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TRANSPORTE
José Carlos de Sena, que está internado em SP, diz que valores se referem a "empréstimos"
Sindicalista recebeu quase R$ 1 mi
ALENCAR IZIDORO
CHICO DE GOIS
DA REPORTAGEM LOCAL
O presidente do sindicato dos
trabalhadores de transporte de
cargas secas e molhadas de São
Paulo e Itapecerica da Serra, José
Carlos de Sena, 55, é investigado
desde janeiro pela polícia paulista
em razão do depósito de mais de
dez cheques da entidade em suas
contas bancárias, totalizando valores que beiram R$ 1 milhão.
Sena, que prestou depoimento
formal no dia 15 deste mês à 1ª Delegacia de Polícia de Investigações
sobre Infrações contra Organização Sindical e Acidentes de Trabalho, admitiu ao delegado Claudio
Rosin a maioria dos valores transferidos a ele, conforme indicam os
cheques anexados no inquérito
005/03, mas os atribuiu a "empréstimos" que recebeu do sindicato e que já teriam sido quitados.
O delegado Rosin pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal do
sindicalista para verificar se as
quantias realmente voltaram à
entidade que representa os trabalhadores de transporte de cargas.
Sena teve sua prisão temporária
decretada na última sexta sob a
acusação de planejar a morte de
um sindicalista em Guarulhos
(Grande São Paulo), junto com
Edivaldo Santiago, líder dos motoristas e cobradores na capital
paulista. Os dois são diretores da
Federação dos Trabalhadores em
Transportes Rodoviários de São
Paulo, mas foram afastados temporariamente na última semana.
Conforme revelou a Folha ontem, ele também depositou R$ 30
mil, em agosto de 1997, na conta
do filho de um juiz do TRT (Tribunal Regional do Trabalho).
Somente quatro dos "empréstimos" que Sena, na direção do sindicato dos trabalhadores, teria feito a ele mesmo atingem R$ 810
mil. O de maior valor -R$ 260
mil- foi feito no dia 24 de setembro de 1999 para que ele comprasse um apartamento na Vila Mariana (zona sul de SP). O sindicalista disse à polícia que a transação já está liquidada -ele teria
dado ao sindicato, em troca do
"empréstimo", uma chácara em
Ibiúna (a 64 km de SP).
No dia 27 de fevereiro de 1998,
ele teve R$ 200 mil depositados
em sua conta por parte do sindicato. Em seguida, também recebeu "empréstimos" de R$ 140 mil
e de R$ 210 mil. Os valores foram
devolvidos à entidade, segundo
Sena, que não detalhou, entretanto, as datas nem se houve cobrança de juros e correção monetária.
O advogado Valter Uzzo, da
OAB-SP, diz que Sena poderia ser
acusado de apropriação indébita
e até estelionato. "Não é função
do sindicato promover empréstimos", disse Uzzo, acrescentando
que, mesmo se houvesse a aprovação da diretoria do sindicato,
seria "uma conduta antiética".
O inquérito que investiga Sena
por malversação de fundos sindicais foi aberto após denúncias de
Ebenezer Carvalho de Oliveira,
que foi diretor da entidade de 1991
a 1999 e que hoje se diz ameaçado
de morte. Ele apresentou à polícia
uma série de cheques e recibos,
com autenticações em cartório.
Pelas informações iniciais colhidas pelo delegado Rosin, as propriedades de Sena totalizariam
um patrimônio próximo de R$
3,5 milhões. Em seu depoimento,
o sindicalista confirmou só um
apartamento na Vila Mariana e
uma fazenda de R$ 900 mil.
Sena alegou que conseguiu seus
bens porque sempre teve dois ou
três empregos. Trabalhou como
motorista e mecânico na CMTC e,
por 16 anos, também foi juiz classista. Ajudou a fundar, em 1989, o
sindicato que preside até hoje.
Localizado
Sena foi localizado ontem no
Hospital do Coração em São Paulo, onde está internado desde anteontem por conta de uma angina
instável, provocada por insuficiência cardíaca aguda. Ele deve
deixar o local em dois dias e se entregar à polícia.
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