cuba, e Hugo Chávez, da Venezuela.
George W. Bush parece mais que nunca transformado no grande "xerife" do mundo. Contudo essa atitude unilateral de Washington, assim como a ameaça terrorista, é que coloca em perigo a estabilidade global.


Roberto Candelori é coordenador da Cia de Ética, professor da Escola Móbile e do Objetivo (Americana)

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