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São Paulo, quarta-feira, 28 de maio de 2003

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TRANSPORTE

José Carlos de Sena, que está internado em SP, diz que valores se referem a "empréstimos"

Sindicalista recebeu quase R$ 1 mi

ALENCAR IZIDORO
CHICO DE GOIS

DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do sindicato dos trabalhadores de transporte de cargas secas e molhadas de São Paulo e Itapecerica da Serra, José Carlos de Sena, 55, é investigado desde janeiro pela polícia paulista em razão do depósito de mais de dez cheques da entidade em suas contas bancárias, totalizando valores que beiram R$ 1 milhão.
Sena, que prestou depoimento formal no dia 15 deste mês à 1ª Delegacia de Polícia de Investigações sobre Infrações contra Organização Sindical e Acidentes de Trabalho, admitiu ao delegado Claudio Rosin a maioria dos valores transferidos a ele, conforme indicam os cheques anexados no inquérito 005/03, mas os atribuiu a "empréstimos" que recebeu do sindicato e que já teriam sido quitados.
O delegado Rosin pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal do sindicalista para verificar se as quantias realmente voltaram à entidade que representa os trabalhadores de transporte de cargas.
Sena teve sua prisão temporária decretada na última sexta sob a acusação de planejar a morte de um sindicalista em Guarulhos (Grande São Paulo), junto com Edivaldo Santiago, líder dos motoristas e cobradores na capital paulista. Os dois são diretores da Federação dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários de São Paulo, mas foram afastados temporariamente na última semana.
Conforme revelou a Folha ontem, ele também depositou R$ 30 mil, em agosto de 1997, na conta do filho de um juiz do TRT (Tribunal Regional do Trabalho).
Somente quatro dos "empréstimos" que Sena, na direção do sindicato dos trabalhadores, teria feito a ele mesmo atingem R$ 810 mil. O de maior valor -R$ 260 mil- foi feito no dia 24 de setembro de 1999 para que ele comprasse um apartamento na Vila Mariana (zona sul de SP). O sindicalista disse à polícia que a transação já está liquidada -ele teria dado ao sindicato, em troca do "empréstimo", uma chácara em Ibiúna (a 64 km de SP).
No dia 27 de fevereiro de 1998, ele teve R$ 200 mil depositados em sua conta por parte do sindicato. Em seguida, também recebeu "empréstimos" de R$ 140 mil e de R$ 210 mil. Os valores foram devolvidos à entidade, segundo Sena, que não detalhou, entretanto, as datas nem se houve cobrança de juros e correção monetária.
O advogado Valter Uzzo, da OAB-SP, diz que Sena poderia ser acusado de apropriação indébita e até estelionato. "Não é função do sindicato promover empréstimos", disse Uzzo, acrescentando que, mesmo se houvesse a aprovação da diretoria do sindicato, seria "uma conduta antiética".
O inquérito que investiga Sena por malversação de fundos sindicais foi aberto após denúncias de Ebenezer Carvalho de Oliveira, que foi diretor da entidade de 1991 a 1999 e que hoje se diz ameaçado de morte. Ele apresentou à polícia uma série de cheques e recibos, com autenticações em cartório.
Pelas informações iniciais colhidas pelo delegado Rosin, as propriedades de Sena totalizariam um patrimônio próximo de R$ 3,5 milhões. Em seu depoimento, o sindicalista confirmou só um apartamento na Vila Mariana e uma fazenda de R$ 900 mil.
Sena alegou que conseguiu seus bens porque sempre teve dois ou três empregos. Trabalhou como motorista e mecânico na CMTC e, por 16 anos, também foi juiz classista. Ajudou a fundar, em 1989, o sindicato que preside até hoje.

Localizado
Sena foi localizado ontem no Hospital do Coração em São Paulo, onde está internado desde anteontem por conta de uma angina instável, provocada por insuficiência cardíaca aguda. Ele deve deixar o local em dois dias e se entregar à polícia.


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