|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VIOLÊNCIA
Um dos garotos morreu na hora; motorista recebeu 3 tiros, facadas e pauladas por volta da 0h de ontem na zona sul de SP
Homem é linchado após atropelar 2 crianças
GILMAR PENTEADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de assistir a vários atropelamentos de crianças na mesma rua, moradores do Parque
Grajaú (zona sul de SP) viraram
justiceiros e lincharam um motorista. Ele foi morto ontem com
três tiros, facadas e pauladas depois de atropelar duas crianças e
tentar fugir. Uma delas morreu
no local e outra está hospitalizada.
O incidente reúne imprudência,
revolta e covardia. Todos os personagens são moradores do local,
se conhecem e não têm passagem
pela polícia. Gilmar Alves de
Araújo, 27, estava em uma festa
em um bar da rua José Carlos
Heffner quando foi surpreendido
por sua mulher, grávida de quatro
meses, com outra moça.
Durante a discussão, Araújo colocou sua mulher no carro e saiu
com o veículo de ré, em alta velocidade, segundo testemunhas.
"As portas do carro estavam abertas quando ele foi para cima da
calçada", disse a auxiliar de enfermagem Maria Lopes, 48, que testemunhou o acidente, ocorrido
por volta da 0h de ontem, e ajudou a socorrer as vítimas.
Sentados na calçada, comendo
o bolo de aniversário de uma festa
infantil realizada na casa em frente, estavam Cristian Mateus dos
Santos, 7, e Alef José Bruno Pereira dos Santos, 9. Cristian dos Santos morreu na hora. Alef dos Santos permanecia ontem internado
na UTI (Unidade de Tratamento
Intensivo) do Hospital Vidas.
O motorista tentou fugir, mas
foi perseguido por moradores. Segundo testemunhas, a mulher de
Araújo tentou impedir que o marido fosse linchado, mas moradores disseram para ela não se intrometer. Afirmaram que seria poupada porque estava grávida.
Uma moradora disse que o motorista foi perseguido por um grupo de homens. Segundo ela,
Araújo caía, levantava e tentava
correr, mas era novamente agredido pelos moradores.
Ele foi encontrado pela Polícia
Militar a um quilômetro do local
do acidente. Morreu no pronto-socorro. Um grupo de pessoas
ainda tentou invadir o necrotério
para queimar o corpo, mas foi
contido pelos policiais. Os PMs
afirmaram, no boletim de ocorrência, que não conseguiram
identificar os agressores.
"Todos erraram [o motorista e
os linchados]. A tragédia revoltou
a todos, mas não se faz justiça assim", disse Maria Lopes.
Segundo moradores, a revolta
pode ser explicada por vários
atropelamentos de criança na
mesma rua. Foram pelo menos
quatro, sem morte, desde o começo do ano. "Os carros passam em
alta velocidade, como se fosse
uma avenida", disse Maria Lopes.
Araújo era um desses motoristas. As calçadas irregulares, obrigando a população a andar na
rua, também aumentam o risco.
Os próprios moradores construíram seis lombadas improvisadas na rua. Elas foram retiradas
por funcionários da CET (Companhia de Engenharia de Trânsito) no ano passado. Segundo uma
moradora, a CET negou pedido
de construção de lombada afirmando que não havia fluxo de
veículos suficiente.
Texto Anterior: Miss não tem o direito a ter individualidade Próximo Texto: Skol Beats: 19 são detidos em festival de música em SP Índice
|