São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2005

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ARMADILHA ELÉTRICA

Depois de mais de dez anos sem pagar pela energia, moradores do Jardim Pantanal tentam conter consumo

Contas de R$ 100 assustam novos clientes

DA REPORTAGEM LOCAL

Se qualquer um que recebe uma conta de luz de R$ 100 leva um susto, imagine a reação dos moradores do Jardim Pantanal, que passaram mais de dez anos sem pagar pela energia elétrica obtida por ligações clandestinas ("gatos"), quando abriram suas faturas a partir de janeiro deste ano.
"Eu quase desmaiei. E olha que o banho lá em casa é regulado", afirma Lurdes Ferreira da Silva, 38, cuja família tem renda per capita de R$ 90.
"A gente estava acostumado a tomar banho rápido porque, se o vizinho ligava o chuveiro ao mesmo tempo que você, caía a energia das duas casas", diz Ronaldo Delfino de Souza, do Mulp (Movimento de Urbanização e Legalização do Pantanal). Para ele, os moradores deveriam ter sido orientados. "A Eletropaulo foi jogando luz nas casas, mas faltou um trabalho de conscientização sobre o consumo de energia", afirmou.
Para driblar as altas contas, o Mulp tem organizado reuniões para estudar o uso de energia solar na comunidade.

Outro lado
A Eletropaulo diz realizar um trabalho de orientação quanto ao desperdício de energia e consumo excessivo. O alto valor das contas pode ser explicado pela estrutura elétrica das casas. "Há perda em cada fio emendado e em cada geladeira que não fecha direito. A precariedade das ligações implica desperdício e gasto extra", diz João Oliveira, diretor de engenharia da Eletropaulo.
Segundo ele, a empresa vai cadastrar os clientes com direito à tarifa social. Eles vão receber um formulário para declarar se preenchem as condições para ter acesso ao benefício: renda familiar per capita de até R$ 100 e consumo mensal de até 220 kWh.
A Eletropaulo vai adotar nova política comercial voltada para as comunidades: as contas dos três primeiros meses após a regularização das redes clandestinas serão emitidas considerando um consumo de até 150 kWh, mesmo para quem ultrapassou o limite.
No caso dos moradores do Jardim Pantanal, que já receberam duas faturas, as contas serão recalculadas com esse limite. Quem pagou mais terá esse crédito nas próximas contas.

Mobilização
A mudança na rede elétrica clandestina teve início há cinco anos, quando o Mulp começou a negociar com a Eletropaulo.
O fato de o bairro estar em área de preservação ambiental era um entrave, só resolvido no ano passado, após a Secretaria de Estado do Meio Ambiente aceitar argumento do Ministério Público Estadual sobre o risco de acidentes fatais representado pelos "gatos".
"Agora faltam a água e o esgoto, que já estamos negociando com a Sabesp", diz Souza. (FM)


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