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ARMADILHA ELÉTRICA
Teste de cabo à prova de furto de energia muda a paisagem de bairro na periferia de São Paulo
Fio "egocêntrico" é nova arma contra "gatos"
FERNANDA MENA
DA REPORTAGEM LOCAL
JOÃO WAINER
REPÓRTER-FOTOGRÁFICO
Um fio ligado a outro e a outro e
a outro. Centenas deles emendados de ponta a ponta. Enredados
como em uma teia de aranha.
Ao longo de dez anos, qualquer
morador do Jardim Pantanal
(bairro no extremo leste de São
Paulo) que olhasse para o céu veria a rede caótica de fios.
Eram os "gatos", ligações clandestinas que levavam eletricidade
dos postes de luz a quase 2.000 casas da região sem cobrança de tarifas de consumo ou de impostos.
"Dava até desgosto de olhar para o céu daqui de tanto fio que tinha", admite o comerciante Genilson Raimundo da Silva, 53.
E foi esse cenário recordista em
"gatos" o escolhido para o teste de
um novo cabo condutor de energia considerado antifurto (ou antigato), parte do programa de regularização de ligações clandestinas da Eletropaulo.
Trata-se do cabo biconcêntrico,
que centraliza, num só fio, os três
feixes de eletricidade usados normalmente para levar energia dos
postes às casas.
A nova disposição (concêntrica) dos três fios condutores de
energia não permite ligações clandestinas e ganhou o apelido dos
moradores do Jardim Pantanal de
"cabo egocêntrico": não divide
sua energia com ninguém.
"Se você tentar descascar os fios,
dá um pipoco da gota serena que
espirra para todo lado. Resumindo: é impossível fazer gambiarra
nele", atesta um morador.
O resultado, por um lado, foi
um cenário mais limpo. Porém,
contas de luz que nunca haviam
chegado para os moradores do
bairro agora chegam -e gordas.
Em algumas casas, em que a renda per capita não chega aos R$ 80,
a conta de luz ultrapassa R$ 100.
Ainda não há previsão de usar o
fio em outras áreas da cidade.
Os "gatos", que além de poluir
visualmente colocavam a área em
constante risco de incêndios provocados por curto-circuitos, proliferaram porque o bairro brotou
em uma área de proteção ambiental (APA), onde cabos de
energia elétrica e redes de água e
esgoto oficiais têm a instalação
proibida por lei.
Foi nessa área de preservação
que centenas de famílias ergueram suas casas em sistema de mutirão no final dos anos 80.
O resultado foi a multiplicação
não só de "gatos", mas de ligações
clandestinas de água (os "bicos-d'água"), enchentes -a área fica
às margens do rio Tietê- e esgotos a céu aberto.
Novos clientes
O projeto de regularização foi
tocado pelo programa de responsabilidade social da Eletropaulo e
gerou para a carteira da empresa
milhares de novos clientes.
Em dezembro foram desligados
18 postes clandestinos e inaugurada a nova rede. O investimento foi
de R$ 1 milhão, e a instalação
compreende 350 postes, 42 transformadores, 2.500 medidores, 50
mil metros de cabos e 15 mil metros de condutores.
Como cabe a cada morador/
consumidor o custo da instalação
da estrutura que faz a ligação da
casa até a rede elétrica e o medidor, muitas famílias continuam
sem luz regular.
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