São Paulo, sexta, 28 de março de 1997.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DIREITOS HUMANOS
Deputados e membros de entidades visitaram Penitenciária do Estado após denúncia de maus-tratos
Hospital abandona presos, diz comissão

FABIO SCHIVARTCHE
da Reportagem Local

Deficientes físicos com fraturas expostas e feridas infectadas, sem remédios ou assistência médica e vivendo em minúsculas celas -``um lugar frio, úmido e onde nunca bate sol''.
Essa é a realidade do hospital auxiliar da Penitenciária do Estado de São Paulo (zona norte da cidade), segundo relato de um grupo de deputados especializados em direitos humanos que visitaram as dependências do presídio, na manhã de ontem.
A inspeção foi planejada após denúncias de abandono dos 51 presos que vivem no hospital auxiliar. Eles encaminharam carta à pastoral carcerária, na qual descrevem os maus-tratos recebidos.
O documento diz que os presos -sendo 3 tetraplégicos (que não movimentam braços nem pernas) e 35 paraplégicos (que não movimentam os membros inferiores)- vivem entre ratos e baratas, não recebem material para higiene nem assistência judiciária.
Também informa que já ocorreram óbitos por omissão de socorro e que, na falta de médicos, os próprios presos fazem o atendimento de emergência e de enfermagem.
``Há muitos detentos que já cumpriram a maior parte da pena e poderiam gozar de benefícios previstos na legislação, mas continuam lá'', disse o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa de São Paulo, deputado Renato Simões (PT).
Segundo ele, há presos com o mesmo dreno (aparelho acoplado ao pênis para facilitar a urinação) há mais de três meses. ``É o total abandono. Vou acionar o Ministério Público e a corregedoria.''
Também participaram da blitz o deputado estadual Wagner Lino (PT), o deputado federal Hélio Bicudo (PT-SP), membro da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal, e integrantes da Comissão de Direitos Humanos Teotônio Vilela.
Bicudo, que vai elaborar um relatório sobre a visita e apresentá-lo ao governador de São Paulo, Mário Covas, diz que só havia duas duchas para os 51 presos.
``Nem fisioterapia eles recebem. Vi um preso em posição fetal (com pernas dobradas e encolhidas junto ao tronco) que não conseguia esticar as pernas de tão atrofiadas que estavam. Outros, que eram capazes mas, devido às condições a que são submetidos, não conseguem mais movimentar a cabeça.''

Outro lado
O diretor da Penitenciária do Estado, Niceto Fernandes Lopes, diz que ``90% das denúncias não procedem''. ``Alguma coisa pode até ser verdade, pois todo mundo tem falhas'', afirma Lopes.
O secretário estadual da Administração Penitenciária, João Benedicto Marques, não respondeu aos telefonemas da reportagem.

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice


Copyright 1997 Empresa Folha da Manhã