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Para psiquiatra, famílias buscam "útero protegido"
DA REPORTAGEM LOCAL
"Onde mais eu poderia deixar minha filha de seis anos andar livremente de bicicleta pelas ruas?" Segurança e qualidade de vida -principalmente para os filhos- são as características mais citadas por moradores de condomínios para justificar sua escolha habitacional.
Segundo o psiquiatra José
Thomé, membro da Associação
Mundial de Psiquiatria, as famílias que vão para os condomínios fechados "acreditam
que, isolando-se e fechando-se
ao mundo, conseguem se proteger das ameaças das drogas e
dos assaltos. Só que isso é apenas tentativa de regressão para
o grande útero protegido que só
existe em sonhos".
"As crianças criadas nesses
sistemas fechados e uniformizados tendem a desenvolver
uma atitude de donas do mundo, onipotentes. Que chance a
gente dá a elas de aprender sobre a diferença, sobre direitos e
deveres?", pergunta Thomé.
Segundo Alexandre Saadeh,
psiquiatra do Hospital das Clínicas e professor da Pontifícia
Universidade Católica, o destino dos meninos criados em
condomínios fechados não está
tão determinado assim.
"Depende do perfil do pai. Se
ele insiste em manter a criança
dentro de uma bolha (de casa
para o carro com motorista, então clube, academia, viagem para a Disney), será uma coisa",
diz o psiquiatra. "Mas se o pai
promove a vivência do filho
com o diferente, leva-o ao jogo
de futebol, mostra-lhe o centro
da cidade, participa de atividades comunitárias, então, por
que já predeterminar o filho como onipotente?"
A psicanalista Magdalena
Ramos, coordenadora do Núcleo de Casal e Família da PUC-SP, propõe uma reflexão: "Será
que existe mesmo o lugar perfeitamente seguro? Ou somos
nós que inventamos que ele
existe para sobreviver à angústia de nos sentirmos tão desprotegidos e expostos?"
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