São Paulo, quinta-feira, 28 de maio de 2009

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Alerta em maço afeta fumante, diz pesquisa

Estudo aponta que, ao ver avisos, 39% já desistiram de consumir ao menos um cigarro e 48% ficaram mais propensos a largar vício

Ministério da Saúde adota imagens mais chocantes e planeja mudar lei para estampá-las na frente do maço, e não no verso


FÁBIO GRELLET
DA SUCURSAL DO RIO

Ao ver fotos e mensagens estampadas nos maços, 39% dos fumantes já desistiram de consumir ao menos um cigarro, nos últimos 30 dias. Essa é uma das conclusões de uma pesquisa do Inca (Instituto Nacional do Câncer) nas cidades de São Paulo, Rio e Porto Alegre para avaliar o efeito das advertências, obrigatórias desde 2002.
Segundo o levantamento, os alertas causaram reflexão sobre os males do fumo em 61,6% dos fumantes, e 48,2% ficaram mais propensos a largar o vício.
Para tentar ampliar a aversão ao fumo, o Ministério da Saúde está substituindo as mensagens nos maços por outras dez com imagens mais chocantes -entre elas, de bebê prematuro morto e de vítima de gangrena.
Cigarros produzidos desde 5 de maio já contêm as novas advertências e, a partir de 5 de agosto, nenhum maço à venda pode conter as imagens antigas.
"Enquanto a indústria [de cigarros] usa imagens bonitas, a gente adota imagens agressivas, para ressaltar o efeito nocivo do cigarro", diz Luiz Antonio Santini, diretor-geral do Inca.
Os alertas também terão uma palavra em destaque para evidenciar os males do fumo, como "horror". Esse é o terceiro conjunto de advertências -o primeiro, e mais ameno, circulou de 2002 a 2004.
O Inca também tentará mudar a legislação, para exigir que as advertências sejam estampadas na frente dos maços, e não apenas no verso -pelo levantamento, só 50% dos fumantes notam com frequência os alertas. Para isso, é preciso mudar norma da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).
O estudo do Inca em parceria com a Universidade de Waterloo, no Canadá, avalia pela primeira vez os efeitos dos alertas. Segundo o instituto, o Brasil tem 27 milhões de fumantes -no mundo há 1,3 bilhão.
A pesquisa, em andamento, pretende ouvir 1.800 pessoas em São Paulo, Rio e Porto Alegre -400 fumantes e 200 não fumantes em cada cidade.
Por enquanto, 717 pessoas foram consultadas, e o resultado parcial foi divulgado como parte dos eventos do Dia Mundial sem Tabaco, em 31 de maio.
O estudo indica que a grande maioria conhece os malefícios do fumo -é grande o número de fumantes que sabe que ele causa câncer de pulmão (96%), doença cardíaca (95%) ou impotência (81,9%).

Países
Pesquisa semelhante já foi feita, sob coordenação da mesma universidade canadense, em outros 16 países. O Brasil é o segundo com maior número de fumantes que, influenciados pelos alertas, desistiram de fumar um cigarro -só perde para a Tailândia, onde o índice chega a 60%. Mas é só o 11º com mais fumantes que notam os alertas.
Em outros países, os avisos aparecem na frente dos maços.
"O Brasil é o país mais conhecido do mundo pelas advertências nos maços", afirmou Geoffrey Fong, professor da Universidade de Waterloo e coordenador da pesquisa internacional. "Mas os efeitos seriam ainda melhores se as imagens estivessem na frente dos maços."
Procurada, a fabricante de cigarros Philip Morris não quis se manifestar.
A Souza Cruz, por meio de nota, afirmou que "as advertências estão cumprindo integralmente seu papel em informar a população sobre os riscos dos produtos de tabaco". A empresa disse reconhecer "a importância do papel do governo na condução de políticas públicas de saúde e apoia medidas equilibradas que visem atender a todas as partes envolvidas".


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