São Paulo, Domingo, 28 de Março de 1999
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NEPOTISMO
Parlamentares resolveram demitir familiares ao tomar conhecimento da reportagem
Vereador do Prona é campeão com cinco parentes na Câmara

em São Paulo

O campeão do nepotismo é o vereador Enéas Soares (Prona), com cinco parentes. Ele contratou dois filhos, dois irmãos e um genro. Mas já exonerou o genro, Carlos Calado, e o filho Luciano.
Enéas também tem problemas para administrar seu "staff". Ele é investigado por uma sindicância sobre denúncias de que ele pegava de volta parte dos salários dos funcionários do gabinete.
Faria Lima (sem partido) teve quatro parentes, a mulher, um irmão e dois cunhados no seu gabinete. A mulher, Márcia, e o cunhado Marcos Bedinelli estavam cedidos ao gabinete pela administração municipal. Foram exonerados da prefeitura e da Câmara depois que o vereador deixou o PPB.
O presidente da Câmara, Armando Mellão (sem partido), disse à Folha que o nepotismo deveria ser evitado, embora não seja uma prática ilegal: "Se pudessem evitar, seria de melhor tom. Isso aqui é público, quem paga é o povo".
Melão afirmou que o nepotismo acontece por dois motivos básicos. "Tem alguns que fazem para favorecer a família. Outros contratam parentes porque não contam com assessores de confiança."
Para fugir às críticas pela prática de nepotismo, alguns vereadores colocam os seus parentes em gabinetes de outros colegas. Toninho Paiva (PFL), por exemplo, colocou o filho Humberto no gabinete de Miguel Colasuonno (PPB).
Paiva disse à Folha que fez a troca com uma afilhada de Colasuonno, Cristiani Ciopo de Mello. "Foi uma maneira que encontramos para não falarem que era nepotismo. Mas eu tinha certeza de que um dia viria à tona", disse.
Colasuonno afirmou que Cristiani é filha de um antigo amigo. Ele admitiu que fez a troca: "É uma questão de companheirismo. Foi feita uma espécie de troca".
Paiva colocou ainda o sobrinho Fabiano no próprio gabinete. "Ele perdeu o pai quando estava na barriga da mãe. Há um ano perdeu a mãe. Ficou sem pai nem mãe. Se eu posso dar um emprego para um sobrinho órfão, e não faço, eu sou um canalha."
Colasuonno empregou a filha Maria Cláudia no seu gabinete. "Não gosto disso. Fui prefeito (de 1973 a 1976) e não contratei parente. Mas ela se formou como jornalista, e um assessor falou: "Deixa de ser bobo. Aproveita". Ela trabalha comigo."
Pelo menos dois vereadores exoneraram parentes depois que foram procurados pela reportagem da Folha. Myriam Athiê (PPB) foi procurada na quarta-feira. A irmã Márcia e o primo Roberto Bhichara estavam contratados.
Na quinta-feira, o "Diário Oficial" do Município publicou a exoneração dos dois. No dia seguinte, o DO publicou a exoneração de Luciano Enéas Nantes Soares, filho do vereador Enéas Soares.
O vereador Rubens Calvo (PSB) foi questionado na quarta-feira sobre a contratação da mulher, Diva, do sogro, Luiz Spagnuolo, e do cunhado Vicente Luiz Spagnuolo. Na sexta-feira, a sua assessoria afirmou que Diva será exonerada.
Paulo Taba trabalhava no gabinete do irmão e vereador Jorge Taba (sem partido). Deixou o cargo para concorrer a deputado estadual no ano passado. Perdeu a eleição e o emprego.
Teresa Santos, nora do 1º secretário da Câmara, Devanir Ribeiro (PT), contratada pelo gabinete de Arselino Tatto (PT), trabalha na liderança do PT.
Marcos, filho de Ribeiro e marido de Teresa, presta serviços eventuais à liderança do partido, mas foi contratado pelo gabinete do deputado estadual José Zico Prado (PT), onde trabalha. (LUCIO VAZ)



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