São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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Para psiquiatra, famílias buscam "útero protegido"

DA REPORTAGEM LOCAL

"Onde mais eu poderia deixar minha filha de seis anos andar livremente de bicicleta pelas ruas?" Segurança e qualidade de vida -principalmente para os filhos- são as características mais citadas por moradores de condomínios para justificar sua escolha habitacional.
Segundo o psiquiatra José Thomé, membro da Associação Mundial de Psiquiatria, as famílias que vão para os condomínios fechados "acreditam que, isolando-se e fechando-se ao mundo, conseguem se proteger das ameaças das drogas e dos assaltos. Só que isso é apenas tentativa de regressão para o grande útero protegido que só existe em sonhos".
"As crianças criadas nesses sistemas fechados e uniformizados tendem a desenvolver uma atitude de donas do mundo, onipotentes. Que chance a gente dá a elas de aprender sobre a diferença, sobre direitos e deveres?", pergunta Thomé.
Segundo Alexandre Saadeh, psiquiatra do Hospital das Clínicas e professor da Pontifícia Universidade Católica, o destino dos meninos criados em condomínios fechados não está tão determinado assim.
"Depende do perfil do pai. Se ele insiste em manter a criança dentro de uma bolha (de casa para o carro com motorista, então clube, academia, viagem para a Disney), será uma coisa", diz o psiquiatra. "Mas se o pai promove a vivência do filho com o diferente, leva-o ao jogo de futebol, mostra-lhe o centro da cidade, participa de atividades comunitárias, então, por que já predeterminar o filho como onipotente?"
A psicanalista Magdalena Ramos, coordenadora do Núcleo de Casal e Família da PUC-SP, propõe uma reflexão: "Será que existe mesmo o lugar perfeitamente seguro? Ou somos nós que inventamos que ele existe para sobreviver à angústia de nos sentirmos tão desprotegidos e expostos?"


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