São Paulo, Domingo, 28 de Março de 1999
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NEPOTISMO
São 42 funcionários que têm algum tipo de parentesco com 23 dos 55 parlamentares
40% dos vereadores contratam parentes na Câmara Municipal

LUCIO VAZ
em São Paulo

A Câmara Municipal de São Paulo contratou pelo menos 42 parentes de vereadores para os seus gabinetes nesta legislatura.
O nepotismo é praticado por 23 vereadores (40% do total de 55) e vai do PPB ao PT.
O nepotismo, que significa favorecer parentes, transformou a Câmara em uma grande família, onde são abrigados filhos, irmãos, mulheres, companheiras, cunhados, sobrinhos, tio, primo, genro, nora, neto e até sogro da filha.
Cada vereador pode gastar até R$ 93 mil com a contratação de um total de 21 funcionários. Para a mesma despesa, os deputados federais contam com R$ 20 mil.
Seis vereadores entregaram a parentes o cargo de maior salário (chefe de gabinete, R$ 7.526).
O presidente da Câmara, Armando Mellão (sem partido), disse que é "pessoalmente" contra a contratação de parentes.
"Isso aqui é público, quem paga é o povo", afirmou. Mellão afirmou que o nepotismo acontece por dois motivos básicos.
A Câmara de São Paulo está sob investigação. A polícia e o Ministério Público apuram a ligação de vereadores com a má fia da propina, rede de corrupção que age na administração municipal.
O campeão do nepotismo é o vereador Enéas Soares (Prona), com cinco parentes.
Ele contratou dois filhos, dois irmãos e um genro. Mas já exonerou o genro, Carlos Calado, e o filho Luciano.
Enéas também tem problemas para administrar seu "staff". Ele é investigado por uma sindicância sobre denúncias de que ele pegava de volta parte dos salários dos funcionários do gabinete.
Faria Lima (sem partido) teve quatro parentes (a mulher, um irmão e dois cunhados) no seu gabinete. A mulher, Márcia, e o cunhado Marcos Bedinelli estavam cedidos ao gabinete pela administração municipal.
Foram exonerados da Prefeitura e da Câmara depois que o vereador deixou o PPB.
Para fugir às críticas pela prática de nepotismo, alguns vereadores colocam os seus parentes em gabinetes de outros colegas.
O vereador Toninho Paiva (PFL), por exemplo, colocou o filho Humberto no gabinete de Miguel Colasuonno (PPB).
Paiva disse à Folha que fez a troca com uma afilhada de Colasuonno, Cristiani Ciopo de Mello.
"Foi uma maneira que encontramos para não falarem que era nepotismo. Mas eu tinha certeza de que um dia viria à tona", disse.
Colasuonno afirmou que Cristiani é filha de um antigo amigo. Ele admitiu que fez a troca: "É uma questão de companheirismo. Foi feita uma espécie de troca".
Paiva colocou ainda o sobrinho Fabiano no próprio gabinete. "Ele perdeu o pai quando estava na barriga da mãe. Há um ano perdeu a mãe. Ficou sem pai nem mãe. Se eu posso dar um emprego para um sobrinho órfão, e não faço, eu sou um canalha".
Colasuonno empregou a filha Maria Cláudia no seu gabinete. "Não gosto disso. Fui prefeito (de 1973 a 1976) e não contratei parente. Mas ela se formou como jornalista, e um assessor falou: "Deixa de ser bobo. Aproveita". Ela trabalha comigo."

Exoneração
Pelo menos dois vereadores exoneraram parentes depois que foram procurados pela reportagem da Folha. Myriam Athiê (PPB) foi procurada na quarta-feira. A irmã Márcia e o primo Roberto Bhichara estavam contratados.
Na quinta-feira, o "Diário Oficial" do Município publicou a exoneração dos dois.
O vereador Rubens Calvo (PSB) foi questionado na quarta-feira sobre a contratação da mulher, Diva, do sogro, Luiz Spagnuolo, e do cunhado Vicente Luiz Spagnuolo.
Na sexta-feira, a sua assessoria afirmou que Diva será exonerada.
Paulo Taba trabalhava no gabinete do irmão e vereador Jorge Taba (sem partido).
Deixou o cargo para concorrer a deputado estadual no ano passado. Perdeu a eleição e o emprego.
Teresa Santos, nora do 1º secretário da Câmara, Devanir Ribeiro (PT), contratada pelo gabinete de Arselino Tatto (PT), trabalha na liderança do PT.
Marcos, filho de Ribeiro e marido de Teresa, presta serviços eventuais à liderança do partido, mas foi contratado pelo gabinete do deputado estadual José Zico Prado (PT), onde trabalha.


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