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ARMADILHA ELÉTRICA
Depois de mais de dez anos sem pagar pela energia, moradores do Jardim Pantanal tentam conter consumo
Contas de R$ 100 assustam novos clientes
DA REPORTAGEM LOCAL
Se qualquer um que recebe uma
conta de luz de R$ 100 leva um
susto, imagine a reação dos moradores do Jardim Pantanal, que
passaram mais de dez anos sem
pagar pela energia elétrica obtida
por ligações clandestinas ("gatos"), quando abriram suas faturas a partir de janeiro deste ano.
"Eu quase desmaiei. E olha que
o banho lá em casa é regulado",
afirma Lurdes Ferreira da Silva,
38, cuja família tem renda per capita de R$ 90.
"A gente estava acostumado a
tomar banho rápido porque, se o
vizinho ligava o chuveiro ao mesmo tempo que você, caía a energia
das duas casas", diz Ronaldo Delfino de Souza, do Mulp (Movimento de Urbanização e Legalização do Pantanal). Para ele, os moradores deveriam ter sido orientados. "A Eletropaulo foi jogando
luz nas casas, mas faltou um trabalho de conscientização sobre o
consumo de energia", afirmou.
Para driblar as altas contas, o
Mulp tem organizado reuniões
para estudar o uso de energia solar na comunidade.
Outro lado
A Eletropaulo diz realizar um
trabalho de orientação quanto ao
desperdício de energia e consumo
excessivo. O alto valor das contas
pode ser explicado pela estrutura
elétrica das casas. "Há perda em
cada fio emendado e em cada geladeira que não fecha direito. A
precariedade das ligações implica
desperdício e gasto extra", diz
João Oliveira, diretor de engenharia da Eletropaulo.
Segundo ele, a empresa vai cadastrar os clientes com direito à
tarifa social. Eles vão receber um
formulário para declarar se
preenchem as condições para ter
acesso ao benefício: renda familiar per capita de até R$ 100 e consumo mensal de até 220 kWh.
A Eletropaulo vai adotar nova
política comercial voltada para as
comunidades: as contas dos três
primeiros meses após a regularização das redes clandestinas serão emitidas considerando um
consumo de até 150 kWh, mesmo
para quem ultrapassou o limite.
No caso dos moradores do Jardim Pantanal, que já receberam
duas faturas, as contas serão recalculadas com esse limite. Quem
pagou mais terá esse crédito nas
próximas contas.
Mobilização
A mudança na rede elétrica
clandestina teve início há cinco
anos, quando o Mulp começou a
negociar com a Eletropaulo.
O fato de o bairro estar em área
de preservação ambiental era um
entrave, só resolvido no ano passado, após a Secretaria de Estado
do Meio Ambiente aceitar argumento do Ministério Público Estadual sobre o risco de acidentes
fatais representado pelos "gatos".
"Agora faltam a água e o esgoto,
que já estamos negociando com a
Sabesp", diz Souza.
(FM)
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