São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2005

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ARMADILHA ELÉTRICA

Teste de cabo à prova de furto de energia muda a paisagem de bairro na periferia de São Paulo

Fio "egocêntrico" é nova arma contra "gatos"

FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL

JOÃO WAINER
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO

Um fio ligado a outro e a outro e a outro. Centenas deles emendados de ponta a ponta. Enredados como em uma teia de aranha.
Ao longo de dez anos, qualquer morador do Jardim Pantanal (bairro no extremo leste de São Paulo) que olhasse para o céu veria a rede caótica de fios.
Eram os "gatos", ligações clandestinas que levavam eletricidade dos postes de luz a quase 2.000 casas da região sem cobrança de tarifas de consumo ou de impostos.
"Dava até desgosto de olhar para o céu daqui de tanto fio que tinha", admite o comerciante Genilson Raimundo da Silva, 53.
E foi esse cenário recordista em "gatos" o escolhido para o teste de um novo cabo condutor de energia considerado antifurto (ou antigato), parte do programa de regularização de ligações clandestinas da Eletropaulo.
Trata-se do cabo biconcêntrico, que centraliza, num só fio, os três feixes de eletricidade usados normalmente para levar energia dos postes às casas.
A nova disposição (concêntrica) dos três fios condutores de energia não permite ligações clandestinas e ganhou o apelido dos moradores do Jardim Pantanal de "cabo egocêntrico": não divide sua energia com ninguém.
"Se você tentar descascar os fios, dá um pipoco da gota serena que espirra para todo lado. Resumindo: é impossível fazer gambiarra nele", atesta um morador.
O resultado, por um lado, foi um cenário mais limpo. Porém, contas de luz que nunca haviam chegado para os moradores do bairro agora chegam -e gordas. Em algumas casas, em que a renda per capita não chega aos R$ 80, a conta de luz ultrapassa R$ 100.
Ainda não há previsão de usar o fio em outras áreas da cidade.
Os "gatos", que além de poluir visualmente colocavam a área em constante risco de incêndios provocados por curto-circuitos, proliferaram porque o bairro brotou em uma área de proteção ambiental (APA), onde cabos de energia elétrica e redes de água e esgoto oficiais têm a instalação proibida por lei.
Foi nessa área de preservação que centenas de famílias ergueram suas casas em sistema de mutirão no final dos anos 80.
O resultado foi a multiplicação não só de "gatos", mas de ligações clandestinas de água (os "bicos-d'água"), enchentes -a área fica às margens do rio Tietê- e esgotos a céu aberto.

Novos clientes
O projeto de regularização foi tocado pelo programa de responsabilidade social da Eletropaulo e gerou para a carteira da empresa milhares de novos clientes.
Em dezembro foram desligados 18 postes clandestinos e inaugurada a nova rede. O investimento foi de R$ 1 milhão, e a instalação compreende 350 postes, 42 transformadores, 2.500 medidores, 50 mil metros de cabos e 15 mil metros de condutores.
Como cabe a cada morador/ consumidor o custo da instalação da estrutura que faz a ligação da casa até a rede elétrica e o medidor, muitas famílias continuam sem luz regular.


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